Procurando algo específico?

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O bem e o mal



Um certo filósofo europeu da idade média acreditava que existia um princípio ontológico do bem, mas não do mal. Ou seja, o mal, por si, não existe, ele é apenas a ausência de algo natural, que seria o bem.

Por exemplo, se eu pego uma folha e faço um buraco no meio dela, eu estou retirando uma parte da folha que estava lá e deixando um espaço vazio, a folha É, mas o buraco NÃO É (ontológicamente). Por definição, o buraco não é nada senão a ausência da folha naquele espaço, o buraco em si não existe, o que existe é um pedaço de folha que não está onde deveria estar. O buraco não existiria sem uma folha em primeiro lugar, logo a minha idéia de buraco depende da idéia de que havia algo no lugar onde agora está o buraco, ele não pode existir sozinho, algo teve que vir antes dele e se ausentar para criar um estado não-natural de ser.

Ou seja, o mal em si não existe. Defeitos e falhas não existem, o que existe é a ausência da virtude. E, extendendo esta filosofia para um campo mais amplo, sofrimento também não passa da ausência de um estado natural de bem-estar.

Esta visão foi muito disseminada e até hoje inspira livros de auto-ajuda e palestras motivacionais pelo mundo, porque ela acaba fazendo você chegar numa conclusão um tanto quanto otimista do mundo: as pessoas foram feitas para serem boas. Não existem pessoas más, existem pessoas que não tiveram educação ou oportinidades, logo, como você poderia culpar e julgar os outros se a maldade neles, ou por eles cometida não passa de um "acidente de percurso"? Como você poderia apontar os defeitos alheios sabendo que eles são resultado da falta do cultivo de uma virtude na sua criação?

Fica difícil ficar indignado com uma pessoa durante muito tempo se você pensa desse jeito, sentir empatia pelos outros é muito mais fácil quando você sabe que, no fundo, a pessoa não teve muito controle sobre o que ela viria a ser. E isso nos leva á outra conclusão: hora, se a maldade não é nada se não a ausência do bem, para erradicar a maldade, devemos disseminar o bem. Não deixar as folhas com buracos. Não deixar crianças sem educação e homens sem oportunidade, certo?

Os ingredientes são fáceis, mas a receita é complicada. Porém, mesmo que essa não seja a resposta definitiva para curar o mundo, ainda é, de uma certa forma, bom pensar que tudo no mundo foi feito...

...para que você fosse feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário