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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Ciclo II


NEGAÇÃO: Eu não via as coisas como elas eram realmente, eu via uma selva, um campo de batalha implacável onde honra e ética eram meras máscaras. Eu enxergava o mundo como um cenário pós-apocalíptico, onde os fracos lutavam por migalhas e os fortes os esmagavam sempre que tinham chance. Via um mundo de sádicos, onde eu era o único diferente, me via como a luz na escuridão, o farol em meio a tempestade, o virtuoso num mundo deteriorado. Acreditava ser um mártir que apenas os muito sábios e evoluídos reconheceriam, mas que passava desapercebido no mar de crueldade que dominava as relações entre as pessoas. Achava que se fingisse jogar o jogo delas, eu seria invencível, nada poderia me atingir.

RAIVA: Mas algo no meu cálculo deu errado. Eu não era assim tão imune ao fétido mundo de jogos que eu tanto repudiava. Eu não estava assim tão preparado, jogar aqueles jogos e vencer aquelas guerras não era assim tão simples. Senti um ódio por ser derrotado, por ser atingido, por estar vulnerável á todas aquelas manobras que eu tantas vezes via. Senti raiva por achar que venceria todas as minhas batalhas num único movimento, que abateria meus inimigos num único tiro, que minhas antigas crenças e convicções iriam garantir minha vitória caso eu as combinasse com o armamento certo. Mas nada disso aconteceu, e o ódio, mais uma vez, tomou conta de mim.

BARGANHA: Mas talvez tudo fosse apenas um equívoco, um erro de cálculo meu, talvez a dosagem de ética e ambição dentro de mim estivesse errada. Quem sabe tudo isso não fosse apenas uma mera questão de ter escolhido as armas erradas? Comecei a acreditar então que talvez tivesse abordado minhas táticas de maneira equivocada, que talvez eu só precisasse expandir meus horizontes para achar a tática que me faria invencível, talvez eu só precisasse estudar anatomia um pouco mais para aprender a apunhalar no ponto vital certo, talvez eu só precisasse ser um assassino melhor!

DEPRESSÃO: Mas não era essa a resposta. Desde que saí da terra do nunca, jamais havia encontrado prazer em batalhar. Não sei o que me fez pensar que eu encontraria desta vez. Me vi perdido, sem norte. Acreditando que era um fracassado que não tinha coragem de puxar o gatilho. Pensando que estava condenado a ser um fraco num mundo de fortes, que nenhuma tática funcionaria pois eu era um covarde, um menino em meio a homens. A tristeza veio com força, pois eu sabia que meu sonho deveria ser conquistado, e nesse mundo de violência, um fracassado como eu não conseguiria conquistar coisa alguma, nunca conseguiria fazer frente aos bem sucedidos e poderosos.

ACEITAÇÃO: Foi então que eu vi uma pessoa que também havia havia vindo de uma terra do nunca, que também estava tentando achar uma maneira de sobreviver aqui, testando táticas, se machucando e aprendendo. Depois de conversar um pouco com esta pessoa, eu finalmente percebi que eu era, na verdade, parte da maioria, não da minoria. Percebi que aquele não era um mundo de pessoas más e cruéis, mas de pessoas assustadas. Percebi que a guerra não tinha nenhum motivo lógico para estar acontecendo, todos os ataques eram feitos como medida de prevenção. Eu estava cercado de pessoas que tinham medos, dúvidas e receios assim como eu. Ninguém era pior nem melhor, muitos deles também tiveram seus sonhos esmagados, outros ainda tentavam cultivá-los e haviam ainda alguns que de alguma maneira, conseguiram.
Descobri o modo de ser invencível, não era lutando, mas sim deixando de lutar, pois ninguém pode competir com quem não está competindo, ninguém pode derrotar quem não está lutando, não há ataque no vazio. Eu não era obrigado a entrar na guerra, não era obrigado a jogar o jogo, mas nunca percebi isso, até o dia em que eu saí em paz e nenhuma bala me atingiu, foi aí que eu percebi que a tormenta só bate a porta de quem pegou nas armas.

Quanto aos sonhos? Eles estão, como sempre, brilhando por trás de uma densa neblina.

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