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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Dilemas da paixão VII


Depois que conseguimos a conquista, depois que nos estabelecemos emocionalmente, ficamos mais confortáveis, mais acomodados e mais felizes.

Mas não dura muito tempo.

O processo de tentar ou não tentar, se arriscar ou se poupar é apenas um dos dilemas da paixão. Há muitas outras dúvidas pairando sobre o mundo dos sentimentos. Um deles é o da segurança versus liberdade.

A segurança sentimental tem um preço, a comodidade da garantia da doação de sentimentos alheios não vem desacompanhada. O preço a se pagar pelo conforto e a certeza e parte da liberdade.

Funciona assim. Se você é uma pessoa que precisa se sentir seguro constantemente, precisa de demonstrações de apego e afeto com frequência e não consegue se manter emocionalmente sem a garantia absoluta de que a outra pessoa está apegada, submissa e ligada á você, você vai perdurar em relacionamentos onde a outra pessoa está muito mais apegada á você do que você á ela, onde a "vantagem sentimental" é sua. A outra pessoa é mais apaixonada, mas apegada, mais submissa e dependente, isso te da um certo controle da relação, mas tira sua liberdade, pois dependência vem com ciúmes, e ciúmes vem com cobrança e insegurança constantes.

Porém, se a outra pessoa for pouco apegada á você, independente e pouco submissa, você não vai se sentir seguro, consequentemente, o inseguro será você, que teria toda a liberdade do mundo (pois a outra pessoa não depende de você e te deixará livre), mas você mesmo se prende aos seus sentimentos de dependência e o jogo vira. Você vive inseguro, com medos, receios e agonias a cada vez que você vê a possibilidade de perder a pessoa amada.

Há pessoas que não precisam de muita segurança, há pessoas que precisam. De vez em quando os papéis se encaixam razoavelmente bem, mas muitas vezes não. O que é melhor receber?

Mimos e carinho constantemente ou uma leve indiferença misturada com liderança e força?

Grude constante ou uma pulguinha atrás da orelha cada vez que a pessoa sair sozinha?

Liberdade ou segurança?

Muitos votariam por um meio termo, mas assim como tudo no mundo, equilíbrio é algo difícil de se atingir, requer altruísmo morte do ego e todos os seus derivados, como orgulho. Como pedir por parceiros e parceiras equilibradas se você mesmo tem suas tendências falhas?

O que você espera é alguém perfeitamente moldado e adaptado ás suas falhas?
O grau de compreensão, concessão e maturidade que você cobra é igual ao que você tem?
Aquilo que você acha que quer condiz exatamente com aquilo que você realmente precisa?

Liberdade e segurança, em que medida você precisa desses dois opostos?

sábado, 19 de junho de 2010

O ideal de platão

"Ninguém é perfeito"
"Todo mundo tem defeitos"
"As coisas nem sempre são do jeito que agente quer."
"A vida é dura"

Essas frases são famosas, todos nós sabemos que não estamos vivendo num mar de rosas. Todos nós sabemos que o mundo não é um paraíso composto por anjos. Mas então o que seria esse paraíso? O que seria o sublime? O homem perfeito e a sociedade perfeita existem? Ou seu conceito é completamente relativo e subjetivo?

Bem, Platão achava que existiam. Todos conhecem o mito da caverna e sabem como ele mostra que nosso mundo é só uma sombra do mundo real. Para ele todo o homem é apenas uma cópia malfeita do homem perfeito, toda a árvore é apenas uma réplica defeituosa da árvore perfeita, tudo que existe no mundo é uma representação falha de algo maior e melhor que o antecede: o mundo das idéias. (o ideal)

Para ele a perfeição não podia ser relativa, pois não seria perfeição, já que o que é perfeito é imutável. O mundo ideal era o mesmo para sempre e para todos pelo simples fato dele ser perfeito. Logo o que era perfeito para ele, era perfeito para qualquer pessoa.

Mas o que eu achei realmente interessante no pensamento do platão era que ele, assim como todos os outros gregos, acreditava num conceito diferente de perfeição do que acreditamos hoje. Perfeição para um grego não era a ausência de defeitos. Para ser perfeito uma coisa tinha de realizar aquilo que ela fora criada para realizar.

Outro conceito grego muito importante para entender melhor esse pensamento era que o homem, apesar de ser corruptível, tende naturalmente para o bem. Todo o ser humano é, por natureza, bom.

Se juntar mos uma idéia a outra, temos o seguinte pensamento:
Perfeito é aquilo que faz aquilo que foi criado para fazer, aquilo que age de acordo com a própria natureza.
A natureza do homem é boa.
Logo, o homem perfeito é naturalmente bom.

Uma das interpretações que podemos tirar disso é que a ausência de defeitos não é o foco importante da perfeição, mas sim seguir a natureza.

E qual é a nossa natureza?

É sobreviver.

E já que o homem não vive sozinho temos que nos focar na sobrevivência da nossa sociedade.

Teremos mais chances de sobreviver (como sociedade) se ajudarmos uns aos outros, preservarmos o meio ambiente e evitarmos ser destrutivos. E essa é nossa tendência natural, nós apenas deixamos nossas paixões nos corromperem no meio do caminho.

Simples não?

O mundo perfeito, o homem perfeito e asociedade perfeita não são aqueles que não tem defeitos, não são aqueles que não tem necessidades ou são desprovidos de paixões. Esse conceito moderno de perfeição é inacalçável por definição.

Mas se prestarmos mais atenção na vida prática, perceberemos que o ideal não está muito longe da sua realização. Basta um pouco de boa-vontade.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sentido


Ao tentar provar o mundo
Através dos meus sentidos
Percebo algo diferente
Percebo que estou ferido

Como se não bastasse, olho pro meu coração
Mas vejo tudo embaçado, tão precária é a minha visão
Tento ouvir o barulho das ondas, mas não ouço elas quebrando
É a minha audição que, aos poucos, esta me abandonando
Por último, sinto o sangue escorrer e gotejar
Mas não notei pois o meu tato não parece mais funcionar

Meus sentidos me abandonam, um a um desfalecendo
Eu parei de sentir o mundo, eu acho que estou morrendo

Tudo aquilo de mais belo, que a vida pode mostrar
Estou cego demais para poder observar
Todas as belas palavras que paixões irão proferir
Estou surdo demais para poder ouvir
Todas as sensações que um amor me fará sentir
Estou insensível demais para usufruir

O mundo parece morrer, o belo se distancia
A vida perde seu brilho, e eu me afogo em agonia
De não poder sentir, ver ou observar
Mas acima de tudo isso, de não poder gritar
Gritar por socorro, para alguém vir me ajudar
Pois a honra do guerreiro não lhe permite fraquejar
A obrigação do homem, é se manter de pé
Na sua força e postura é que reside sua fé

Uma mágica permeava o caminho que eu trilho
Mas pela primeira vez, não consigo ver seu brilho

Minha sensibilidade ao mundo do trovador
Esta sendo sufocada por uma vida de dor

Dou adeus a toda beleza que um dia me encantou.
Pois desconfio que hoje o seu brilho se apagou.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Os tipos religiosos

A maioria da população mundial hoje tem religião declarada. Uns acreditam mais, outros acreditam menos, mas no fim, o mundo é dominado por religiosos. Com o avanço da ciência o ceticismo ganha força e novos adeptos, mas está longe de ter tamanho e força para fazer frente ás mega-supertições coletivas que dominam a maioria das pessoas.

Mas existem tipos e tipos religiosos. Nem todos são iguais, eles variam em graus de fé e devoção ás suas causas. Vou analizar aqui os cinco tipos principais de religiosos, dos mais radicais aos mais flexíveis.

1. 100% religioso. (o fundamentalista)

Esse é o que "vive para a religião". A vida desse tipo de gente segue a risca o livro sagrado e os ensinamentos de sua religião. Esse tipo de pessoa acha que todos os outros que não tem a mesma religião que ele deveriam ser convertidos ou mortos, e, dependendo de onde esse tipo religioso nascer, ele vai até estar disposto a fazê-lo. Se sua religião diz que é certo, é certo. Se diz que não, não é , e ponto. O simples ato de pensar a respeito, de questionar ou duvidar já é uma blasfêmea, um crime e deve ser punido. Não se relaciona com pessoas que não sejam das mesmas crenças que as suas, seja para relacionamentos amorosos, seja para amizade. Vive totalmente imerso dentro de sua crença e não vê nada que não seja ela.

2. 75% religioso. (o crente)

Crente, por definição é "aquele que crê". Esse tipo religioso muito provavelmente herdou a religião dos pais e nunca pensou muito a respeito dela por não ter mente crítica. Vai a igreja, reza e aceita a maioria das regras morais de sua religião como válidas. Reconhece meia dúzia de mitos como sendo ultrapassados, mas ainda considera seu livro sagrado um guia espiritual bom e aceitável. Acha que sua religião é a mais adequada, mas não chega a ser objetivamente agresivo ou violento com pessoas que seguem outras crenças (ou não seguem nenhuma). Apesar disso, se acha moralmente e espiritualmente superior áqueles que não compartilham de sua crença. Como se ele soubesse de algo que os outros não sabem, como se ele estivesse seguindo um caminho moral melhor do que o dos outros.

3. 50% religioso. (a agnóstico)

Uma pessoa agnóstica, por definição, é aquela que não sabe se sabe ou se não sabe. Um tipo de "em cima do muro" que não tem uma religião declarada. (ou se tem não pratica seus ritos a risca). Tem uma centelha de pensamento crítico que a impede de manifestar fé muito fortemente, mas a tendência para acreditar no sobrenatural ainda é forte demais para formar um ateu. Essa pessoa, se pratica ritos, apenas o faz para agradar a família. Não liga muito para religião em si. Qualquer tipo de atividade ritualística que essa pessoa realize, será por causa de uma inclinação pessoal para tal, (yoga, meditação, etc). Neste nível a pessoa já tem mente a mente analítica o suficiente para começar a formular suas próprias teorias á respeito do mundo metafísico. Essas teorias podem ser pedaços adaptados de outras crenças, esoterismo e misticismo, ou adaptações de teorias científicas.

4. 25% religioso. (espiritualista)

O espiritualista apenas acredita no num plano espiritual, e só. Não pratica rituais, não defende causas religiosas nem acredita em mitos, seja lá quais forem. Acredita num plano superior de energia, mas o jeito como ele funciona e porque ele funciona são questões que ele não tenta responder com religião, e sim com livros esotéricos e teorias de física-quântica, aprimorando suas próprias teorias. Geralemte esse tipo tende ao pensamento "new age" (quem somos nós, o segredo, etc) são pessoas, flexíveis que tendem a ter um conhecimento acumulativo por causa de sua curiosidade. Não mudam seu jeito de viver nem tem limitações morais ou de pensamento por causa das suas crenças. Separam uma coisa da outra e vivem uma vida sem influência forte do pensamento religioso (na prática).

5.0% religioso. (cético)

Bem, este não é exatamente o que poderíamos chamar de "tipo religioso". O cético é racional, materialista e pratico. Só acredita perante provas concretas. Qualquer tipo de idéia ou pensamento sobre o sobrenatural não passa de teoria, que, por definição, não prova nada. O cético é adepto do pensamento científico e não acredita em nenhum tipo de mito, milagre ou superstição (isso inclui astrologia, quiromancia, numerologia, etc).

Tem uma visão crítica e cética do mundo, as teorias se adaptam aos fatos, nunca o contrário. A vida religiosa ou espiritual não tem absolutamente nenhuma influência na vida prática desse tipo de pessoa.

E você, qual é o seu tipo?

sábado, 12 de junho de 2010

Metáfora II

Imagine que a maioria das pessoas pensam o seguinte: há pessoas que cantam bem e pessoas que não cantam. Existem os que nasceram para cantar e os que, infelizmente, nunca serão bons cantores, e ponto.

Mas aí algumas pessoas começam a estudar o processo de cantar. Começam a entender o que acontece com sua garganta quando você canta. Prestam atenção na fisiologia da voz e começam a analizar o modo que ela funciona. E assim vão descobrindo manhas truques, técnicas e métodos para cantar melhor.
Essas técnicas, quando muito bem desenvolvidas e treinadas, podem fazer com que cantores cantem melhor, e ainda mais. Pode fazer com que uma pessoa leiga seja uma boa cantora com prática e exercício.

Mas aí chega alguém e fala: Duvido, ninguém nunca vai superar um cantor nato.
Ser cantor nato não existe. Existem pessoas mais pré-dispostas a desenvolver as habilidades necessárias para o canto. Existem pessoas que tem mais facilidade para assimilar as técnicas que se usa para cantar, mas não existe um cantor nato. E uma pessoa sem nenhuma habilidade pode SIM superar uma pessoa que tem pré-disposição através do treino, da perseverança e da disciplina.

E aí chega outro tipo de pessoa e diz: Mas treinar todo mundo treina! Decorar técnicas eu também consigo. Aí não vale, qualquer um pode fazer isso.

Exatamente, qualquer um pode, é só treinar. Por que você acha que uma pessoa que canta razoavelmente bem tem mais mérito do que a pessoa que treinou para chegar onde está? É exatamente o oposto! O treino a disciplina, o conhecimento é que detém o mérito. Quem canta naturalmente não tem mérito nenhum, pois não se esforçou para chegar onde chegou.
E mesmo assim, ninguém chega a maestria sem treino e disciplina. Mesmo que você seja muito afinado, não será um cantor profissional se não aprender as técnicas necessárias para tal.

Aí chega mais um tipo de pessoa e fala: "Ah, mas aí não é natural. A pessoa está usando uma tonaleda de técnicas de projeção vocal e respiração para fazer aquilo no palco, aposto que normalmente ela não fala daquele jeito..."

É claro que não! Qualquer cantor sabe que se subir ao palco e cantar sem usar suas técnicas, ele não vai impressionar ninguém, ele não vai fazer sucesso, simplesmente porque vão achar sua voz fraca e feia. Existe uma fórmula para se cantar bem. Ele sabe que tem que praticar as técnicas, interiorizá-las até o momento em que, sempre que ele for cantar, elas fiquem naturais. Todos os bons cantores que você conhece usam técnicas de canto, TODOS.
Se você acha um cantor bom é porque ele tem técnicas, treinou essas técnicas e sabe aplicá-las. Não existe um cantor que simplesmente sobe no palco, canta apenas usando o "feeling" e pronto, é um exímio cantor. ISSO NÃO EXISTE.
Existem cantores medianos que fazem isso, mas esses são os medianos. Pode ter certeza absoluta que 100% dos BONS cantores, dos mestres, dos maiores e dos melhores treinaram técnicas, combinaram teoria e prática e, com disciplina e treino, atingiram a excelência naquilo que fazem. Nem todos tiveram os mesmos professores, nem todos seguiram a mesma metodologia de aprendizado, nem todos tem o mesmo estilo, mas as técnicas de projeção e respiração são as mesmas para todos.

Aí chega mais um tipo de pessoa e fala: "Ah, mas se eu fosse cantor, cantaria do meu jeito, sem técnicas nem métodos, por que aí, eu poderia até não fazer sucesso, mas só as pessoas que "realmente" gostassem da minha voz do jeito que ela é que assistiriam aos meus shows."

Bem se você aguentar o vexame de ser vaiado pela esmagadora maioria das pessoas (que gostam de vozes bonitas) toda vez que subir num palco, então tudo bem, faça isso. Mas sua auto-confiança tem que ser de aço. AH, não se esqueça também que nenhum investidor, empresário ou banda vai querer trabalhar com você, afinal, você é um "espanta-público". Logo você terá pouca ou nenhuma propaganda, o que vai fazer com que seja muito mais difícil encontrar esse seu público excêntrico que gosta apenas do seu tipo de voz.
Mas o pior nessa postura do "canto-do-meu-jeito-quem-gostar-gostou" é que as pessoas que forem ao seu show e não gostarem (e essa será a maioria) vão falar para outras pessoas que você canta mal, para que elas não gastem dinheiro com você. E uma das pessoas que até gostaria do seu jeito de cantar pode estar entre essas pessoas que ouviu uma propaganda negativa. E então, pronto, seu tiro sai pela culatra. O público que você quer atrair (que é minoria) é influenciado pela enorme maioria que não gosta de você, pois as pessoas conversam. E isso é um efeito acumulativo, sua má fama está fadada a se espalhar rápido para o ouvido dos seus potenciais fãs.

E então, vem mais uma objeção. A pessoa que diz: "Ah mas eu gosto de pessoas que cantam sem técnicas. Gosto de naturalidade, pra mim esse negócio de técnica não funciona."
Confie em mim, funciona, cantar é um processo que foi analizado até seu âmago. Durante anos e anos muitos especialistas muito mais inteligentes que você que estudaram como e porque uma bela voz é bela. Eles estudaram o efeito que isso tem no nosso cérebro e como nossos ouvidos interpretam os sons para descobrir essa técnicas. O que você diz ser "natural" é apenas um cantor auto-didata, que acabou por ter pré-disposição para assimilar uma quantidade razoável de técnicas sozinho, mas só porque ele não leu e aprendeu essas técnicas racionalmente, isso não que dizer que ele não as utilize. E volto a repetir, ele pode até ser bom na sua concepção pessoal, mas isso não quer dizer que ele faça sucesso e seja realmente um bom cantor.

Bem, no fim das contas, sucesso depende de técnica. Sem técnica, treino e perseverança, não se atinge a maestria. Não se vai do leigo ao mestre apenas vivendo. É preciso estudar e praticar caso se almeje a excelência em alguma atividade seja ela qual for. Quem simplesmente acha que cantar é tudo uma questão de feeling, e que existem bons e maus cantores simplesmente por que eles são assim, tem muito o que estudar. Muito mesmo.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Auto-conhecimento socrático


Antes de Sócrates, os filósofos estavam muito preocupados em explicar a orgem da vida, do universo, o funcionamento da natureza e as forças que regiam nossa realidade. Mas então o famoso filósofo fez uma "virada ética" e colocou o foco da filosofia no homem.

Conhece-te a ti mesmo.

Ele notou que quando perguntava as pessoas quem elas eram, geralmente elas respondiam seus nomes, suas ocupações, sua filiação ou posição social. E isto não é quem você é de verdade.

Mas então qual seria a resposta adequada?

Foi nisso que Sócrates passou muito tempo pensando. E seu método era mais ou menos assim:

Você não pode pensar pelos outros, repetir a opinião alheia como um papagaio e seguir convenções sociais, para ser um filósofo de verdade você teria que pensar por si próprio, mas para fazer isso teria de primeiro eliminar todas as camadas que estão escondendo seu verdadeiro "eu".

Religião, sociedade, família, política, emfim, tudo o que foi "colocado" em você deve ser varrido. Você deve desconsiderar todos os fatores externos para chegar no verdadeiro eu. Após este processo, você deverá começar uma verdadeira jornada de absorção de conhecimento, pensando por si próprio. Nessa jornada não há problema algum em concordar com o que algumas pessoas dizem, mas isso deve ser feio por reflexão própria, não por convenção.

Para Sócrates o processo é infalível porque ele acreditava, como praticamente todo o filósofo grego da época, que a verdadeira natureza humana tendia inexoravelmente para o bem. Sendo assim, você seria uma boa pessoa se conhecesse a si mesmo.

Mas focar em si mesmo não é um pouco egoísta, pensar apenas na própria evolução?

Não, pois aquele que conhece a si mesmo saberia (como todo grego da época) que o homem é um ser político, que vive em sociedade. Saberia seu lugar nela e a importancia de cada um para o equilíbrio da vida social. Não é necessário poder político para fazer o bem, basta auto-conhecimento.

OK, agora, e nós? Onde entramos nisso tudo?

Na era da informação, temos toneladas de conhecimento disponíveis para nós. Novidades, modas e informações chegando cada vez mais rápido até nossas casas. Nesse violento mar, pensar por si próprio não é nada fácil, o mundo está cheio de pseudo-intelectuais, pessoas que lêem meia dúzia de autores e filósofos, e acham que são extremamente inteligentes por causa disso.

Temos modinhas indo e vindo, pessoas formando opiniões lendo as duas primeiras linhas de uma matéria de revista e gente comprando briga para defender idéias que mal entendem.

Isso não é fazer filosofia.

Conheça suas motivações, seus medos, seus anseios e suas fraquezas. A partir daí, construa com bases sólidas uma mente crítica e inteligente. Tenha certeza de que as coisas que você acredita e defende são por experiência e reflexão próprias. Tenha certeza de não estar comprando nada pronto, de não estar simplesmente repetindo uma idéia que você acha inteligente.

Conhece-te a ti mesmo.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Dilemas da paixão VI

De vez em quando, percebemos que nossos sentimentos são maiores do que nós. Percebemos que não somos exatamente donos da nossa razão, e quando estamos sofrendo por causa disso nos sentimos encurralados. E que tudo que podemos fazer é tentar minimizar os danos, e esperar passar.

Daí jogamos nossas esperanças nas mãos do tempo.
Ele, o senhor de todas as mudanças, de todas as curas, da morte e da vida de nossas sentimentos.

Então ele começa a fazer o seu trabalho, apagando lentamente aquilo que lhe afligia. Deixando um vidro embaçado entre você e as suas memórias, deixando elas distantes.

Então você começa a presumir que está seguro, você assume pela lógica que agora você está imune, vacinado contra os males do coração.
E é geralmente nessa hora que você é pego de surpresa, é nessa hora que você pode vê-los (seus sentimentos) atravessarem aquele vidro embaçado como uma bala e te acertarem em cheio.
As longas garras das emoções são maiores do que o tempo que você deixou de sentí-las, e elas ainda podem te alcançar.
Pois sentimentos transcendem as barreiras do tempo com a mesma facilidade que transpõem as barreiras da distância.

Você se pergunta onde errou, talvez tenha esquecido de fechar alguma porta atras de você,
Talvez devia ter feito alguma coisa diferente, mas não sabe dizer o que.
Eles estão ali, como se fosse ontem que você tivesse deixado eles para tras.

Então você se da conta de que o tempo não é o seu maior aliado, e sim os próprios sentimentos. Você precisa combater fogo com fogo.
A única coisa que vai ofuscar o brilho daquelas lembranças é uma luz maior.
Apenas um sentimento ainda maior no presente pode apagar um outro no passado.
Mas enquanto seu coração estiver vazio, você não estará 100% seguro.
Porém, a segurança é garantida se você se atrelar a outro sentimento?

Não. Não é.

Então vem a pergunta: estou fadado a ser escravo dos meus sentimentos? Estou condenado a orbitar minhas emoções como uma lua em torno de seu planeta?
É claro que a resposta imediata será não, que a independência será conquistada, que a autonomia virá mais cedo ou mais tarde.

Mas quando? Através de quais métodos? A custo de quê?

Qual é o verdadeiro preço da liberdade?

terça-feira, 1 de junho de 2010

Talvez...

Talvez estejamos olhando para o lado errado.

Talvez devêssemos, ao invés de escrever Deus com maiúscula, prestar mais atenção em palavras como amor, respeito, compaixão, equilíbrio e humildade.

As horas que passamos repetindo textos (escritos a tanto tempo que perderam grande parte de seu significado original) talvez pudessem ser usadas para conversar com a família, ver os amigos, dar atenção a quem precisa ou fazer algo pelo mundo, como limpar sua casa.
Talvez nossa dependência da liturgia e da ritualística seja justamente uma das coisas que nos atrasa para ir de encontro ao divino.
E parar de olhar para cima um pouco talvez seja bom para que possamos observar as pequenas coisas ao longo do nosso caminho que estamos deixando passar.

Mal sabemos o que há no fundo das nossas mentes e queremos entender o que tem além do céu.
Mal sabemos o que há em nossos corações e queremos saber o que há nos corações alheios.
Não conseguimos nem entrar em contato com nossos vizinhos e achamos que vamos entrar em contato com Deus....

Queremos sempre buscar além.

Talvez esta seja sim a natureza do ser humano, e se for, ela tem um propósito.
E creio que esse propósito seja o de ensinar:
Que talvez tudo na vida comece de dentro pra fora.
Talvez devesse arrumar seu quarto antes de querer ajudar as crianças na África,
Talvez devesse ler mais livros antes de criticar a política de seu país,
Talvez devesse estudar história e filosofia antes de se declarar seguidor de uma religião.
Seria bom pensar em como você pode se ajudar antes de querer ajudar o mundo.
Pois sua revolta não vai curar o mundo,
Seu ódio não vai construir nada, apenas destruir
Mas sua bondade para ajudar, essa sim abre portas

Jesus e Buda marcaram época não por seguir a religião de seu tempo. Muito pelo contrário, eles entraram para a história justamente porque romperam com a religião da época e avançaram seu pensamento ético e moral independente delas.
Se eles ensinavam pelo exemplo, estamos indo mal.
Será que eles queriam mesmo que passássemos horas rezando, praticando rituais e recitando trechos bíblicos e mantras,
Pra depois chegar em casa e reclamar dos políticos, reclamar do relacionamento, reclamar do preço alto do combustível, negar ajuda aos necessitados e deixar nossos idosos em asilos?
Até onde vai nossa bondade para com os que nos cercam?
Até onde vai nossa verdadeira disposição para ajudar quem precisa?
De uam coisa eu sei, na maioria das pessoas ela é menor do que deveria ser.
Talvez o que elas tenham de sobra sejam pensamentos voltados para elas mesmas,
De como elas precisam de mais do que já tem, de como são vítimas da família, dos preços altos, do mundo...
Somos todos simples vítimas de nós mesmos.
De nossas próprias mentes, de nossa ambição, talvez seja disso que precisamos nos afastar.

Talvez nossa capacidade de inventar seja maior do que nossa capacidade de usar corretamente aquilo que inventamos.

Talvez eu esteja certo,

Talvez...