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terça-feira, 16 de março de 2010

O jogador


No jogo da paixão, cada um bota seu ego em campo e que vença o melhor. Ser bom nesse jogo requer muita disciplina, resistência e, ironicamente, desapaixonamento. E como em qualquer jogo, há quem jogue sujo. Na verdade, jogar limpo nesse jogo é quase impossível, pois você estará fadado a perder muito mais do que ganhar. Conheça agora o perfil daqueles que jogam sujo, ou seja, a maioria.

Esse jogador sabe o que quer, e vai tentar conseguir da melhor maneira possível. Para ele, competir é um detalhe, o importante é ganhar, e permanecer vencedor, permanecer no controle da situação. Nada é mais importante que isso.
O jogador esperto domina a relação, dita as regras do jogo: quando vão se ver, quando não vão, quando o relacionamento termina e quando evolui para um próximo nível.

Um bom jogador desafia múltiplas pessoas para seu jogo, ele sempre tenta jogar com o máximo de pessoas simultaneamente para vencer o maior número de jogos possíveis.

Ele sempre tem um "step", uma situação que ele já domina, caso ele fracasse em alguma outra. Sempre escolhe uma pessoa para deixar vencer mais e ficar mais a vontade apenas para mantê-la interessada em jogar e iludi-la de que tem chances de vencer, nunca mostrando suas verdadeiras habilidades.
Caso ele perca ou seja humilhado em alguma partida, ele procura esse step.

Não existe descanso para esse tipo de jogador, ele sempre estará alerta, sempre pronto para uma nova jogada do lado de lá. Ele tem que estar pronto para rebatê-la, SEMPRE. Um dos lemas dele é nunca ser surpreendido. É justamente por isso que ele costuma ser descrente em relação aos seus adversários.
Não existe altruísmo no jogo da paixão, tudo é feito com algum interesse, com algum propósito. Por isso o jogador sempre desconfia se o jogo está fácil demais ou difícil demais. Extremos são sempre indicadores de anormalidades.
Um eterno desconfiado, sempre manterá uma dose de ceticismo para com seus adversários, pois sabe que subestimar é um erro grave, mas superestimar é pior ainda.

Ele nunca dá créditos de graça, respeita apenas aqueles que também jogam bem, mas isso não quer dizer que os deixe vencer, muito pelo contrário, quando sabe que as habilidades do inimigo são altas, ele joga pra valer.

Para esse jogador, o jogo da paixão é uma coisa muito séria.
Orgulho é a marca registrada dele, se ele perde e sai por baixo, humilhado, ele joga de novo só para terminar a partida no momento em que está vencendo e "sair por cima". Ele sempre detém o último movimento.

O jogador se importa com resultados finais, por isso, ele trabalha a longo prazo. Sabe que as vezes vai ter que deixar o outro ganhar para baixar a guarda, vai ter que fingir que desistiu, vai ter que recusar uma partida. Mas é tudo sempre parte de um plano maior, de um equilíbrio que o levará á vitória final.

Ele é analítico e observador. Ele observa seus potenciais adversários em outros jogos para avaliar seu desempenho e descobrir suas fraquezas, sabendo assim, como subjugá-los mais facilmente. No jogo da paixão, quem confessa seus problemas sentimentais para pessoas demais está dando armas para um possível bom jogador, que irá se disfarçar de amigo para se aproximar. Um jogador esperto sempre conhece seus inimigos nos jogos amistosos.

Se algum dos seus adversários tenta ditar alguma regra nova, o jogo acaba imediatamente, porque quem dita as regras é o jogador, é assim que ele sabe o nível de flexibilidade de cada um, vendo até onde eles se dobram a sua vontade. Assim, ele sempre fala por último, sempre realiza a última jogada.

Mas para ser um jogador não se pode estar apaixonado. Não se pode estar gostando demais do jogo ou estar dependente de seu resultado. Não se pode estar vulnerável ás jogadas inimigas. É preciso ser forte e estar pronto para suspender a partida a qualquer momento, pois é assim que o jogador mostra sua superioridade e independência sentimentais.

É preciso ver o jogo como algo profissional, onde todos jogam com algum interesse em mente, ninguém joga apenas para divertir o outro até que se prove o contrário. E provar algo para um jogador cético é muito difícil, muito mais difícil até do que vencer. E olhe que a experiência mostrou ao jogador que vencer não prova nada.

Esse tipo de jogador está solto por aí aos montes, e seu número está aumentando cada vez mais, porque aqueles que jogam limpo estão descobrindo que não tem a mínima chance contra tantas artimanhas, e acabam sucumbindo ao charlatanismo sentimental também. O jogador esperto é moldado na base da porrada. Ele se desapega de tudo e de todos através de longos processos dolorosos de decepção, raiva, dor e tristesa. Depois de ser posto á ferro e fogo, ele já não sente mais nada, é implacavel no jogo. Não há como competir com jogadores assim se você ainda é do tipo "bom desportista".

Talvez o principal fator que impulsione isso seja o de não haver punição para tais jogadores, nem recompensa para bons desportistas. Na verdade ás vezes olhamos o mundo e parece ser exatamente o contrário que acontece.
Não existe um órgão que regulamenta o jogo da paixão, não existe um juíz na partida, logo como podemos sequer dizer jogo sujo ou limpo se a única referência que temos é nossa própria moralidade (que é relativa e falha).

Mas independente do modo que jogamos, todos queremos sentir os mesmos sentimentos no final das contas.
E você, como você joga?

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