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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Relativismo cultural


Através dos séculos evoluímos como sociedade e fomos aprimorando os mecanismos que nos permitem viver bem e evitar o sofrimento. Houveram os tempos em que achávamos que escravidão era bom, afinal, quem tem escravos lucra com isso.

Mas essa moral falha assim que vemos o ponto de vista do escravo, daí percebemos que esse sistema não é exatamente benéfico para todos. E através desse processo de empatia, fomos percebendo que as regras que regem nossa convivência devem tratar todos como iguais e presumir que todos nós usufruímos dos mesmos direitos básicos.

Afinal, o pensamento é simples: eu não quero que me roubem, que me torturem ou que me matem, então eu vou entrar num acordo com as outras pessoas que também não querem ser roubadas, torturadas e mortas (que são muitas) e nós decidimos não matar, roubar ou torturar uns aos outros. É simples, e isso tem funcionado progressivamente melhor a cada época que passa, qualquer pessoa sensata concorda com isso.

Mas os relativistas culturais não. Para ele a cultura está acima de tudo e de todos, acima dos direitos humanos incluindo o maior e mais importante deles: o direito á vida. Entende-se por manifestação cultural qualquer tipo de ação ou comportamento que pertence á uma certa sociedade, que não seja puramente instintivo. Por exemplo, comer não é cultura, pois todos comem para sobreviver. Mas comer de garfo e faca, ou comer tres vezes ao dia, ou comer apenas certos alimentos, isso sim é cultura.

Sendo assim, estes relativistas acham que se numa sociedade o infanticídio é uma tradição razoavelmente aceita, ninguém pode intereferir no processo, pois "essa é a cultura deles" e estamos fazendo um julgamento moral relativo (julgando a cultura deles inadequada e a nossa adequada). Além disso, estaríamos interferindo na liberdade de uma sociedade que consensualmente vive de uma determinada maneira e tem o direito a fazer tal coisa.

O primeiro problema com relativistas culturais é que eles geralmente se encontram em culturas que não praticam infanticídio, geralmente as pessoas que falam isso não tiveram seus filhos sacrificados, sua genitália mutilada, ou parentes mortos por apredejamento. O relativismo cultural parece muito bom quando as coisas estão acontecendo lá longe, no meio do mato com os índios ou em certos países do oriente médio.

O segundo problema é que a empatia que fez com que nós evoluíssemos os mecaninsmos de cooperação mútua através dos séculos parecem não importar para os relativistas culturais. Eles estão vivos hoje, respirando, tendo liberdade de pensamento para falar que são relativistas justamente por causa de pessoas que pensaram do modo que eles tanto condenam: "Apesar de isso ser uma tradição, isso não é bom para as pessoas, vamos mudar isso."

E o terceiro é que eles condenam o julgamento relativo de certo e errado, este argumento cai sobre si mesmo, afinal a idéia de que devemos respeitar todas as culturas com seus respectivos ritos é relativa. É uma opinião que não encontra respaldo na maioria das pessoas da maioria dos países (se não não existiriam direitos humanos). Se os relativistas acham que os "absolutistas morais" pecam por basearem seu julgamento na própria cultura, eles não são os únicos. Qualquer relativista pensa o que pensa por que foi criado na sua respectiva cultura, não há como escapar dela, as vezes os relativistas acham que estão acima das culturas, olhando tudo de um ponto alto onde sua própria não influencia suas decisões.

Não gosto de colocar nada acima dos direitos humanos e muito menos do mais importante deles que é o direito á vida. Acho que forças outras pessoas a se converter, queimar livros e derrubar templos é invasivo sim, empurrar cultura goela abaixo é ruim, mas a vida humana está acima de qualquer cultura, o bem estar e os direitos básicos da vida estão acima de qualquer tradição ou preferência.




2 comentários:

  1. "Afinal, o pensamento é simples: eu não quero que me roubem, que me torturem ou que me matem, então eu vou entrar num acordo com as outras pessoas que também não querem ser roubadas, torturadas e mortas (que são muitas) e nós decidimos não matar, roubar ou torturar uns aos outros." Abrangendo um pouco mais a discussão entra no direito que cada nação tem de soberania. O caos se instala se culturas deixam de ser preservadas em busca de uma "moral absoluta". Pessoas entraram em acordo em torno da soberania de cada país, nada mais que justo que manter sua liberdade de escolha dentro de seu país do que impor leis que causariam conflitos internacionais. O direito a vida como se referiu também é um ponto chave na discussão, porque entra na questão de "a partir de quando passa a ser considerado" se é a partir da concepção, ou no momento da ejaculação do homem. Porque pra maioria das culturas em que ainda existe o infaticidio as crianças só se tornam o que chamamos de seres sociais a partir do momento em que recebem um nome.
    De qualquer modo um abraço

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  2. Não sei, para mim "soberania de estado" soa como "azar o de quem nasceu no país errado".

    Mas de qualquer forma obrigado pelo comentário!

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