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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Metáforas XXIV


O primeiro olhar não nos revela muito. Claro que tal afirmação tem como referência o fato de que ser bonita não é "muito". A primeira impressão passa tudo aquilo que poderia em seu breve espaço de ser: existe harmonia, suavidade, simetria e até um toque de simplicidade na composição do todo. Até aí, nada mal.
Simplicidade inclusive é uma amiga muito íntima da beleza, lhe auxiliando ontologicamente sempre que possível, pois sofisticação algumas vezes transparece a falta de habilidade em fazer mais com menos, como se os elementos estéticos ali presentes fossem meras adições prolixas ao todo.

Mas voltemos a ela, simples e bela. Se terceiros tivessem nos dito que ela é especial, que sua composição é única e que seu processo de formação teve momentos peculiares que lhe conferiram um status maior, não chegaríamos a duvidar, mas nos aproximaríamos para checar o grau de veracidade da informação dada, muito mais por curiosidade do que por incredulidade. E não o fazemos de súbito, pois a nossa apreciação tem de ser como ela, suave, leve e harmoniosa. Os passos que damos para nos aproximar da musa sob os holofotes são lentos e comedidos, como se estivéssemos testando qual seria a distância necessária para os detalhes se revelarem.

O olhos se semicerram, a cabeça inclina para um lado e depois para o outro e então percebemos...



...percebemos em fim os detalhes que compõem o todo, e aí sim vem o arrebatador fascínio que a musa deveria nos causar. Assimilamos o que o todo realmente significa quando vemos partes tão engenhosamente combinadas para compô-lo. O que antes era uma beleza de nos despertar nada mais que um leve aceno com a cabeça seguido de algum comentário monossilábico manchado com a sombra de um sorriso agora nos ilumina não só a face com um sorriso, mas a alma com uma perplexidade. Percebemos o valor intrínseco daquilo que esta perante os nosso olhos, nos afastamos mais uma vez, para vê-la de longe e lá está a bendita simplicidade novamente, envolta em um brilho antes ausente. Agora que conseguimos captar toda a estética de sua criação, dos fatores que a fizeram vir a ser, percebemos o quão rara ela é.

Os sorrisos ainda nos acometem quando toda essa percepção volta a ecoar em nossas mentes, como quando nos lembramos da frase final de alguma perspicaz piada já contada. A incredulidade, anteriormente uma coadjuvante no amálgama de sentimentos, se recicla de repente. Mas reaparece como que potencializando a hipnose causada pela musa, não tentando negar-lhe a majestade como antes.

Claro que há quem sequer se aproxime, existem aqueles que a olham de soslaio e não se dão o trabalho de uma análise mais detalhada, talvez por falta de tempo ou de sensibilidade estética. Outros chegam a se aproximar, tentando descobrir algo além da simplicidade e beleza da primeira imagem que viram, mas seus encantos lhes permanecem um mistério, esses sim, pobres coitados, sofrem definitivamente da falta de sensibilidade estética.

À nós, afortunados tanto com o tempo e a curiosidade de um olhar mais aproximado quanto com a percepção para desfrutar das revelações por eles trazidas, restam os já mencionados incríveis sentimentos, reverberando numa sinfonia indescritível. E talvez, escondido num trecho posterior desta sinfonia, esteja também uma outra faceta da tal incredulidade, aquela que nos põe a pensar como, durante tanto tempo, tal beleza passou desapercebida?

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