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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Metáfora XXIII


Os dois garotos não eram apenas amigos, eram quase irmãos. Tão próximos e parecidos que se trocassem de casa talvez os pais não percebessem. Brincavam das mesmas coisas, riam das mesmas piadas e viam os mesmos desenhos. Consequentemente, era de se esperar que compartilhassem dos mesmos sonhos. Por vezes eles se viam olhando o mesmo horizonte, imaginando as mesmas aventuras e cobiçando os mesmos prêmios.

Mas meninos são meninos, pequenos demais para alcançar as prateleiras altas da cozinha, onde estão os biscoitos mais gostosos, tolos demais para saber como alcançar um objetivo desafiador. E como os meninos que eram, algumas vezes ambos tentavam pular para alcançar aqueles prêmios tão distantes, mas nenhum deles sequer chegava perto.

Mas meninos crescem, e foi durante esse processo de crescimento que eles se viram mais uma vez olhando para o mesmo prêmio. O mais novo não era mais baixo ou fraco que o mais velho, até porque a diferença de idade entre eles era uma questão de poucos meses, portanto era de se esperar que estivessem em pé de igualdade perante um objetivo comum, ou pelo menos era isso que o mais novo pensava.

Então, como os meninos que estavam deixando de ser, eles pularam, esticando seus braços para alcançar o mesmo sonho. Mas desta vez foi diferente, desta vez a ponta dos dedos do mais velho chegou a tocar na lata de biscoitos. Eles se entreolharam depois da tentativa e sorriram um para o outro, como sempre faziam. Mas por dentro, o garoto mais novo não estava rindo, estava com medo. Ele estava começando a descobrir que não era assim tão parecido com seu amigo afinal de contas, apesar de terem a mesma altura, o mais velho pulara mais alto, isso significava que ele tinha forças que o mais novo não tinha, tinha uma vantagem natural sobre ele.

Triste, o menino mais novo reconheceu que compartilhar sonhos iria começar a perder a graça, pois a medida que ficassem mais velhos a diferença entre as capacidades de um e de outro ficaria maior, e sua inabilidade em alcançar sonhos entraria em evidência. Era melhor procurar outros sonhos, era melhor tentar alcançar outras coisas, pois se olhasse para os mesmo objetivos que o mais velho, sairia perdendo para ele.

Pular mais alto se tornou uma das maiores preocupações do menino mais novo desde então. Se bem que hoje ele não é mais um menino... ou é?

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