Teoricamente, colocar suas vontades acima das vontades dos outros é errado, ser egoista é, por definição, uma coisa ruim. Qualquer pessoa madura e razoavelmente tolerante te diria para ser flexível e indulgente com os outros, assim como a grande maioria dos livros de auto-ajuda e livros que falam sobre como lidar com relacionamentos.
Ou seja, uma grande parte das pessoas que já parou para refletir sobre relacionamentos concorda que indulgência é uma coisa boa, que aceitação, tolerância e concessão são coisas que fazem de você uma pessoa melhor e mais fácil de lidar. Aqueles que te cercam vão notar o quão tranquilo você é e quão pouco você exige deles, logo sua companhia será agradável e aqueles que fazem parte do seu círculo social vão se sentir á vontade perto de você.
Logo, a indulgência é a postura mais aconselhável para se ter uma relação tranquila e saudável com os outros.
O que geralmente não fica muito claro é o custo-benefício dessa postura. Afinal o melhor nem sempre é o mais barato ou o mais conveniente. Energia solar e heólica são mais limpas e seguras do que energia nuclear ou energia proveniente de combustíveis fósseis, mas nem por isso são mais baratas e de fácil acesso.
Então o que molda o custo-benefício da indulgência?
Ora, levando em consideração que fazer a vontade alheia muitas vezes significa deixar a sua de lado, podemos concluir que não existe indulgência sem abnegação. Negar os próprios impulsos, as próprias vontades e os próprios interesses partindo do pré-suposto que eles não são mais importantes que os dos outros é um processo essencial para o indulgente.
Eu nem preciso dizer qeu abnegação tem limite, e este será ditado por aquele que abnega. Enquanto o limite não for ultrapassado, a saúde emocional e o stress estarão sobre controle.
Mas esse limite não é fixo, ele vai oscilar de acordo com seu estado emocional, quando você estiver sob stress, ou quando as validações e demonstrações de atenção e carinho estiverem escassas, ele diminuirá. E quando ele diminui, o indulgente corre o risco de de repente achar que está fazendo demais, que sua abnegação passou dos limites e sua postura de mártir social não é compensadora. Isso tráz consequências graves como raiva, frustração e ódio, grande parte direcionados para ele mesmo, que costuma se arrepender de sua postura flexível. Ora, raiva, frustração e ódio geram stress e o stress diminui o nível de tolerância e aceitação dele, logo temos um ciclo vicioso que tende a colapsar muito rápido e com muita violência.
Se não for interrompido, esse ciclo culmina na renuncia do indulgente á continuar cedendo, pois envolto no sentimento de injustiça e ingratidão por parte dos outros, ele recalcula o custo-benefício de seus sacrifícios e chega a conclusão de que ser indulgente não vale a pena. E não é que ele esteja errado, pois a postura é SEMPRE benéfica para os outros, mas nem sempre para aquele que cede.
OK, já sabemos o que acontece quando o limite da abnegação diminui, mas então o que fazer para evitar isso, o que fazer para fazê-lo aumentar? Bem, olhando do ponto de vista em que ela ainda não é totalmente auto-destrutiva, abnegação é uma virtude. E assim como todas as virtudes ela deve ser cultivada e treinada. E como você vai treinar abnegação? Abnegando.
"Mas Rômulo, renunciar demais não era justamente a razão do colapso?"
Exato. E é aí que entra o auto conhecimento. Sabendo qual é o próprio limite, o indulgente pode calcular quando parar de ceder para não entrar em colapso, ele fará esse cálculo levando em conta uma margem de segurança que seria a sua própria oscilação sentimental, sempre estando assim numa zona de segurança emocional.
"Isso parece um pouco complicado..."
Um pouco é modéstia, fazer esses cálculos consigo mesmo ser surtar é como tentar se equilibrar numa corda bamba sem nenhum bastão e com vento forte. Porém é um desafio que o indulgente aceita quando toma a decisão de sê-lo, afinal se ele simplesmente para de ser tolerante e começar a impor suas vontades, apesar de ter muito menos trabalho, estará indo contra seus princípios e terá chances muito maiores de desagradar os outros e por consequência gerar conflitos e separações.
O indulgente está eternamente preso entre seus princípios morais e suas necessidades emocionais. A diferença dele para as outras pessoas é que é sempre a segunda variável que está sob pressão, ataque e questionamento. Pois seu objetivo é libertar não só os outros, mas a si mesmo.
Aceitação é um lento e muitas vezes doloroso processo onde você tira todas barreiras protetoras do seu ego e o expões á todo tipo de ataque.
Abnegação é o ataque feito ao seu ego por você mesmo, mais forte do que qualquer pessoa poderia fazer, pois seu ago não pode revidar em você mesmo.
Indulgência é a combinação dos dois.
E quem vai ser indulgente com o indulgente??
ResponderExcluirA palavra abnegação retrata mais sacrifício do que troca, sim... porque TUDO é uma troca.
A indulgência a todo custo vai adaptando o indulgente a uma situação de desconforto ao mesmo tempo que vai deixando aqueles que se beneficiam disso numa ampla e confortável zona de conforto porque pressupõem que não custa nada um pouco mais de sacrifício, afinal, o indulgente sempre se adapta.
Há limites pra se adaptar...
Te amo.