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Sobre Religião



Não sou nem nunca fui religioso. Meus pais são, para todos os efeitos, quase ateus e eu nunca fui obrigado a ir a igreja ou participar de qualquer tipo de cerimônia ou ritual religioso. Claro que fui a casamentos e missas de sétimo dia, mas nunca fui deliberadamente participar de um culto ou uma missa de domingo.

A primeira religião com a qual tive contato foi o cristianismo, através da escola e da convivência com amigos. Mas ele não durava nem cinco minutos na minha cabeça. Logo eu batia de frente com um: "porque Deus quis assim" ou "simplesmente é assim que funciona", ou a que eu mais odiava: "são os mistérios da fé". Naquela época eu perguntava para padres, professores de ensino religioso, pais de amigos meus, pastores e todo o tipo de pessoa que detinha algum conhecimento sobre o assunto e comparava as respostas obtidas.Todas eram insatisfatórias como as citadas acima, nenhuma delas parecia me elucidar sobre como funcionava o mundo espiritual. Algumas vezes as respostas eram inclusive incompatíveis entre si, me mostrando que as pessoas moldavam e adaptavam a religião para melhor lhes servir, o que já derrubava qualquer tipo de possibilidade de ser uma verdade absoluta, afinal, se uma verdade é absoluta, ela é invariável.

Quando eu perguntava para meus pais, eles nunca me respondiam com total clareza, ao invés disso, eles me davam livros para ler. Hoje eu vejo o esforço deles para que eu pensasse por mim mesmo, para que eu desenvolvesse meu próprio pensamento crítico acerca da espiritualidade. Depois que eu terminava o livro, eles me perguntavam: "o que você achou?" e então íamos debater sobre o assunto. Depois que eu chegava nas minhas próprias conclusões eles me davam outro livro e o processo ia se repetindo. Minha mão sempre me pareceu um pouco mais cética que meu pai, mas acredito que os dois sempre tiveram uma mente afiada e perceptiva em relação á esses assuntos.

Então comecei a ler, e muito. Os primeiros livros que meus pais me mostraram foram de espiritismo, e na época eu gostei muito, cheguei até a me declarar espítita durante quase um ano, mas não me detive ali. Logo o espiritismo mostrou seus "tetos" e questões sem respostas. Então, passei para as religiões orientais e depois estudei um pouco de Xamanismo e Wicca. Tudo o que eu encontrava na minha frente eu lia. Pesquisei sobre religiões antigas e espiritualidade nos primórdios da civilização humana. Ia absorvendo filosofias, fazendo ligações de princípios presentes em diversas religiões e aprimorando minha visão pessoal do mundo, que foi virando uma colcha de retalhos, aproveitando o melhor de cada religião. Hoje não tenho religião declarada, na verdade, sou quase ateu. Notei que quanto mais eu estudava mais cético eu ficava.

E depois de tanto ler e tanto pesquisar, comecei a chegar nas minhas primeiras conclusões:

A primeira delas é que liturgia, metodologia, ritualística são as partes menos importantes da religião. Tanto faz se você recita mantra, se você reza, se você acende velas e incensos ou se você vai ou não a igreja em um certo dia da semana. Isso não faz de você uma pessoa melhor do que ninguém, não faz de você uma pessoa mais sábia, mais bondosa ou espiritualmente mais evoluída e esclarecida. O método como você entra em contato com o espiritual pouco importa, o que importa é o jeito como você trata aqueles que estão a sua volta e o bem que você trás á vida deles. O que importa é se você aplica os princípios da sua religião no seu dia-dia. Existem benefícios comprovados em coisas como prática de yoga, tai-chi e meditação, mas essas coisas vem de religiões orientais, que para todos os efeitos, são mais filosofias do que religiões em si.

A segunda é que religião é boa apenas quando tem um efeito somatório na vida da pessoa. Se você passou a participar de uma ONG, se a igreja em que você está ajuda creches, se sua religião te tornou, na prática, uma pessoa mais bondosa, paciente, compreensiva e sábia, ótimo. Mas se você deixa de comer certas comidas, deixa de ir a certos lugares, deixa de sair com certas pessoas e fazer certas coisas apenas porque sua religião diz, você está sendo prejudicado. Adotar novas posturas e hábitos sem pesquisa, questionamento ou reflexão é coisa de gente pouco inteligente.

A terceira é que paixão por religião e pensamento crítico costumam ser inversamente proporcionais. As pessoas mais ávidas por religião são as que tem a mente mais fechada para novas idéias e a menor capacidade de debater sobre sua opinião religiosa. Costumam também entender pouco de psicologia, história, filosofia e ciências em geral, ou, quando entendem, não aplicam esses conhecimentos na análise das próprias crenças. Como eu vi uma vez escrito num livro: "As pessoas que mais querem compartilhar a visão religiosa delas com você são as que menos querem que você compartilhe a sua com elas."

Essas são as três conclusões a que cheguei sobre a religião em si, e são a base do meu pensamento hoje.