Mas como aproveitar a lição que há na dor quando você não vê razão na adversidade? Como evitar erros se você não sabe onde errou? Nessas horas a vida parece injustiçar-nos ao extremo, jogando infortúnios sem ao menos nos dar a oportunidade de aprender com eles. O sofrer pelo sofrer é um ciclo destrutivo e perigoso, onde não há perspectiva de melhora. O mártir aguenta dores porque tem um motivo, uma razão, uma fé sustentando sua força de vontade. Quando não há razão, quando a vida parece simplesmente uma questão de sorte e azar, o sofrimento vem acompanhado de raiva, que não pode ser direcionada para nada nem ninguém, mas raiva sem destinatário não significa raiva omissa. Ela vai parar em algum lugar, onde?
A mente precisa de razão, de motivo. Se uma pessoa que julga agir corretamente é invadida por infortúnios, uma hora ela vai começar a pensar que sua postura esta errada de algum modo. Afinal, se ele estivesse agindo corretamente, seria recompensada de acordo, certo? A auto-sabotagem começa aí, no momento em que você começa a procurar dentro do quarto por um objeto que não está lá, no momento em que você começa a procurar num quadro uma cor que ele não tem, no momento em que você começa a procurar em si mesmo erros que, supostamente, não existem.
Como a raiva tem de ir para algum lugar, ela vai para esse processo neurótico de auto correção que quase sempre acaba danificando o que estava bom. Você começa a despedaçar seus próprios móveis á procura daquele objeto que você jura que esta ali, você começa a passar solvente no quadro para tentar achar a camada de cor que você se convenceu que existia, você começa a desconstruir virtudes e códigos que já estavam em você, na esperança de parar de sofrer, pois se você não está sofrendo pelos erros, só pode ser pelas virtudes.
A auto-destruição é um processo lento, claro, como todos os processos emocionais são. Porém temos sempre que lembrar que destruir é sempre um processo infinitamente mais simples e mais rápido que construir.
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