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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Identidade

Quem sou eu?

Até que ponto minhas idéias são minhas? Meus medos são meus? Meus gostos e desgostos são meus?

Quanto daquilo que sou hoje floresceu de dentro para fora por pré-disposição biológica ou herança genética? E quanto foi absorvido pelo mundo exterior?

Seria minha pele a linha que divide o "eu" do "outro"? Ou sera que minha identidade vai mais além, perpassando meus amigos, minha família e aquelas que amei? O que me define como pessoa?

Será que sou uma cópia de meus progenitores, apenas com algumas adaptações trazidas com os tempos modernos?

Ou sou um produto original de um meio único e experiências únicas?

Porque será que muitas vezes me enxergo como sendo tão distinto daqueles que cresceram ao meu lado? Nosso meio não deveria nos ter moldado da mesma maneira? Será que as pequenas divergências de criação fizeram tanta diferença assim? Ou será que há alguma coisa impressa nos nossos genes que nos torna diferentes?

Por que será que por vezes me pego me definindo não por aquilo que sou, mas por aquilo que não sou? Aliás, definir-me não como possuidor de certas qualidades mas como uma pessoa a quem faltam outras já não é um sinal de quem sou eu?

Sei o que me move, sei o que me alimenta, o que me faz levantar todos os dias e querer viver. Sei o que alimenta meus sonhos e me dá forças em horas de dificuldade, já conheço os ganchos onde penduro minhas esperanças e também meus medos. Sei quais os tipos de pensamentos que me fazem sorrir olhando para o nada que me inspiram a escrever textos e fazer desenhos. Muitas vezes me defino a partir do meu combustível, mas será que isso é tudo que sou?

Será que aqueles que me criaram são os melhores habilitados para responder essa pergunta?
Ou será que só um especialista em psicologia poderia, seguindo uma certa metologia, fazer testes e análises que revelariam a resposta? Será essa pergunta respondida por uma pessoa que me ame, ou por mim mesmo?

Aliás, será que essa pergunta tem resposta?

E se tem ou não...

...isso realmente importa?


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Solução



Nunca fui muito fã de vitimização, não só porque ela foi muito onipresente na minha adolescência, mas também porque sempre achei que o papel de vítima tira muito do poder que a pessoa tem sobre si mesma.

Eu costumava ouvir da minha mãe: "Decepção é culpa do decepcionado, foi ele que esperou demais de quem podia dar pouco." E sempre tratei isso como verdade. Não sei como a maioria das pessoas é em relação á isso mas tento sempre ver qual foi a minha parte nas disfunções sociais que por vezes afetam meu relacionamento com as pessoas. Sempre me perguntava a mesma pergunta: "o que foi que eu fiz de errado?" Antes de me ver como vítima dos erros alheios.

Mas flexibilidade, solicitude e compreensão, quando cultivados apenas para auto-aperfeiçoamento são facas de dois gumes, pois podem acabar sobrecarregando a pessoa. Mas então eu percebi que talvez estivesse cultivando as virtudes certas pelas razões erradas, e perecbi isso no dia em que estava conversando com um homem muito sábio, ele, descrevendo situações que vivera há anos atrás, me repetiu um conselho que mudara sua vida: "As pessoas não querem problemas, querem solução."

Uma frase tão simples, porém tão poderosa. Percebi que enxergar as coisas desse jeito não só acrescentava uma certa positividade á minha pessoa como também iria mudar a maneira como eu vejo meus próprios problemas. Hora, se eu fosse aquele que aumenta o nível de energia das pessoas, aquele que é facilmente animado e que fala de coisas boas, divertidas e engraçadas, a tandência seria receber isso de volta das pessoas, isso é muito mais eficiente do que simplesmente sofrer em silêncio tentando sempre carregar o máximo de peso alheio para evitar desentendimentos.

As pessoas não querem problemas, querem solução.

Tente não ser aquele que diz: não tô afim. Tente não ser aquele que diminui o nível de energia do grupo, tente não ser aquela pessoa que afunda outras em relacionamentos, tente não atrasar ninguém, tente não ser um peso para ninguém. As pessoas não gostam de fardos, elas já tem problemas suficientes na vida delas.

Faça de tudo para ser positivo, não negue favores que não vão te prejudicar, não seja preguiçoso nem preconceituoso com nenhuma situação ou pessoa. Seja aquele indivíduo com quem as pessoas gostam de conversar, faça de tudo para ser aquela pessoa de quem eles vão se lembrar. Caso faça isso, tenho certeza de que, na hora em que for sua vez de receber um pouco de atenção, um ombro amigo ou fazer um desabafo, haverá uma lista maior de pessoas prontas para te ouvir.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Não sei


Um dia, vi uma pequena garotinha dizer á sua mãe:

- Mãe, um menino na escola me pediu em namoro, acho que eu vou aceitar porque ele gosta tanto de mim...
- Mas filha, você não tem que aceitar só porque ele gosta de você. Você gosta dele?
- Não sei.
- Você não tem obrigação de ficar com uma pessoa só porque ela gosta de você. Tem de ver é se você gosta dele também.

A mãe até que estava certa, mas como a garotinha poderia saber? Como ela poderia chegar a um veredicto em relação aos seus sentimentos? Essa receita a mãe não deu. Mas tudo bem, porque a menina não tinha nem dez anos. Mas e eu fico me perguntando quantas milhares de conversas muito parecidas com essa não acontecem todos os dias com pessoas muito mais velhas. Quantos casais lindos e experiências maravilhosas não chegam a existir apenas por causa desse "não sei". Quantas coisas interessantes não deixaram de acontecer, quantas declarações nunca viram a luz do dia, quantos programas nunca foram marcados? Quantas amizades nunca foram feitas? Quantas vidas deixaram de ser mudadas?

"Não sei". É claro que você não sabe. Ninguém sabe. Filósofos que tinham o costume de pensar nas coisas de maneira muito mais profunda do que você viveram e morreram sem conseguir saber isso de maneira definitiva. Nos cálculos de custo benefício que fazemos para a vida, temos que arredondar os números para simplificar a conta. Se calcularmos as variáveis menores, as miudezas que vem depois da vírgula, nunca agiremos, pois estas levam uma eternidade para serem avaliadas, e mesmo depois que conseguimos identificar todas, elas são tantas que não conseguimos fazer a conta direito.

A incerteza é o tempero da vida. Eu aplaudo de pé aqueles que olharam a incerteza e avançaram. Aqueles que enxergavam dúvida não só em seus corações mas nos corações alheios e foram fortes por eles e pelos outros num momento de estagnação. Aqueles que deram um passo á frente quando a vida perguntou: quem vai se arriscar? Aqueles que, enquanto os outros estavam ali fazendo cálculos, eles viraram a mesa, derrubaram os papéis e disseram: vamos agora!

Não é fácil fazer isso, nunca foi. Mas a vida está passando e as oportunidades junto com ela, muito cuidado com o que você deixa passar. Empolgação é como todo o sentimento, ele morre por inanição muito rápido se não alimentado constantemente, e nada melhor do que ação para dar um tempero a mais ás coisas.

A vida é feita de escolhas, algumas fáceis, outras difíceis...

Se você acha que não sabe jogue uma moeda para decidir, assim que ela estiver no ar tenho certeza que você vai descobrir o que quer.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Indiferença



Quem viveu emoções o suficiente na vida sabe que ódio e amor são dois lados da mesma moeda. O prazer de ter vem junto com o medo de perder e isso faz com que o coquetél de sentimentos com o qual brindamos a vida seja tão doce quanto amargo.

Quantas vezes você fez questão de responder uma provocação sarcástica de alguém? Quantas vezes você contra argumentou áquele comentário crítico na sua rede social? Quantas vezes você não cobrou daquela pessoa que não te deu o que você esperava? Quantas vezes você já não fez questão de mostrar sua insatisfação, sua raiva ou seu desapontamento para alguém?

Esses momentos são tão verdadeiros (mas não tão construtivos) quanto aqueles em que você demonstrou carinho, afeto, consideração e paixão. Ambos tem o mesmo pai, seu ego. Sua necessidade manter e reafirmar sua auto-imagem, sua necessidade de se sentir especial a partir do exercício de ser diferente dos outros.

O ódio pode até machucar, a reclamação pode até não ser bem-vinda num primeiro momento, mas espere até você sentir o implacável frio...

...da indiferença.

Quando você é o indiferente, você consegue olhar a situação de cima para baixo, o mar de sentimentos que afeta a outra pessoa nem chega a lhe tocar. Os gritos passionais do outro ecoam no vazio que é a sua apatia, pois não se pode atacar o vento, não se pode bater no nada. Não há respaldo para sentimentos alheios naquele que é indiferente. E isso é o mais implacável ataque que se pode fazer ao ego. Quando você passa, através da sua inação, a mensagem de que a pessoa não merece sequer sua indignação, aí a coisa ficou feia. Quando suas ações tranparecem que você não liga a mínima a tal ponto que não precisa se dar o trabalho de reagir ás palavras ou ações dela, aí sim você deu o golpe mais duro que poderia dar. As pessoas que brigam, que provocam, que cobram, que reclamam e que criticam tem todas uma coisa em comum, são pessoas que se importam. Se importam o suficiente para falar, se expressar e tentar serem ouvidas. Se importam o suficiente para querer ver o impacto de suas palavras ser refletido de volta para elas.

No fundo todos queremos isso, quando estamos felizes, queremos compartilhar nossa felicidade, quando estamos tristes, dividir a tristeza, quando nos sentimos zangados, expressar nossa raiva. E o primeiro alvo no qual miramos para despejar o sentimento que sentimos, geralmente é aquele que os provocou. Logo, quando alguém nos faz sentir bem, queremos que esta pessoa saiba que fez isso, queremos ter a oportunidade de agradecê-la e, se possível, retribuir o favor. Assim como nos maus momentos, a sensação de termos sido injustiçados, maltratados, desvalorizados ou desrespeitados também grita para ser mostrada áquele que a provocou, queremos reclamar, nos justificar, perguntar o porquê...

Mas nada disso é possivel perante indiferença. A pessoa é obrigada a engolir sozinha o sentimento que teria ficado mais leve se tivesse sido ouvida. Tem de lidar com a incômoda sensação de saber que não causa no outro o sentimento que este lhe causou, ou seja: inferioridade. O indiferente tem poder sobre a pessoa mas não o contrário.

Indiferença é uma arma perigosa que, ironicamente, não pode ser usada para ataque. Pois afinal, quem quer atacar não é indiferente. Simular apatia e frieza apenas para afetar os outros não da certo por muito tempo, é uma bomba relógio pronta para explodir no seu colo. Indiferença é um estado de não-sentir que encontra todas as suas consequências apenas naqueles que tentam alterá-lo.

E lembre-se, indiferença não é soberba ou orgulho. Se a pessoa que você não gosta está no meio de outras quatro e você cumprimenta só elas, não está sendo indiferente, o indiferente cumprimentaria a pessoa que o ofendeu como se nada nunca tivesse acontecido. Se você manda uma mensagem para dizer que não liga, é porque você liga, o indiferente não mandaria nada. Se você argumenta para convencer, é porque a opinião alheia lhe importa, o indiferente não se importa com quem concorda ou deixa de concordar com ele.

Ironicamente, as pessoas que merecem nossa indiferença raramente a tem. E as pessoas que tem nossa indiferença raramente a merecem. Algumas vezes é bom parar para pensar não em quem estamos ofendendo...

...mas á quem estamos ignorando.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Auto-crítica


Não crescemos nos momentos fáceis, não crescemos com elogios, não nos tornamos pessoas melhores nas épocas de calmaria. Aquilo que nos faz nos sentir bem e aquilo que nos faz crescer são duas coisas distintas, muito distintas. É sob pressão e calor que os elementos se transformam, é na hora da pancada que vemos a resistência do material. Sendo assim, é normal de muitas pessoas manterem uma visão exigente de si mesmas em prol do desenvolvimento.

Afinal, se você se acha a última coca-cola do deserto, tende a acreditar que quase sempre tem razão e que os outros é que são privilegiados de estar ao seu lado, é muito provável que você seja um tanto quanto imaturo. Para crescer é preciso uma certa dose de humildade e também ser um pouco duro consigo mesmo as vezes, para evitar mentir para si mesmo, jogar a culpa dos seus erros nos outros, etc...

Mas e quando a auto-crítica começa a ultrapassar os limites e já não é mais benéfica? O que acontece na mente da pessoa que cobra tanto de si mesma, que o esforço que ela despeende para atender as próprias expetativas lhe esgota? A auto-crítica é boa até certo ponto, mas o seu perigo é que ela corrói auto estima muito rápido. Se você nunca é bom o suficiente, se você nunca é belo o suficiente, se você nunca é interessante o suficiente, se você nunca é talentoso ou inteligente o suficiente, vai chegar uma hora em que a frustração de não ser aquilo que você acha que tem que ser vai ser maior do que a satisfação de estar sempre em evolução.

E não se engane, quando eu digo "atender ás suas próprias expectativas" estou falando sério, o mundo não quer que você seja nada, na verdade, a maioria das pessoas não liga muito para o que você é ou deixa de ser, a grande maioria das pessoas que você conhece não liga a mínima para a cor doseu cabelo, seu peso ou que curso você escolheu seguir, e isso é ótimo, pois você não deve satisfação á elas. É na sua mente que está a lista de exigências.

Todos nós precisamos de pausas nos exercícios, de intervalos nos estudos e de momentos de amor-próprio em meio a selva emocional em que vivemos. Tire um tempo para olhar tudo aquilo que você já fez, tudo aquilo que você conquistou, o quanto você mudou em um, três ou cinco anos, no tanto que você aprendeu com seus últimos relacionamentos, do tanto que você melhorou sua maneira de pensar depois de entrar na faculdade...

Olhe para si mesmo de vez em quando e orgulhe-se, e acima de tudo, não negue elogios sinceros, não desvalorize consideração. As pessoas que vêem em você aquilo que nem você vê em si mesmo costumam estar naquele pequeno grupo de indivíduos que realmente se importam com você. As palavras daquele amigo não tão sóbrio, os elogios daquela pessoa que tem tanta sintonia com você, a disposição daquela pessoa que nem tinha planejado te ver, essas são as coisas mais verdadeiras e sinceras que você pode esperar dos outros.

E quando a hora de ser forte vier, e ela virá, você vai batalhar muito melhor. Você vai enfrentar os tempos difíceis com muito mais facilidade, justamente por causa dessas pessoas, que conseguiram ver e fizeram questão de te mostrar tudo aquilo...

...que há de melhor em você.

sábado, 19 de novembro de 2011

Metáfora XVI


Todos os produtos tem em si um valor embutido. Um valor que possui muitas variáveis, como por exemplo, o custo de fabriação, manutenção, etc. Esses valores costumam ser razoavelmente fácies de se deduzir, se você gasta um valor X para fabricar o produto, deverá vendê-lo por X+Y, onde Y é o seu lucro. Por mais que isso seja uma simplificação tosca, é mais ou menos assim que funciona.

Mas o valor de um produto não é só determinado pelos custos fixos dele. Ele também é fortemente influenciado pela idéia que as pessoas tem dele. Quando você compra um terno da Hugo Boss de 5.000 reais, pode ter certeza de que 4.500 estão sendo gastos na etiqueta onde está escrita a marca, os outros 500 são o valor do terno. O valor da MARCA é o que importa no final das contas.

A idéia que as pessoas tem sobre o valor de um produto influencia seu valor real, o custo de produção chega a ser uma influência pequena quando levamos isso em conta. Se as pessoas estão dispostas a pagar caro, o produto será caro. Ponto final. Logo, sua disponibilidade no mercado vai entrar como uma sub-variável no valor, pois se todos querem o produto, mas ele é caro, apenas a elite pode tê-lo, e nada é melhor para um produto do que ser elitizado, pois ele vira sinônimo de poder e status.

Enquanto as pessoas não considerarem o produto valioso, ele não o será. Mas como fazer para que as pessoas considerem o produto valioso? Bem, elas tem que saber de todos os pontos positivos dele, precisam saber por que ele é especial e por que deveriam comprá-lo. As pessoas precisam conhecer a marca e saber o que ela implica: conforto? confiabilidade? qualidade? Quais são os valores atribuídos ao produto? O que ele representa? Elas precisam saber os diferenciais do produto para se sentirem impelidas a comprá-lo. Só assim ele será valorizado.

É aí que entra a propaganda. O produto não pode apenas SER, ele tem que PARECER SER O QUE É. Ele tem que transbordar todos os seus diferenciais, tem que mostrar todas as qualidades que só ele tem, não adianta nada o produto ser feito de um material bom, se ele não é brilhante e com um design atraente. Qualidade omissa é qualidade inútil. Ninguém vai valorizar o que não vê. Logo, propaganda é a alma do negócio. Tudo aquilo que o produto é, representa e pode proporcionar tem de chegar aos olhos e ouvidos do consumidor através de propaganda bem feita.

Mas o mercado é competitivo. E existe também a propaganda enganosa. Logo, muito produtos estão sendo desvalorizados apenas porque não tem uma boa propaganda, enquanto produtos de qulidade duvidosa são objeto de desejo de mares de consumidores, apenas porque são bem trabalhados exteriormente. Infelizmente essa é uma característica do mercado. Um produto bom sem boa propaganda tem chances muito pequenas de sucesso, o produto bom que tem boa propaganda se esgota rápido e não passa muito tempo nas prateleiras. O produto mal com a boa propaganda é comprado diversas vezes, e mesmo com reclamações e devoluções, ele continua a render lucros. Sobra no mercado apenas os restos, aquilo que ninguém quis, e com a lei de oferta e demanda atuando, os preços dos restantes caem.

Qual é a qualidade do seu produto? E o mais importante: como está o valor do seu produto no mercado?

Ciclo


NEGAÇÃO: No início, eu não vivia exatamente aqui. Eu vivia no mundo ideal, aquele que eu via nos filmes da Disney, das comédias românticas e dos contos de fadas. Era um mundo vizinho, bem próximo do real, mas muito diferente. Eu conservava valores e idéias tão utópicos que muitas vezes me sentia diferente por causa de minhas crenças, separado da maioria por estar numa sociedade, mas seguindo as regras de outra. Não tardou até que eu, sem querer, saísse de lá e caísse pela primeira vez no duro, quente e sujo asfalto do mundo real. Mas considerei isso como uma falha de percusro, na verdade, eu ainda achava que estava no mundo da fantasia, acreditava que algum erro de cálculo havia feito eu cair nas mãos das sereias da terra do nunca, mas que isso seria passageiro e logo eu continuaria a brincar com os meninos perdidos e ter aventuras com a minha wendy.

RAIVA: Mas depois que as quedas foram ficando mais frequentes e violentas, comecei a perceber algo errado. Eu não havia caído e tropeçado simpelsmente. Eu havia sido puxado da minha ilusão para uma realidade muito mais dura e forte do que eu. Quando olhei em volta e vi esse mundo pela primeira vez, o ódio me consumiu de forma violenta. Eu olhava o modo como as coisas funcionavam, como as pessoas conseguiam o que queriam, como a justiça desses jogos funcionava e não sobrava espaço para nada mais além de raiva, pura e cega. Não conseguia aceitar o fato de ver tantos injustos prósperos e justos miseráveis. Não pude acreditar quando percebi que tudo aquilo com o qual eu sonhava se diferia tanto da realidade. Odiei, odiei todos e todas. Cheguei a odiar até a mim mesmo, por ser tão bobo por tanto tempo.

BARGANHA: Mas ainda havia uma ponta de esperança, talvez meus sonhos não estivessem totalmente mortos, talvez o conto de fadas pudesse existir, bastaria encontrar alguém que também estivesse disposto a torná-lo realidade. Tudo o que eu precisava fazer era manter minha fé neles, me manter fiel aos meus princípios e sempre demonstrar isso, assim, minha princesa logo me encontraria ou vice-versa e nós poderíamos ser a luz em meio a escuridão, o sonho no meio da realidade. E assim comecei a barganhar com a realiadde, acreditando que poderia comprar sonhos com devoção, me dediquei á eles incondicionalmente, na esperança cega de ser correspondido não pelo que eu era, mas pelas coisas nas quais eu acreditava.

DEPRESSÂO: Mas isso também não deu certo. A moeda do mundo real não eram sonhos e minha decepção doeu muito mais que o ódio inicial. Essa foi uma época de lágrimas, desistências e rendições. Percebi que o mundo em que eu estava era como um solo seco onde aqueles sonhos de menino não poderiam florescer, percebi que minha força de vontade de voar nunca seria maior que a força da gravidade, percebi que não havia pozinho mágico, Wendy ou Sininho, nem nunca haveria. Me vi no fundo do poço, num beco sem saída. Preso num mundo que odiava, amarrado á uma realidade que não queria aceitar como verdadeira. Me sentia um pássaro na gaiola, tirado de seu ambiente natural para viver enjaulado até a morte, sem nunca poder voar. Me sentindo incompleto, impotente e incompreendido por aqueles que me rodeavam, não me restava mais nada além de tentar me levantar.

ACEITAÇÃO: Limpei as lágrimas, arriei as mangas e tirei o pó da roupa. Era hora de descobrir qual era a moeda de troca, era hora de descobrir as regras do jogo. Percebi que ninguém viria me cumprimentar por hastear uma bandeira de sonhos, e por mais que viessem, que diferença faria se ela de nada valia naquele mundo? Apertariam minha mão mas não me dariam nada, eu continuaria pobre. Comecei a observar o mundo real com outros olhos, não com repulsa, mas com ambição, não pensando em como eu sairia dali, mas pensando em qual era a melhor maneira de me dar bem naquele lugar de intrigas, mentiras e brigas. A realidade que antes era mais dura que eu agora estava me endurecendo, e rápido. Durante muito tempo, foquei-me na defesa, em táticas que diminuiriam minhas chances de me machucar, aprendi a prever infortúnios e a ser cético nas minhas apostas, mas então, depois de um certo tempo, comecei a perceber também o valor da implacável postura agressiva.

Quando aos sonhos? Algumas vezes ainda consigo ver de relance aquele mundo através das núvens, distante como nunca esteve. Vejo o brilho do pó da Sininho nos olhos alheios, entre uma palavra e outra, entre um olhar e outro, entre um sorriso e outro. As vezes vejo a Wendy quando olho para alguém de relance, algumas vezes ouço a música que os meninos perdidos cantam num momento silencioso o suficiente. Estes sonhos estão lá, sufocando, sendo apagados pela experiência e maturidade, a terra do nunca está pedindo para que eu retorne, mas a selva em que me encontro é perigosa e violente, e demanda todas as minhas forças.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Dueto de almas




Consentir por sentir afinidade
Omitir sem mentir por caridade
Interferir por inferir necessidade
Amar é um mar de importantes frivolidades

É ser útil e ser fútil
É ser bardo e ser bobo
É clamar por calor
E queimar-se com o fogo

É sorrir com sofrer
É sentir sem saber
É calar pra pedir
E falar pra ceder

Ávido e lânguido enigma de sofrida resolução
Onde por vezes ignorância traz mais paz que revelação
Delicado e audaz epigrama, que resume a dicotomia
De abnegar com tristeza para semear alegria

É devaneio em meio á pura concentração
É sonata silenciosa de sutil composição
É fardo sem peso próprio, voluntária e livre prisão
Amor é torpor e vida, amor é contradição.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Minha lente


Se você usasse minnha lente, com certeza concordaria comigo. Se conseguisse enxergar o que eu enxergo, você não teria dúvida nenhuma de toda a beleza que eu descrevo quando olho e digo o que vejo...

Se você usasse minha lente, choraria. Com o tamanho da beleza singular que estaria perante seus olhos, com o quanto aquilo que se almeja combina com aquilo que se vê, como encontrar uma paisagem paradisíaca depois de muito tempo de procura.

Se você usasse minha lente, não entenderia como não havia visto tanta coisa antes. Como ainda estava vendo paredes no lugar onde haviam portas. Como uma ilusão de ótica onde aquilo que foi visto não pode mais ser ignorado.

Se usasse minha lente, veria arranhões e talvez um grão ou outro de poeira aqui e ali, mas isso provavelmente nada seria comparado a nitidez de tudo aquilo, tudo aquilo....

tudo aquilo...

...que eu aprendi a ver.

Se usasse minha lente, minhas palavras cairíam ao vento por inutilidade, não precisaria tentar explicar o meu mundo, não precisaria gesticular e demonstrar como as coisas são quando eu as observo, essa lente, construída a ferro e fogo num ângulo único, que se aperfeiçoa com o tempo, ganhou a habilidade de ver tanta coisas que você deveria ver, que muitas vezes eu me pergunto:

Por quê?

Mas acho que, no fundo, se usasse a minha lente. Você não acreditaria nos seus olhos, tão diferente é a visão que ela proporciona da sua realidade. É possível que você as jogasse fora e dissesse: "besteira". Pode ser que você dissesse que aquilo não é real, que as manchas na lente estão prejudicando a visão daquilo que realmente é, mas então eu pergunto: o que é real?

Ah, se você usasse minha lente. Você não faz a menor idéia do tamanho e da beleza do que você veria, não tem noção da perfeição que mora na simplicidade que eu observo, não imagina a riqueza da visão que ela é capaz de proporcionar, como e porquê ela é capaz de proporrcionar tal visão? Não sei. Mas ah...

...se você usasse minha lente.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Manual social - Presentes


Toda a ação ou postura social considerada adequada segue o mesmo princípio: não desagradar, incomodar ou constranger os outros. Todas as regraas de etiqueta e boa convivência se baseiam nesse respeito pelo espaço do próximo. Muitas dessas regras podem não se aplicar (ou se aplicar em menor grau) a amigos íntimos, namorados ou membros de família. Mas deixando estes detalhes de lado aí vão algumas coisinhas a respeito de ganhar e dar presentes que eu aprendi com minha criação:

1. Receber: Nem é preciso dizer que a primeira maneira de demonstrar consideração é fazer o máximo para se mostrar tanto surpreso quanto feliz pelo presente. Não importa o quanto você não gostou, sorria, agradeça e use o presente na primeira oportunidade que tiver de forma que a pessoa veja você usando. Mesmo que a pessoa lhe disser que pode trocar se quiser, nunca o faça. Só se troca tamanho, nunca modelo. Você tem que parecer sincero, então não diga: "legal". Se esforce para identificar qualidades únicas do presente e as coisas que você pretende fazer com ele. Se está numa festa, mostre-o para outras pessoas mencionando quem o deu e o quanto você gostou. Receber um presente automaticamente cria em você a obrigação social de agradecer, no caso de datas comemorativas pessoais, como seu aniversário, ou comemoração de algum objetivo que você alcançou, não é necessário retribuir com outros presentes na mesma ocasião, mas você deverá se lebrar deles para próxima ocasião festive que tiver. Mas em datas como natal e páscoa, você tem de estar preparado.

2.Dar: Presentear é complicado. Você não pode dar um presente caro demais, senão cria na pessoa a obrigação de te retribuir a altura, e pode ser que ela não tenha capacidade para tal, o que irá constrangê-la, e isso viola nossa lei de boa convivência. Também não pode dar presentes baratos demais, porque isso demonstra desconsideração e desprezo pelo valor que a pesssoa tem por você, é melhor dar apenas um cartão escrito á mão do que um presente de 1,99. Portanto o valor ideal do presente é: o máximo que aquela pessoa poderia pagar num presente. Nunca leve sem embrulho, isso passa imagem de desorganização e de que o presente foi arranjado de última hora, ou seja: você esqueceu, ou seja: você não tem consideração. Outro ponto importante a se lembrar é que não se dá presente através de terceiros a não ser que isso seja absolutamente inevitável. Entregue em mãos, isso mostra consideração. Caso não possa, peça desculpas por não poder no cartão que vem junto com o presente, o mesmo se aplica a atrasos. Presentear pessoas com coisas que são suas é para amigos muito íntimos, que conhecem o valor que você dá ao que tem, nunca faça isso com pessoas socialmente distantes de você.

3.Presentes de terceiros: Quando uma pessoa recebe um presente, conte um minuto. Durante esse tempo, não o toque, nem peça para ver a não ser que lhe seja oferecido. Querer tirar o presente da mão do presenteado assim que ele o abre não é muito educado, parece que você está fazendo questão de mostrar o quanto você gostaria de ganhar um daquele também, logo mostra que você está insatisfeito com o seu, o que é uma desfeita para a pessoa que lhe deu um presente (ou pretende fazê-lo). Se uma pessoa lhe pede ajuda para escolher o presente para uma terceira, você não ira revelar esse fato, é feio quando a pessoa recebe um presente e você estica o pescoço lá detrás de quem está dando o presente e grita: "Eu ajudei a escolher ein?" Parece que você está mendigando agradecimento, reclamando sua porção de gratidão da pessoa que recebeu. Lembre-se, a pessoa pediu sua ajuda na escolha, você não ajudou a pagar e nem teve a iniciativa de comprar, logo, o mérito é dela, não seu.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Metáforas XV


Já estudou economia?

O mundo hoje funciona da seguinte maneira: a relação entre a oferta e a demanda por um produto vão determinar seu preço. Quanto mais abundante é um bem, mas barato ele é. Quanto maior a demanda por ele, mais caro ele é. Resumindo muito porcamente, a economia funciona com base nisso (e em uma outra meia dúzia de regras irrelevantes para o post).

Pois bem, vamos imaginar que você tem um produto e quer vendê-lo, você estabelece um preço e abre seu negócio. As pessoas gostam, e você começa a ganhar dinheiro, até aí tudo bem. Mas aí você descobre uma fonte secreta da matéria prima do seu produto, uma reserva natural intocada pelo homem que é só sua, com material o suficiente para fabricar seu produto até o fim da vida. Você começa a se aproveitar dela e produz em grande escala, revende para que outras pessoas espalhem seu produto e logo todos estão comprando de você direta ou indiretamente.

Mas então você nota um problema, o número de pessoas que tem seu produto é alto demais. Ele agora é comum demais, logo ele não tem nenhum diferencial, nenhum atrativo para o mercado, pois ele existe em abundânica. Apesar de lucrar bem com ele, você percebe que ele não é valorizado como deveria ser, que as pessoas não olham o seu produto com os mesmos olhos que você, não sabem o tempo que você passou para inventá-lo, do empenho e prazer que você tem em inspecionar cada etapa da produção para garantir a qualidade. Seu produto é desvalorizado por ser abundante.

No mundo da economia escasses é a chave. O mundo hoje trabalha em cima do conceito de escasses, não pode haver o suficiente para todo mundo, pois senão não há lucro para as empresas. A roda da economia gira porque você não tem o que quer, pois se tivesse, por que se daria o trabalho de comprar? Logo você pode até gostar muito do seu produto, mas se quer ver ele valorizado, vai ter que aumentar o preço, elitizá-lo e restringir o publico alvo, pois se não você terá que conviver eternamente com o amargo gosto da desilusão. Você verá que produtos piores são infinatemente mais valorizados só porque tem estratégias de marketing melhores que as suas.

O que fazer? Ir contra todas as leis da economia e usar sua fonte mágica mesmo assim, convivendo com o fato de que abundância sempre estará acompanhada de desvalorização? Ou secar a fonte e fingir que ela nunca existiu, contratar um bom marketeiro e convencer as pessoas através da propaganda de que o seu é o melhor e pronto? A sensação altruística de se ver produzinhdo tanto quanto é você é capaz de produzir e ver seus consumidores SEMPRE providos vale o preço de acomodá-los com a idéia de que seu produto nunca vai faltar?

Ou se há uma terceira opção, se há um equilíbrio, qual seria? Como regular a fonte mágica, equilibrar oferta e demanda de maneira á ter um bom lucro e manter um bom preço, em ter um produto acessível e ter um produto valorizado? Como satisfazer á você e ao seu cliente ao mesmo tempo?

Caso descubra, me conte, pra gente ficar rico!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Doces sonhos


Quando me chamaram de homem, acho que eu me vi menino
Quando me puxavam para cima, eu ainda achava estar caindo
Quando disseram pra eu ser feliz, me sentia deprimido
E quando me apontaram o norte, eu achei estar perdido

Longas noites e longos dias se passaram desde então
Uma tortura agoniante em toda a sua lentidão
Queria uma morte rápida para poder me libertar
Mas quis a vida que eu sofresse aos poucos no altar

Foi então que em meio a dor, triste e isolado
Percebi que eu me encontrava na sombra do meu passado
Dei um leve passo á frete, voltando á luz do dia
E vi que meu futuro me reservava uma alegria

O doce mundo dos sonhos que sempre me envolveu
Estava ali esperando, pedindo pra ser meu
O mar de rosas perfumadas das pétalas que arranquei
Encheram meus olhos de lágrimas assim que eu me lembrei

Que o fogo que me queimou foi também o que me aqueceu
Que se uma chama apagou, foi porque outra se ascendeu
Pois força, coragem e alegria, já estavam em uma cova
Mas a última que morre está lhes dando vida nova...