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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Metáforas XI


Nenhum ruído, o calabouço está quente e úmido, muito mal iluminado pelas tochas nas paredes. O guerreiro anda por lá sem saber o que vai encontrar. A tensão domina cada músculo do seu corpo e ele segura sua espada com uma força que já teria quebrado a mão de muitos dos seus companheiros.

Seu olhar percorre cada canto de cada pedra que compõe as paredes sujas do lugar, a vida fez do guerreiro um homem alerta, atento e perspicaz, perceber detalhes muitas vezes pode ser uma questão de vida ou morte. Mas não há nada lá, pelo menos nada que seus olhos vejam.

A cada curva que faz, a cada porta de madeira que ele abre com um rangido, sua expectativa de encontrar um inimigo aumenta, tudo isso enquanto ele memoriza a rota que está fazendo para não se perder no caminho, ele foi treinado para resolver problemas no menor espaço de tempo possível e com a maior eficiência possível, foi ensinado a combater inimigos, erradicar ameaças e sempre aprimorar tanto suas táticas de batalha quanto sua capacidade de trabalhar bem com seus aliados. Tudo para maximizar os resultados no campo de batalha.

O treino duro do guerreiro também o transformou numa pessoa humilde, ele tanto sabe que não é perfeito que está sempre despendendo esforços enormes na sua evolução pessoal e na análise de suas fraquezas. Ele sabe que ali dentro pode ter algo maior que ele, ele sabe que naquele lugar escuro e fétido, alguma besta que ele nunca viu na vida pode estar á espera. E ele teme isso, porém se prepara para tal possibilidade da melhor maneira possível.

De vez em quando, um barulho de metal caindo o faz ficar ainda mais tenso, se é que isso é possível, mas é apenas um rato. Ele volta sua atenção para o espaço á sua volta e continua a lenta e cautelosa caminhada rumo ás profundezas. O coração vai batendo mais forte e por alguns intantes sua memória vacila, ele não se lembra do caminho exato que fez para chegar até ali. Não teve a mesma sorte que Teseu, o herói mitológico que recebeu um novêlo de lâ de sua amada para não se perder no labirinto do minotauro. Não, não. Este guerreiro não recebera nada.

Sua mente iria guiá-lo, nada mais. E é então que ele começa a se perguntar se o seu treino o preparou para aquilo. Durante toda sua vida ele seguira os mesmos princípios e sempre acreditara nas mesmas virtudes, e estas sempre o conduziram á vitória. Mas agora, ele duvidava de si mesmo, engolia seco enquanto olhava para as trevas e ia tendo cada vez mais certeza de que ali havia algo para o qual ele não havia sido preparado, havia algo que ele não fora treinado para ver, ou talvez seu treino o tivesse deixado cego para certas coisas que ele nunca considerou existirem.

O passo vai ficando mais lento, o barulho de agua gotejando e a respiração dele são as únicas coisas audíveis no momento. Um frio lhe corre a espinha e ele percebe que está tudo quieto demais, um péssimo sinal num lugar apertado e escuro como aquele. Uma das muitas gotícuals de suor em sua testa escorre pelo lado do olho mas ele não sente, ele sente apenas que algo desconhecido está por perto, enfrentar o desconhecido é uma tarefa árdua, até para um guerreiro como ele. Pode sentir a presença do inimigo, mas será atrás dele, será á frente, será no nível inferior do calabouço?

Ele aprendera a considerar todas as possibilidades, e realmente fizera isso, mas por mais que tivesse sido treinado para enxergar todas as situações possíveis, ele, sozinho nunca poderia se preparar para todas ao mesmo tempo, se fosse atacado nos flancos e pela frente seria seu fim, afinal ele só tinha um escudo. Mas a maior preocupação dele não era o perigo em si, e sim o que a derrota significava. Ele era um guerreiro, batalhar era sua vida, era o que ele fazia, era o que definia ele como pessoa, caso fracassasse, não importa o inimigo que tivesse enfrentando, isso significaria que ele fracassou como guerreiro, logo fracassou como pessoa, não cumpriu suas obrigações e se mostrou incompatente e fraco.

Era realmente muito para se ter em mente num corredor de pedras sujas onde não era possível ver além dos próximos dez metros. Mas apesar de não ver nada, de sentir cheiro de nada e de não ouvir nada, sua experiência em batalha havia desenvolvido um tipo de sexto sentido nele, que de vez em quando funcionava. E agora este sexto sentido estava apitando loucamente, e em sua mente ele sabia:

"Ha algo aqui, eu só não sei o que é..."

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