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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Força de vontade



Quando eu era pequeno ficava abismado com a capacidade que meus pais tinham de perceber quando eu estava de "má vontade" para fazer algo. Eu simplesmnete não entendia que tipo de sexto sentido eles tinham para sempre dar um diagnóstico preciso de quando eu me interessava e de quando eu não me interessava por alguma coisa. Eu não via quais eram os sinais óbvios que eu passava indicando o meu nível de interesse, não via em mim, pois depois de um tempo comecei a ver nos outros.

E percebi que simular vontade é impossível.


Não sei como não havia me tocado antes de como é simples detectar disposição nas outras pessoas, não demora muito e as conclusões tem uma margem de erro minúscula. Pequenas ações que formam padrões no comportamento das pessoas, se forem devidamente observadas, sempre irão revelar a verdade. É só uma questão de tempo até que um bom observador descubra quais são suas veradeiras motivações.

Depois que me tornei professor, comecei a diferenciar os alunos desinteressados dos aplicados, não pela nota ou número de faltas, mas sim pelo interesse que eles demonstravam em aprender, pequenas coisas como tirar dúvidas, participar das aulas e ser assíduo para entregar deveres eram pequenos fatores que, no dia-a-dia, apontavam com clareza quem queria e quem não queria estar ali. Na verdade, não era necessário nem um mês de aula para ver isso.

Se você não quer a companhia de alguém, se você não quer fazer algo, se você não quer desempenhar uma certa atividade, tenha certeza, dá pra saber. Um bom observador vai perceber os pequenos sinais de má vontade que você passa na sua postura. O número de atrasos nas horas marcadas, compromissos cancelados, número de vezes que você liga para aquela pessoa que você quer ver, disposição que você tem para conversar e interagir com ela, o tamanho do esforço que você despende para agradá-la... tudo isso pode ser usado para medir seu interessa na pessoa numa escala de 1 a 10 com precisão decimal. E por mais que hajam pessoas que não sabem observar e medir isso, elas sentem isso, o que no final das contas geralmente acaba dando na mesma.

Quem quer faz, quem quer corre atrás. Se você realmente quisesse fazer aquilo, você faria. Se você realmente quisesse ver aquela pessoa, você ligaria. Se você realmente quisesse atingir aquele objetivo, você atingiria. Mentir para si mesmo é sempre o primeiro passo para mascarar má vontade, culpar fatores externos é sempre um processo simples e indolor, mas quando o universo parece conspirar para impedir que algo aconteça, pense bem, é muito provável que você não esteja tentando com vontade o suficiente.

Lembre-se dos momento em que você estava perdidamente apaixonado e estava sendo correspondido, lembre-se dos momentos em que você estava muito perto de conseguir aquela vaga de emprego que você sabia que merecia, lembre-se daquela festa, evento ou show que você passou meses planejando e juntando dinheiro para ir. Lembre-se dos momentos em que não havia nada entre você e aquilo que você queria muito, mas muito mesmo. Sério, tente lembrar de um.


Lembrou? Pois é, nesses momentos, se alguma adversidade surgisse em seu caminho, você faria de tudo para contorná-la, sua força de vontade varreria qualquer obstáculo na sua frente. O preço do ingresso do show subiu? Sem problemas, eu junto mais dinheiro. Sem carona pra ir pra festa? Dane-se, vou de taxi! O pessoal da empresa quer fazer uma semana de treinamento adicional antes da contratação? Perfeito! É só dizer a hora. Se você realmente QUER, você vai arranjar uma solução.


Quem quer faz, quem quer corre atrás. Olhe bem para a postura das pessoas e você vai saber quais são suas prioridades. Sinta a empolgação delas enquanto elas falam, leias as mensagens que elas mandam, conte o número de vezes que elas correm atrás das coisas que querem.


Se existe algo entre você e o que você quer que ainda não foi derrubado pela sua força de vontade, é porque sua força de vontade ainda é fraca. Se sua disposição encontra barreiras como medo, insegurança, vergonha, orgulho e ego, você ainda não está vivendo a vida.


Quem quer, faz.

Quem sente saudade, liga.

Quem almeja, alcança.

Quem deseja, obtem.

Quem corre, chega.


Se você é uma pessoa sem vontade, você é como um carro sem combustível. Pode ser bonito, pode ser novo, pode ser chique e cheio de firulas opcionais. Mas você não faz aquilo que nasceu para fazer, logo, você ainda é, na prática...



...um peso morto.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Metáforas XIV


Imagine que você descobre relativamente cedo que gosta de desempenhar uma certa atividade, e se especializa nela. Aos poucos você vai fazendo cursos específicos, assiste seminários e dedica uma grande parte de seu tempo no aperfeiçoamento das habilidades que são necessárias para o desempenho da atividade. Você começa a se envolver tanto naquilo que até parte da sua auto-imagem fica atrelada á ela, parte de quem você é se tornou aquilo que você faz de melhor, fazendo com que você sempre busque perfeição no seu desempenho, e seja mais duro consigo mesmo perante falhas. Logo, sua dedicação começa a render frutos e algumas pessoas começam a notar que você é bom naquilo que faz, percebem a paixão nos seus olhos quando você fala daquilo, percebem todo o conhecimento que você tem que te faz um bom profissional, percebem que tudo que você diz e faz realmente condiz com a eficiência que elas desejariam ver numa pessoa que desempenha aquele papel.

Então, mais cedo ou mais tarde, uma dessas pessoas te chama para trabalhar numa pequena empresa, você, empolgado, aceita. Começa seu trabalho com o maior sorriso dom mundo no rosto e não falta um dia de trabalho. Faz tudo o que tem que ser feito e um pouco mais, cobrindo falhas de outras pessoas que estão ali trabalhando com você e sempre sendo humilde em relação ao seu nível profissional. E continua assim durante um certo tempo.

Até que chega um dia que você começa a notar que está recebendo o mesmo salário das pessoas menos dedicadas que você, você percebe que não está tendo dias de folga adicionais referentes as horas extras que você trabalha, você percebe que produz muito mais do que um funcionário normal produziria e não esta sendo reconhecido por isso. Você se cala, lembra-se de que deve ser humilde, mas ainda continua com uma pulga atrás da orelha, que dá um comichão toda vez que sai seu salário, toda vez que você entra pela porta e espera em vão seu chefe lhe chamar para falar sobre um aumento ou uma promoção que nunca vem.

Você se esquece que aumento e promoção não são obrigações do chefe, e sim recompensas que ele dá a quem quiser. Nenhuma lei o obriga a reconhecer o seu esforço e é por isso que o máximo que você pode fazer é pedir, pois em contrapartida nenhuma lei obriga você a ser um bom profissinal. Você vai a sala do chefe e conversa, mas não adianta, você não será promovido, muito menos ganhará mais, e ele ainda te diz que se você faz hora extra, é porque quer, pois ele não pediu.

Você fica indignado! Pensou que o melhor a se fazer era justamente fazer de tudo sem o chefe ter que se dar o trabalho de pedir, pensou que fazer sempre á mais daquilo que era obrigatório fosse a chave do sucesso e vê todos os seus diplomas, cursos e especializações sendo tratados como irrelevâncias, como pequenos exageros desnecessários que inclusive deixam seu chefe incomodado, pois o colocam numa posição de quem teria que retribuir, é como se ele dissesse: "Pare de fazer tanto, pois não estou disposto a te promover muito menos aumentar seu salário, então não disperdice seu esforço, pois me sinto meio embaraçado com você me cobrando mais."

Simplesmente não faz sentido, tudo o que você sabia sobre o mercado de trabalho parece desabar, todos os manuais, livros, vídeos e inclusive sua experiência em trabalhos passados lhe ensinaram que dedicação era a chave do sucesso. E é aí que depois de muito conversar com muitos outros profissionais, você descobre uma coisa. O problema não é você, os valores do mercado de trabalho não se inverteram do dia pra noite, o problema é que a empresa na qual você está trabalhando simplesmente não tem dinheiro para te pagar mais, ela simplesmente não tem estrutura para te dar uma diretoria com escritório próprio. É uma empresa pequena demais.

Por um lado você fica desapontado, pois gostava da empresa, a localização era boa, o horário era razoável e o convívio com as pessas lá era bem tranquilo, até o chefe não dava muito trabalho. Mas você simplesmente não consegue ver toda sua especialização e dedicação simplesmente sendo chutados, é demais para você, afinal, trabalhar nisso virou parte da sua vida, é parte de quem você é como pessoa e não há como ignorar essa apatia. Depois de muito pensar, você vê que não vale a pena, por mais que seja prazeroso trabalhar naquele lugar, você tem contas a pagar e sabe que seus dilomas e especializações valem mais que aquilo. Um pouco á contragosto você pede demissão.

Infelizmente toda a sua dedicação teve um preço, a imagem do bom profissional está ligada á você e isso faz com que você tenha que filtrar as empresas nas quais você entra, pois sabe que não fez cursos pra nada, sabe a quantidade de pessoas por aí que não fazem metade do que você faz trabalhando alegremente e ganhando dinheiro e reconhecimento. Sabe inclusive dos profissionais desonestos que dão golpe em empresas e escondem seu histórico, você sabe que é um em mil, e já não consegue mais trabalhar se seu chefe não ver isso também. Você percebe que tem que ir para uma empresa que entenda de golpes, que entenda de maus profissionais, que saiba o valor que uma pessoa treinada e competente como você tem, não ha futuro para você em lugares que não se importam com a qualidade dos serviços prestados.

Sua empresa é aquela que está disposta a te pagar aquilo que você sabe que merece receber, é aquela que sabe que bons profissionais custam dinheiro e fazem parte do investimento da empresa, sua empresa tem que ter a experiência que você teve em campo para enxergar tudo isso de antemão e corresponder a dedicação que você tem aquilo que faz. Por um momento você até pensa se nao seria mais simples não ter se especializado, que seria tudo mais fácil se você não fosse nada mais do que um trabalhador comum sem nenhum diferencial.

Mas então você se lembra que isso não importa, porque agora você é o que é, e não há como esquecer o que você aprendeu, não há como diminuir sua competência deliberadamente, não há como alguém simplesmente pedir para você se dedicar menos, para trabalhar menos horas, ou fazer menos serviço. Não há mais como esquecer os cursos de capacitação que você fez e se tornar um profissional "mais barato".

O jeito é achar uma empresa que precise de um profissional como você.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Em suas veias


Nosso cérebro super bem desenvolvido tem toda sua programação em cima de duas premissas básicas: sobrevivência e reprodução. Você, como um ser vivo, tem como primeira prioridade, sobreviver, e como segunda, se reproduzir. Estas sempre foram as duas coisas mais importantes para qualquer ser vivo continuar existindo, e nós apenas nos diferimos dos outros que compartilham o planeta conosco porque temos maneiras mais complexas e elaboradas de perseguir essas prioridades.

O cérebro do homem muitas vezes parece trabalhar apenas para fazê-lo cumprir um papel: se reproduzir. Por mais evoluídos que possamos parecer, muitas vezes homens se encontram no meio de uma linha de pensamento intelectual profundo, totalmente concentrados em algo importante e complexo e basta uma mulher bonita passar e pronto, seu cérebro parece interromper suas atividades para contemplar um par de belas pernas. Isso acontece com muito mais frequência do que as mulheres pensam e é totalmente automático, pois homens foram programados para se replicar muito mais do que mulheres, pelo simples fato de que eles não precisavam se preocupar com 9 meses de gestação.

Mas se temos este desejo desenfreado de reprodução, se nossa luxúria transborda tanto assim de nós, porque quase todos os homens tem o que chamamos de "ansiedade de aproximação"? Sabe a mulher bonita que interrompeu os pensamentos academicos? Pois é, se um amigo se aproxima e lhe diz, vá lá e fale com ela. Uma sensação de insegurança de repente irá brotar dentro de você, talvez de maneira forte o suficiente para te impedir de fazê-lo, pois confie em mim, todos os homens tem isso, existem os que sabem lidar com essa ansiedade e os que não sabem, e acabam por reforçá-la por inércia.

Mas ela está lá, o homem quer correr atrás das mulheres mais belas e magníficas que andam sobre a terra, mas ele geralmente não tem coragem o suficiente para fazer isso sem uma série de estímulos secundários, como álcool, apostas com amigos, estar num lugar diferente no qual ele sabe que é pouco conhecido...

Emfim, porque será que mesmo sendo programados para reproduzir, somos muitas vezes paralisados por medo de rejeição?

Simplesmente porque antes de nos reproduzir, precisamos sobreviver, essa é a nossa primeira prioridade.

Mas nós não iremos morrer ao sermos rejeitados, aproximar-se de uma mulher bonita não põe em risco nossa sobrevivência. Bem, pelo menos não hoje em dia. Lembre-se que todas as sensações automáticas que são disparadas em você estão enraizadas em seu cérebro há muito tempo. E há muito tempo havia um bom motivo para temer a aproximação, há cerca de 40 mil anos atrás, quando nossos ancestrais se organizavam em tribos de cerca de 50 indivíduos, aproximar-se de uma mulher era perigoso. Pense bem, se você não fosse o líder da tribo, ou um dos amigos próximos do líder da tribo e abordasse uma fêmea sem saber se ela já estava tomada por outro macho, você tinha chances reais de ser brutalmente morto por eles. Tente fazer o cálculo de quantos homens na hostória da nossa evolução já morreram mortes muito dolorosas por terem abordado a mulher errada. Com certeza foi um número grande o suficiente para enraizar nos nossos cérebros o medo da aproximação.

Mas isso não é tudo. Parte da ansiedade de aproximação tem outra origem.

Numa comunidade de 50 indivíduos, quanto são mulheres? Quantas dessas mulheres não são novas demais ou velhas demais para se reproduzir? Quantas dessas mulheres já não tem um "parceiro" que a protegerá de outros machos? Quantas desses mulheres não estão doentes ou aparentam ter poucas condições físicas de gerar um bebê? De repente seu número de opções desce para 3 ou 4. E vamos nos lembrar que á 40 mil anos atrás, era muito difícil simplesmente abandonar seu grupo a arranjar um novo, não se saía por aí andando sozinho até encontrar uma nova galera, o mundo era um lugar hostil e inesplorado, com muito mais animais selvagens que podiam comer sua carne ou te envenenar num piscar de olhos.

Sendo assim, caso você abordasse uma dessas 3 ou 4 disponíveis e falhasse, a garota que te "rejeitou" muito provavelmente falaria isso para seu sub-grupo pessoal (as duas ou três amigas de confiança que se assemelham a ela em idade, ou seja, justamente as suas outras opções). E pronto, num passe de mágica você acaba de eliminar seus genes da face da terra, pois aquela fêmea dirá as outras que você não está pre-selecionado, que você falhou em algum pré-requisito que não te torna digno de ser um reprodutor, logo, como você muito provávelmente nunca sairá daquela tribo de novo, nunca mais vai transar na vida.

Conclusão: Se você abordar uma garota e falhar, ou você vai ser morto, ou nunca mais vai fazer sexo na sua vida. Pelo menos é assim que o seu cérebro primitivo vê, o cérebro moderno moldou esse medo em algo um pouco diferente hoje, algo um pouco mais elaborado, mas que funciona mais ou menos do mesmo jeito. O medo da falha também se aplica á qualquer cosia que você vá tentar na vida, o medo do desconhecido surgiu do mesmo modo, toda vez que uma tribo tinha de mudar de lugar, corria o risco de encontrar animais selvagens insetos e plantas venenosas, tribos rivais, etc...

Lembre-se, os homens que eram fracos e medrosos tiveram seus genes apagados da história. Somos descendentes dos líderes das tribos, dos fortes, dos destemidos, dos melhores. Há 40 mil anos atrás, uma pessoa com 4 graus de miopia não teria a menor chance de ser um bom caçador, naquele tempo, se você contraía simples infecção, era só uma questão de tempo até você estar morto. Apenas os mais saudáveis e resistentes conseguiram prosperar, e isso é uma grande lição para nós hoje.

Apesar de não "precisarmos" mais da seleção natural (pois hoje temos o domínio da medicina), seria um erro achar que ela parou de agir totalmente, ela ainda trabalha nas nossas mentes sofisticadas, ainda afeta o modo como nossas relações funcionam. Então, antes de resungar que ninguém te ama, que você não presta pra nada, que tem medo de fazer isso ou aquilo ou achar que você é pouco merecedor do amor daquela pessoa especial, lembre-se dos milhões que vieram antes de você, lembre-se das inúmeras gerações de vencedores que morreram antes de você viver, lembre-se que você hoje tem, invariavelmente correndo nas suas veias...

...o sangue dos vencedores.

Hollywood, uma análise


O mundo muda, e rápido. Já não vivemos mais numa época em que casamentos eram arranjados com pretensões políticas e sociais, já não acreditamos mais em príncipes e princesas, já não atribuímos mais valores as mesmas coisas. Mas então, no que acreditamos? Com o que sonhamos? Nossa pré-disposição para seguir modelos continua forte como sempre, mas a questão é: quais são estes modelos? O que está lá no fundo da cabeça das pessoas como: o relacionamento perfeito? A vida perfeita?

Bem, se você quer analisar o modo de pensar de um povo observe o que ele produz culturalmente, vamos pegar o exemplo de mais fácil análise que existe: filmes, e de comédia romântica.

A esmagadora maioria dos filmes de comédia romântica que você viu termina em casamento (não necessáriamente com os protagonistas se casando, mas em um casamento). Isso já nos diz uma coisa: a visão hollywoodiana de relacionamento propõe uma inversão da realidade, onde os conflitos, mal-entendidos e brigas acontecem durante o namoro e o processo de conquista, e acabam quando você encontra aquela pessoa e casa. Não preciso enfatizar muito o fato de que na vida real é exatamente o oposto, namorar é relativamente fácil, os primeiros meses de um relacionamento são banhados em dopamina. Casamentos hoje em dia costumam acontecer justamente quando o efeito deste pózinho mágico acaba, e é justamente nesse período que você será testado. Pense bem, todas gostosas situações inusitadas, processo de conquista e coincidências maravilhosas que recheiam os filmes de comédia romântica são exageros cômicos de situações FORA DA ROTINA. É como se o universo conspirasse para que o casal passasse pelo maior número de emoções possível antes de ficar junto definitivamente, dando a sensação de que namoro é uma louca montanha russa de altos e baixos e casamento é o período da paz. Não se engane, é exatamente o oposto.

Dentro dessa visão distorcida, nós temos outro problema de valores: a falta de disposição para auto aperfeiçoamento. Em Hollywood, a sua melhor qualidade não é fidelidade, paciência ou maturidade. Para eles sua melhor qualidade é a sua espontaneidade, ou seja, falar e fazer o que lhe vem a mente sem as máscaras sociais que estão lá justamente porque as pessoas as botaram lá. Ela é mais valiosa que qualquer outra virtude ou qualidade no mundo hollywoodiano (Sim, mais até do que fidelidade, como visto no fim do filme "Dizem por aí" com Jennifer Anniston, ou tato social, como visto em "Qual seu número" e "A verdade nua e crua"). Personagens que se mostram espontãneos são semrpe colocados como pessoas infinitamente mais interessantes do que qualquer outra pessoa que tenha qualquer outra qualidade, inclusive aquelas que todos nós pensamos ser imprescindíveis para se levar um relacionamento. A industria do cinema está te dizendo que aquele cara canalha, desorganizado, indisciplinado e que não tem um bom emprego, é um cara melhor que os outros pelo simples fato de que ele é ELE MESMO, e não quer impressionar ninguém, nem tem vergonha de ser o que é.

Epa, pera um pouco. Se o cara não quer impressionar ninguém, tem orgulho de agir do jeito que age, diz e faz as coisas do modo que lhe convém sem se preocupar com reprimendas socias, o que você acha que vai acontecer quando o fogo inicial da relação esfriar? Que essa pessoa irá pacientemente trabalhar na manutenção da relação em prol do bem comum? Ou será que o egoísmo inerente desse tipo de pessoa vai falar mais alto e ele vai pular fora do barco o mais rápido que puder? Eu não sei quanto á você, mas eu tenho minhas dúvidas.

Partindo deste ponto, vamos seguir em frente e chegar no mais importante deles, a escolha. Nos filmes, o casal principal sempre é forçado a ficar junto sob algum tipo de situação adversa ou peculiar e durante esse processo a empatia vai naturalmente aflorando até que eles descobrem gostar um do outro (mas isso nunca acontece com os dois ao mesmo tempo), assim que os mal entendidos acontecem, um dos dois fica puto e vira as costas para a situação. Então no final do filme, há a clássica corrida pelo amor, onde o protagonista geralmente atravessa meia cidade de bicicleta (qual seu número; o virgem de 40 anos), corre á cavalo (o melhor amigo da noiva), atravessa um lago a nado (must love dogs), ou invade um avião prestes a decolar (maldita sorte) para encontrar seu amor, confessar seus erros e viver feliz para sempre. Óbvio que Hollywood nunca opta pelo mais simples como SMS, telefonemas ou e-mails, não teria graça, ela faz questão de inclusive colocar algumas situações em que a pessoa fica tão absurdamente incomunicável que a única solução é uma corrida desesperada sob meios de transporte exóticos (que normalmente terminam em alguém se molhando, ou se sujando muito).

Isso é uma metáfora para a tão importante hora da escolha, segundo a percepção atual, assim que você souber que aquela é a pessoa certa, tem de fazer tudo, tudo, mas tudo mesmo para conseguir conquistá-la, inclusive comprar uma briga (bridget jones) ou tentar subir num carro em movimento (hitch, conselheiro amoroso). A corrida final simboliza o sacrifício que você deve estar disposto a fazer caso queira um amor eterno. E isso soa bonitinho, mas o problema é justamente a interpretação do que é "estar certo de que aquela pessoa é a certa". Nos filmes, sempre aquilo que leva o personagem á calcular o custo benefício de estar ou não com aquela pessoa é extremamente arbitrário, basta uma rápida noitada com a "pessoa errada" ou até uma breve reflexão de 15 minutos sozinho em casa para que a conclusão chegue.

Mas essa sensação que invade nossos queridos protagonistas chama-se carência, e ela vai te invadir no fim de qualquer um dos seus relacionamentos, por mais destrutivo que este seja. Toda a reflexão necessária para se chegar a conclusão de quem deve ser a pessoa á ficar do seu lado leva muito mais tempo e passa por muto mais fases do que um filme de 90 minutos poderia expor, portanto ela é resumida num breve suspiro profundo que o personagem dá se olhando no espelho logo antes de sair correndo atrás de seu verdadeiro amor. E mesmo depois de chegar a essa conclusão, você ainda pode estar errado, pois uma pequena coisa que Hollywood não costuma enfatizar é que só porque a pessoa é certa para você, não quer dizer que você seja certo para ela. A verdade é que você nunca vai ter 100% de certeza, você nunca vai poder apostar todas as suas fichas cegamente, pois a sensação que você tem ao terminar um relacionamento de longo prazo é sempre a mesma, porém, acompanhada de pensamentos diferentes. Não existe uma informação X ou uma sensação Y que seja o critério de decisão final, é tudo uma soma imensa de inúmeros fatores que são tão individuais que seria ridículo tantar expô-los aqui.

Esse é o nosso primeiro problema, perdemos totalmente a noção de que metade de um relacionamente depende de nós mesmos, e que o início de um relacionamento de longo prazo não é nem a ponta do iceberg com o qual você tem que estar preparado para lidar se quiser conviver com outra pessoa. Achamos que tudo se resume em seja você mesmo e siga seu coração. Você tem um defeito? Não se preocupe em melhorá-lo, basta achar alguém que o tolere! Ou pior ainda: você tem um defeito? Não se preocupe, assim que encontrar aquela pessoa ele será removido de você com precisão cirúrgica, bastará uma situação irônica com seu grande amor para abrir seus olhos para a maturidade. Cuidado com o que você anda pensando acerca do que é ser feliz, isso pode estar, sem querer, afetando o modo como você vive sua vida, e também...

...o modo como você molda seus sonhos.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Traçando perfil




"O amor é muito grande,
É maior que um avião.
Mas todo amor do mundo
Cabe no meu coração"

- Eu, aos sete anos, em meu caderno de poesias.

"Esqueço meus problemas
Só de pensar em amar
O mundo pára e é nessa hora,
que dá vontade de sonhar."

- Eu, aos quinze anos, no meu fotolog

"Os momentos mais perfeitos
Que a vida vem me proporcionar.
São sempre consequência
Da minha imensa vontade de amar."

- Eu, aos vinte e dois anos, no meu blog.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Efeito borboleta


Você troca olhares com aquela pessoa e, num primeiro momento, você não pensa muita coisa, no máximo um: "que pessoa bonita/legal". Talvez você até não pense nada, mas isso até a hora em que vocês começam a conversar, talvez as outras pessoas presentes saíram e só sobrou vocês, talvez um dos dois tenha comentado um assunto que é do interesse do outro. Emfim, nessa conversa, você se empolga e descobre que gosta de conversar com aqula pessoa e gosta da companhia dela.

É aí que começa. A empatia que você sente logo começa a se transformar em pensamento: "será?"
Você começa a ser invadido por "serás", um atrás do outro. Algumas pessoas ficam nos mais simples, como: será que ficaria comigo? Será que beija bem? Será que esta pessoa já está comprometida?"
mas se você for mais sentimental e emocionalmente suscetível, você irá um pouco mais além, tipo: Será que agente combina? Será que um namoro daria certo? Será que essa é a pessoa certa pra mim?

E a partir desses "serás", se você for uma pessoa emocionalemnte insegura acaba de se dar mal, porque você vai ter que contar com a serte dessa pessoa também estar interessada em você e ter a iniciativa da abordagem. Se a pessoa tiver essa iniciativa, torça para que ela esteja tão interessada em você quanto você nela, pois se esse for o caso um relacionamento pode se iniciar. Caso não se inicia seu sofirmento vai corresponder exatamente ao tamanho das expectativas que você teve com essa pessoa.

Existe também a possibilidade de você não ser uam pessoa emocionalmente insegura, sente caso sorte sua. Você vai começar a fazer brincadeiras, mandar indiretas e sondar a reação da outra pessoa. Caso ela não corresponda, a fila anda e a vida continua. Caso ela corresponda, começa o jogo, uma brincadeira de gato e rato que pode culminar numa decepção ou num relacionamento.

Caso isso aconteça, você vai ter a impressão de que a pessoa está mudando com o passar do tempo, mas é só impressão sua, a pessoa não está mudando, ela sempre foi daquele jeito, você é que não conhecia ela direito. Com isso você se decepciona um pouco e duas coisas podem acontecer: a decepção e o stress com o jeito de ser da pessoa estão num nível perfeitamente tolerável, neste caso, as chances de um casamento são grandes. Mas caso não sejam toleráveis, as brigas, o stress e a infelicidade vão se acumular até a hora em que não haja outra opção senão o término.

Depois disso, o grau de dependência e idolatria que você tinha da pessoa vai determinar a intensidade do seu sofrimento, e o seu grau de maturidade vai determinar durante quanto tempo você vai sofrer. Seu ego e sua carência também vão ditar se você vai buscar relacionamentos superficiais para tentar inutilmente tapar o buraco deixado pelo seu companheiro.

E depois de um tempo você volta ao normal, mais experiente, mais cauteloso e mais esperto.

Até que num desses dias, você sai com seus amigos e encontra uma pessoa. Você troca olhares com aquela pessoa e num primeiro momento, você não pensa muita coisa, no máximo um "que pessoa bonita/legal"....

...

...

...mas ái você se lembra do tanto que se machucou da última vez e decide não pensar mais nada.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

As engrenagens do medo


Medo é um mecanismo de sobrevivência que funciona por associação, como somos programados para evitar aquilo que nos causa dor, nossos cérebros estão muito bem preparados para evitar também qualquer coisa que esteja associada a dor.

É racional que depois de algumas picadas de aranhas, nossos ancestrais tenham percebido que elas são perigosas e não deixaram seus bebês chegarem perto delas, os bebês que não aprendiam a temê-las eram picados e mortos, logo a seleção natural se encarregou do resto e hoje praticamente qualquer pessoa tem um saudável medo de aranhas. Mas ser picado por aranhas é algo objetivamente ruim, não tem como uma pessoa gostar disso, ou achar que é algo que faz bem, não há muito espaço para se argumentar que picadas de aranha são uma coisa boa ou necessária. A associação de aranha com dor e perigo é útil, saudável, e nunca vai te privar de viver experiências interessantes, se alguém insistir que medo de aranhas é algo tolo, bastará uma picada para fazê-lo mudar de idéia.

Mas o problema é que não temos apenas medos simples, óbvios e saudáveis, como medo de aranhas ou de altura. Nem todos os nossos medos estão diretamente ligados á nossa sobrevivência no tempo das cavernas, com o passar do tempo nosso cérebro foi ficando muito sofisticado, muito mais do que nós conseguimos entender. Com isso desenvolvemos maneiras extremamente complexas e sutis de aplicar um mecanismo antigo (associação) numa mente moderna.

Como isso funciona? Bem, como você acha que fazemos para associar amor com dor?

Diferente da picada de aranha, sofrimento não está ligado ao amor e á paixão de maneira simples e objetiva. Quando se sofre por causa de relacionamentos, o normal é associar a dor que sentimos com elementos que fazem parte da situação na qual estamos, e esses elementos podem ser qualquer coisa, como uma música, uma determinada atividade, lugares e até características da personalidade da pessoa (não necessáriamente as que causaram a dor e o término). Sendo assim, seu cérebro pode te fazer temer situações novas e cheias de possibilidades apenas porque algum aspecto nelas te relembra sua experiência passada. E, convenhamos, quanto mais experiências você tiver, mais associações vai fazer, logo você se torna um campo minado de medo, onde qualquer pessoa que for se aproximar de você vai ter que ser extremamente cautelosa para não disparar nenhum mecanismo de auto-defesa que fará com que você se feche e saia correndo para se proteger.

Devemos lembrar que não estou usando a palavra "mecanismo" sem motivo, associação é puramente mecânica, ela não é seletiva com aquilo que lhe é útil ou construtivo, ela não vai fazer julgamentos morais e ver os dois lados da moeda, ela vai fazer você ter medo de se machucar de um número cada vez maior de coisas indiscriminadamente, ela não leva em conta seus defeitos, o tanto que você precisa progredir, ou seu grau de maturidade, não. Ela opera em cima do seu sofrimento e ponto final. Pense bem, você se relaciona com pessoas com diferentes defeitos, se você for acumulando os defeitos de suas experiências passadas e transformá-los numa imensa lista de pré-requisitos, estará dificultando muito que os outros se aproximem de você (ela não pode ser baladeira como a Fulana, nem quietona demais como a Cicrana, nem faladeira como a Beltrana...). Manter a fonte do perigo longe é justamente o objetivo do medo, e a associação vai garantir que isso aconteça se você não ficar atento.

Mas pré-disposição biológica não é desculpa para você deixar de viver a vida, ou vivê-la de forma errada, afinal todos os homens são, por definição, biológicamente programados para a poligamia, mas isso não quer dizer que devamos adotá-la como estilo de vida esperando que isso irá nos satisfazer emocionalmente. Assim, nossa incrível capacidade de fazer associações para temer tudo que seja potencialmente perigoso também é um mecanismo antigo que deve ser dominado pela nossa mente moderna, não o contrário. Medo afasta, separa e isola. Medo fecha portas, obstrui caminhos e ofusca possibilidades. Olhando de um ponto de vista prático, medo é uma ferramenta que aó existe para nos manter vivos, sendo assim, se você parar para pensar, nessa vida...

...não há muito o que temer.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Injustiças


Imagine que você está andando na rua, tranquilo e despreocupado, quando dois policiais passam por você e te olham. Você olha de volta por alguns instantes e continua andando, afinal você não deve nada a ninguém. Mas então os policiais param de andar e começar a te encarar, você se sente desconfortável, mas sabe que não fez nada entõa segue com sua caminhada. Até que eles se dirigem até você e param na sua frente, olhando com cara de poucos amigos. "Algo errado?" Você pergunta, mas eles não respondem. Assim que você pergunta pela segunda vez, eles anunciam a prisão. Você vai para a cadeia sem saber o que fez. Lá, você aguarda julgamento e pergunta para todas as pessoas que podem te ouvir por que você está sendo preso, mas não adianta, ninguém te diz.

O dia do julgamento chega e você pede apenas uma coisa ao juíz: "Me diga o que fiz, me diga por que isso está acontecendo. Há algo que eu possa fazer?" Você pensa que você pode ter cometido algum crime mas não se lembra, você pensa que pode ter havido um mal entendido que você teria toda a paciência do mundo para explicar, você pensa que o juiz poderia negociar com você, mas ele responde friamente: "Não." E bate o martelo. Caso encerrado. Não há apelação para instâncias superiores ou recursos. E você nem sabe o porquê.

É altamente provável que você não ache uma coisa dessas justa. Mas isso foi uma mera representação metafórica do que é guardar problemas para si num relacionamento. Parace até exagero, mas como eu já mencionei em outro post, as concessões que são feitas num relacionamento são enganosas e precisam de auto conhecimento para serem feitas de maneira saudável. É muito comum PENSAR que se está fazendo uma concessão, PENSAR que está tudo bem, PENSAR que é melhor não falar, quando na verdade você está acumulando uma bola de neve dentro de você. Sem perceber, você está envenenando seu próprio relacionamento.

Não compartilhar problemas e deixar eles estourarem é uma injustiça com a pessoa que está relacionando com você, pois se ela desconhece o problema, como poderia ajudar na solução? Cada omissão num relacionamento é uma injustiça cometida com o outro. Cada vez que você silencia diante da adversidade, está sentenciando o outro a enfrentar um problema que ele nem sabe que está ali. As coisas vão acontecendo, você está crente de que pode aguentar sozinho, ou que aquilo é uma bobagem que não vale a pena ser falada, quando na verade você está abrindo as portas para um inimigo entrar, e olha que as portas que você está abrindo são de um abrigo que não é só seu.

A partir do momento que você omite, assume a responsabilidade de não deixar que a adversidade tome proporções grandes o suficiente para te machucar ou machucar o outro. Um problema não compartilhado é um problema seu (considerando que o outro sempre se mostre disposto a ouvir). Pense bem, se eu não conto aos outros que que estou mal, estou apostando na percepção e insistência alheia para obter ajuda. Seria muito mais simples "pedir" por ajuda, certo? Afinal, existem pessoas ali pra isso, como amigos família e, é claro, a própria pessoa que está se relacionando com você. Deixar um segredo seu crescer até prejudicar corações alheios não é só injusto, chega a ser cruel.

É como descobrir que a poluição está aumentando, não dizer nada a respeito, e quando alguma catástrofe global acontecer, reclamar e culpar os poluidores. É como observar os erros da execução de um passo de dança, se calar a respeito e depois acusar o dançarino de imperícia. É sentir as infelicidade e insatisfações de alguma disfunção no relacionamento, não dizer nada a respeito e quando o relacionamento entrar em colapso, num ponto sem retorno, apontar o dedo para erros alheios.

É simplesmente injusto.

Todos tem direito de defesa, todos tem direito de saber por quais crimes estão sendo julgados, todos tem direito de saber de um problema que lhes afeta, antes que ele tome proporções grandes demais. Num relacionamento, nenhum problema é só seu, pelo simples fato de que metade do relacionamento depende do seu estado emocional, não importa qual seja a origem do problema, pois na vida as coisas se somam. Você não tem uma cota de paciência e tolerância para trabalho, outra para relacionamento e outra para família, a paciência que você possui é uma só, as emoções que você sente estão todas no mesmo balde no final das contas.

Considerando que 50% do andamento da relação depende de como você está lidando com adversidades, é de se esperar que estas sejam sempre compartilhadas, pois o relacionamento não é só seu, é do outro também. Deixe o orgulho e os medos de lado, a humildade é a marca das pessoas grandes.

Injustiças acontecem sempre que há falta de diálogo, por mais solícito que um dos integrantes do relacionamento seja, por mais tolerância que haja, a falta de conversa abre portas para as bolas de neve descerem montanha abaixo e esmagarem qualquer pobre desavisado que nem sabia que havia neve montanha acima.

Converse, se abra e acima de tudo, seja justo.

Esperança


O algoz que se encarregou de eliminar sonhos e sentimentos ocupa suas calejadas mãos com seu serviço sujo noite e dia. Uma enorme fila de tudo aquilo com o qual sonhei e tudo aquilo que construi esta perante meus olhos. Uma fila para a morrer nas mãos do carrasco que é a solidão, eliminando a sangue frio um por um. Alguns com expressões vazias nos rostos, outros chorando, mas todos parados, aguardando seu destino. Ninguém tenta correr, ninguém tenta escapar do destino pois sabem que é inútil. As garras do carrasco alcançam longe e a morte de desertores é muito mais violenta. É mais fácil aceitar de cabeça baixa, não se debater muito nas garras da morte para não sofrer torturas adicionais. A longa fila parece não ter fim e a cada dia, seus integrantes dão um passo lento e arrastado em direção ao carrasco. Mas por mais longa que seja a fila, ela não é infinita, há um fim para esse desfile de rostos desolados e lagrimas frias. Lá no fim, com uma aparência limpa e serena esta ela, radiante em sua ingenuidade (ou confiança não sei bem). Ao contrário de seus companheiros que morrerão primeiro, ela não tem roupas sujas e marcas de guerra. Não esta maculada com as cicatrizes do conflito que trouxe todos eles para o corredor da morte. Ela tem um leve sorriso no rosto e olha para frente como se um horizonte lindo a esperasse, a cada decapitação, ela sequer pisca, continua chegando mais e mais perto do homem que esta ali para lhe tirar a vida. Fico me perguntando se sua serenidade e confiança serão recompensados no fim , pois com o passar do tempo todos morrerão, todos. Eventualmente, será a vez dela. A ultima que morre.

O curioso é que ela é a única capaz de reviver todos os seus predecessores. Se algo interromper a lâmina do carrasco antes de sua execuão, ela, sozinha, pode trazer de volta a vida todos aqueles que o tempo está ceifando. Eles voltarão com cicatrizes, claro. Mas voltarão mais fortes. Toda fé dos condenados está nela, não há mais ninguém que posse lhes dar força nesse momento sombrio. A aurora de uma nova era será anunciada na hora em que chegar a vez dela de ter a cabeça decepada. Pois nesse dia, nesse momento, saberemos se ela, a esperança, fará jus ao seu otimismo e perseverança, ou se lamentaremos o dia em que ela, a última coisa que restava, morreu.