Que nada na vida é certo, já é de conhecimento comum. A única exceção desta máxima é talvez a morte, e diz-se talvez não por questionar sua inevitabilidade, mas sim por se admitir os inúmeros significados que ela pode vir a ter para aqueles que creem na transcendência do espírito sobre a matéria.
Mas por via de regra, a sensatez e a experiência nos levam a crer que nada é estático no mundo que desfila perante nossos olhos. Até mesmo a solidez de nossos corpos é uma mera ilusão, visto que as células que nos compõem se renovam constantemente, num ciclo particular de vida e morte que nos mantém vivos para que possamos, então, morrer.
Mas de morte, basta. Voltemos á mudança, que é o assunto a ser tratado. Por vezes construímos, para nosso maior conforto, imagens e representações estáticas de pessoas ou situações que, em verdade, de estático nada tem. Para melhor compreendermos o mundo, tiramos fotografias mentais de certas coisas e as guardamos para posterior referência que, diga-se de passagem, tem curto prazo de validade. Um claro exemplo está nos traumas, que muitas vezes são reproduções distorcidas de sofrimentos que a muito já temos a capacidade de superar, mas que não tentamos por perpetuar o medo que tínhamos quando ele foi criado.
Nos tornamos mais fortes, mudamos a natureza de nossos julgamentos, ficamos mais experientes, tudo isso sem nem ao menos percebê-lo. Somos pessoas totalmente diferentes do que éramos a dez anos atrás (e se não me engano, nossas células também, para fins de reforço da analogia). Mas não é raro que meses ou até anos se passem para que possamos perceber que uma nova era chegou, para que possamos abrir nossos olhos para novas possibilidades e assimilar as vicissitudes da vida.
Esta cegueira nem sempre é involuntária, claro. Existem também os casos em que a mudança é percebida pelo indivíduo, mas que o medo de deixar sua zona de conforto é de tal magnitude que este se agarra àquilo que ele acredita lhe trazer segurança, deixando que as oportunidades lhe escapem pelos dedos. Mal sabe ele que sua resistência não anula a mudança, apenas a procrastina, muitas vezes potencializando-a e fazendo-a voltar com força o suficiente para arrancá-lo do lugar de onde poderia ter saído de bom grado. Esse irônico processo kármico do qual a vida dispõe para tentar nos manter a par de suas atualizações é tão onipresente que por vezes nos esquecemos dele. Mas esquecer-se daquilo que é onipresente é fácil, vide o ar.
Cândidos ou devassos, astutos ou obtusos, obstinados ou acomodados, inseguros e soberbos, todos mudam. E não necessariamente mudam para seu oposto, pois as mudanças radicais raramente são permanentes e as poucas que o são, raramente são naturais. Geralmente o inseguro vira circunspecto e o soberbo vira confiante, mas dificilmente um tomará o lugar do outro de um salto só. Essa mudança gradual que nos leva a um ponto imaginário e relativo de equilíbrio tem nome. É claro que ela afeta mais a uns do que a outros, mas todos, a seu tempo, estão fadados de experimentá-la. Alguns analisarão o processo, comparando o que eram com aquilo que são e até o que virão a ser, outros permanecerão ignorantes do processo, mas poderão mesmo assim usufruir de seus benefícios. Afinal o tempo passa, e de mãos dadas a ele sempre vem, pronto para reciclar as mazelas da vida, o bendito processo...
...de amadurecimento.