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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O desabafo



Você diria "não ande" para uma criança que está aprendendo a andar, para que ela não corresse o risco de cair?
Você diria "não saia de casa nunca " para uma pessoa, afim de evitar que ela fosse assaltada?
Você diria á uma mulher para não ter filhos, pois estes inevitavelmente conhecerão o sofrimento e morrerão um dia?
Não?
Mas você diz para os outros não se apaixonarem, para não correr o risco de se decepcionar. Por quê?
O que te faz pensar que de um lado há sofrimento inevitável e o do outro felicidade potencial?
Você se acha sábio e experiente ostentando cautela, mas se esquece que cautela e medo não ensinam nada pra ninguém, e sim a experiência. A maior parte do que você sabe hoje veio de algo que você fez, não do que deixou de fazer.
E agora vem me dizer para não nutrir expectativas? O mundo é feito de expectativas, meu caro. Felicidade e tristeza são feitas de expectativas, que hora são satisfeitas, hora não.
O que você espera que eu faça, que ande como se fosse ser apunhalado a qualquer momento?
De onde você tirou que essa é a maneira mais feliz de se viver a vida?
Ter resistência sem resiliência é inútil, aprenda a se recompor das inevitáveis dores da vida sem choramingar,  vá a campo e se teste, teste os outros.
Ou você espera que as coisas aconteçam enquanto seus sonhos morrem por inanição dentro de você?
Não, não. Não venha me dizer para amar menos, para demonstrar menos ou para viver menos intensamente. Não exite um meio-amar, um quase-gostar, ou uma pseudo-paixão.
Não diga para um atleta não competir por risco de perder, guarde esse seu medo para você. O atleta tem plena consciência de que perder faz parte da competição, assim como todo mundo. Não passou pela sua cabeça que se mesmo assim ele compete é porque deve ter um bom motivo?


Vai guardar suas fichas? Ótimo, pois eu vou apostar as minhas. Só não me venha chorando depois, dizendo que a felicidade não bateu á sua porta.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Metáfora XXIII


Os dois garotos não eram apenas amigos, eram quase irmãos. Tão próximos e parecidos que se trocassem de casa talvez os pais não percebessem. Brincavam das mesmas coisas, riam das mesmas piadas e viam os mesmos desenhos. Consequentemente, era de se esperar que compartilhassem dos mesmos sonhos. Por vezes eles se viam olhando o mesmo horizonte, imaginando as mesmas aventuras e cobiçando os mesmos prêmios.

Mas meninos são meninos, pequenos demais para alcançar as prateleiras altas da cozinha, onde estão os biscoitos mais gostosos, tolos demais para saber como alcançar um objetivo desafiador. E como os meninos que eram, algumas vezes ambos tentavam pular para alcançar aqueles prêmios tão distantes, mas nenhum deles sequer chegava perto.

Mas meninos crescem, e foi durante esse processo de crescimento que eles se viram mais uma vez olhando para o mesmo prêmio. O mais novo não era mais baixo ou fraco que o mais velho, até porque a diferença de idade entre eles era uma questão de poucos meses, portanto era de se esperar que estivessem em pé de igualdade perante um objetivo comum, ou pelo menos era isso que o mais novo pensava.

Então, como os meninos que estavam deixando de ser, eles pularam, esticando seus braços para alcançar o mesmo sonho. Mas desta vez foi diferente, desta vez a ponta dos dedos do mais velho chegou a tocar na lata de biscoitos. Eles se entreolharam depois da tentativa e sorriram um para o outro, como sempre faziam. Mas por dentro, o garoto mais novo não estava rindo, estava com medo. Ele estava começando a descobrir que não era assim tão parecido com seu amigo afinal de contas, apesar de terem a mesma altura, o mais velho pulara mais alto, isso significava que ele tinha forças que o mais novo não tinha, tinha uma vantagem natural sobre ele.

Triste, o menino mais novo reconheceu que compartilhar sonhos iria começar a perder a graça, pois a medida que ficassem mais velhos a diferença entre as capacidades de um e de outro ficaria maior, e sua inabilidade em alcançar sonhos entraria em evidência. Era melhor procurar outros sonhos, era melhor tentar alcançar outras coisas, pois se olhasse para os mesmo objetivos que o mais velho, sairia perdendo para ele.

Pular mais alto se tornou uma das maiores preocupações do menino mais novo desde então. Se bem que hoje ele não é mais um menino... ou é?

sábado, 18 de agosto de 2012

Vento e Calmaria



Algumas vezes nos vemos nos agarrando em nossas crenças com força, como um marujo se agarra ao mastro do navio durante uma forte tempestade. Distorcemos a lógica formal e até ignoramos fatos que estão perante nossos olhos, tudo em prol da nossa crença naquilo que é certo. Durante essas tempestades em que a realidade e a crença batem de frente, nossa força é testada e nossa resistência é aumentada, depois disso vêm os períodos de calmaria onde vamos exercer nossa resiliência e refletir sobre nossas vidas.

E por muitas vezes a realidade bate com tanta força e durante tanto tempo que uma parte de nós começa a se sentir cansada de lutar. A exaustão moral toma conta de nós e começamos a considerar a possibilidade de desistir, de nos deixar levar pela tempestade apenas para relaxar os músculos tensos e doloridos de tanto fazer força. Alguns momentos simplesmente não nos mostram nenhuma possibilidade de melhora, nenhum sinal de que nossos valores nos são vantajosos e somos deixados á mercê do otimismo e da auto-motivação.

Mas existem alguns momentos em que nossas esperanças encontram respaldo na vida prática, alguns raros faróis brilhantes em meio á escuridão da tempestade. Eles vêm restaurar nossas forças e nos lembrar de que nenhuma chuva dura para sempre e que toda jornada é feita de períodos fáceis e difíceis. Estas luzes de esperança vem nos mais diversos formatos, são sinais que nos são dados de tantas maneiras diferentes que pode ser difícil percebê-los. Mas quando isso acontece....

Somos preenchidos com uma indescritível energia, os sentidos que antes estavam nos transmitindo dor e fadiga passam a perceber apenas uma satisfação e inspiração abstratas por se estar aguentando firme, o que antes era "como é difícil estar nesta tempestade" vira "como sou forte por aguentar essa tempestade". Não saímos do lugar, nada mudou na prática, mas nossa percepção da adversidade muda, e para isso basta uma frase de reconhecimento, um sinal, uma luz. Ela será o suficiente para meses de batalha terem valido a pena, ela terá reposto toa a energia que gastamos para sustentarmos nossa crença frente á uma realidade que a desafia. Pois somos assim, vemos o que queremos ver, ouvimos o que queremos ouvir, damos poder áquilo que queremos e nos entorpecemos para o resto.

E quando estamos usando essa habilidade para resistir á adversidades, somos virtualmente invencíveis.