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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Camadas


Ser você mesmo não é tarefa fácil, pois o homem é um animal social e na convivência em sociedade existem regras que quase nunca te deixam totalmente livre. Não existe só um "você" existe aquela pessoa que os outros querem que você seja, existe aquela pessoa que você quer ser e só depois vem "você". Sua verdadeira identidade está escondida atrás de camadas muito bem trabalhadas de restrições sociais e expectativas, tanto suas quanto alheias. São como uma armadura, que até que se assemelha com o corpo que protege, mas difere nos detalhes e no material.

Viver em sociedade significa seguir essas regras e usar essas máscaras. Mas já se perguntou por quê? Nós temos que tomar cuidado para que aquilo que somos não atrapalhe nem machuque as outras pessoas, pois não gostaríamos que o mesmo acontecesse conosco. Então a única utilidade dessas máscaras é a prevenção de dano. Logo, chegamos á uma conclusão óbvia, mas que ninguém parece ver: não é necessária nenhuma máscara quando não há dano em potencial.

Logo, porque você esconderia sentimentos bons, elogios e positividade?

E a resposta é: por medo.

Medo de quê, se essas coisas só fazem bem?

Medo de não ser correspondido, agora a prevenção de danos está trabalhando contra você. Prevenir dano nos outros é quase sempre um cálculo simples, mas prevenir o dano em si mesmo pode acabar sendo um tiro no pé. E é então que voltamos á uma outra questão: por que o medo?

Medo de ter expectativas frustradas, medo de ser injustiçado. Mas lembre-se, expectativa é você quem cria, justiça é você quem faz. Se você faz algo apenas para acumular pontos positivos, faz favores apenas para recebê-los de volta, dá apenas para cobrar, você está apenas provando o quão insinceras são suas tentativas de agradar os outros, logo você não está sendo você mesmo, você está sendo a pessoa que você precisa ser para ter o que você quer.

A diferença, na maioria das vezes é microscópica. Mas há momentos na vida em que podemos ver essa fina linha mais de perto e contemplar quem realmente somos, e essa é uma visão que faz bem ter de vez em quando, pois normalmente nos esquecemos disso. Nos esquecemos de quem somos de tanto corrermos atrás daquilo que, muitas vezes, nunca seremos.

Ciclo II


NEGAÇÃO: Eu não via as coisas como elas eram realmente, eu via uma selva, um campo de batalha implacável onde honra e ética eram meras máscaras. Eu enxergava o mundo como um cenário pós-apocalíptico, onde os fracos lutavam por migalhas e os fortes os esmagavam sempre que tinham chance. Via um mundo de sádicos, onde eu era o único diferente, me via como a luz na escuridão, o farol em meio a tempestade, o virtuoso num mundo deteriorado. Acreditava ser um mártir que apenas os muito sábios e evoluídos reconheceriam, mas que passava desapercebido no mar de crueldade que dominava as relações entre as pessoas. Achava que se fingisse jogar o jogo delas, eu seria invencível, nada poderia me atingir.

RAIVA: Mas algo no meu cálculo deu errado. Eu não era assim tão imune ao fétido mundo de jogos que eu tanto repudiava. Eu não estava assim tão preparado, jogar aqueles jogos e vencer aquelas guerras não era assim tão simples. Senti um ódio por ser derrotado, por ser atingido, por estar vulnerável á todas aquelas manobras que eu tantas vezes via. Senti raiva por achar que venceria todas as minhas batalhas num único movimento, que abateria meus inimigos num único tiro, que minhas antigas crenças e convicções iriam garantir minha vitória caso eu as combinasse com o armamento certo. Mas nada disso aconteceu, e o ódio, mais uma vez, tomou conta de mim.

BARGANHA: Mas talvez tudo fosse apenas um equívoco, um erro de cálculo meu, talvez a dosagem de ética e ambição dentro de mim estivesse errada. Quem sabe tudo isso não fosse apenas uma mera questão de ter escolhido as armas erradas? Comecei a acreditar então que talvez tivesse abordado minhas táticas de maneira equivocada, que talvez eu só precisasse expandir meus horizontes para achar a tática que me faria invencível, talvez eu só precisasse estudar anatomia um pouco mais para aprender a apunhalar no ponto vital certo, talvez eu só precisasse ser um assassino melhor!

DEPRESSÃO: Mas não era essa a resposta. Desde que saí da terra do nunca, jamais havia encontrado prazer em batalhar. Não sei o que me fez pensar que eu encontraria desta vez. Me vi perdido, sem norte. Acreditando que era um fracassado que não tinha coragem de puxar o gatilho. Pensando que estava condenado a ser um fraco num mundo de fortes, que nenhuma tática funcionaria pois eu era um covarde, um menino em meio a homens. A tristeza veio com força, pois eu sabia que meu sonho deveria ser conquistado, e nesse mundo de violência, um fracassado como eu não conseguiria conquistar coisa alguma, nunca conseguiria fazer frente aos bem sucedidos e poderosos.

ACEITAÇÃO: Foi então que eu vi uma pessoa que também havia havia vindo de uma terra do nunca, que também estava tentando achar uma maneira de sobreviver aqui, testando táticas, se machucando e aprendendo. Depois de conversar um pouco com esta pessoa, eu finalmente percebi que eu era, na verdade, parte da maioria, não da minoria. Percebi que aquele não era um mundo de pessoas más e cruéis, mas de pessoas assustadas. Percebi que a guerra não tinha nenhum motivo lógico para estar acontecendo, todos os ataques eram feitos como medida de prevenção. Eu estava cercado de pessoas que tinham medos, dúvidas e receios assim como eu. Ninguém era pior nem melhor, muitos deles também tiveram seus sonhos esmagados, outros ainda tentavam cultivá-los e haviam ainda alguns que de alguma maneira, conseguiram.
Descobri o modo de ser invencível, não era lutando, mas sim deixando de lutar, pois ninguém pode competir com quem não está competindo, ninguém pode derrotar quem não está lutando, não há ataque no vazio. Eu não era obrigado a entrar na guerra, não era obrigado a jogar o jogo, mas nunca percebi isso, até o dia em que eu saí em paz e nenhuma bala me atingiu, foi aí que eu percebi que a tormenta só bate a porta de quem pegou nas armas.

Quanto aos sonhos? Eles estão, como sempre, brilhando por trás de uma densa neblina.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Menina


Olha lá aquela menina, que sabe e não sabe o que quer
Que hora parece criança, hora parece mulher

Olha ela dizendo "vai" quando é pra você ficar
Olha os colegas que ela faz pra você se enciumar
Olha a saia curta demais, só pra todo mundo olhar
E ai daquele que abrir a boca pra começar a julgar

Olha ela insatisfeita com o belo corpo que tem
Como se coxas fossem pré-requisito para se amar alguém
Olha ela dizendo que é feia, só pra você discordar
E ai de quem mencionar outras e começar a comparar.

Olha ela dizendo "nada" e depois fazendo bico
Quando você pergunta "o que foi?" tentando entender, aflito
Olha só ela desastrada, derrubando uma coisa no chão
Olha só ela toda mimada, batendo o pé por atenção

Olha ela, olha a menina que gosta de chocolate
Que tem horror a barata, que adora fazer arte
Olha a menina que ainda usa canetinhas coloridas
Que da um gritinho quando reencontra aquelas melhores amigas
Que tem bichos de pelúcia com nome próprio em cima da cama
Que ouvia rock, assistia disney e ainda guarda essas lembranças

Não é capa de revista, não é matéria de jornal
Ela é só uma menina, mas isso não faz mal
Se ela cuida de quem ama, se ela tem objetivos
Se ela não desiste dos sonhos e valoriza os amigos
Se sabe ser fiel, compreensiva e sincera
Suas manias viram charme, deixando-a mais bela
E no fundo é isso que todo o bom homem quer:
Coração de menina, atitude de mulher.

A última


Sorrindo cheguei aos céus, chorando voltei pra cá
Viajando vi seis paisagens, cada uma em seu lugar
Cortei e fui cortado, fui herói e fui vilão
Hora ouvia minha mente, hora o meu coração

Sonhando cheguei aos céus, acordando voltei pra cá
Dormi seis belas noites, banhadas á luz do luar
Dominei e fui dominado, fui sábio e fui bufão
Hora com coerência, hora com contradição

Parece-me que seis vidas se passaram desde então
Tamanha foi a diferença entre cada situação
Parece-me que nos seis anos em que estive viajando
Vivi em seis mundos distintos, apenas procurando

Procurando não a sétima, ou uma das outras seis
Mas sim a viajem que eu faria pela última vez
A última estrada, a última noite, a última vida que viverei
Procuro pela última, das outras eu já não sei.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Resiliência


Muitas vezes achamos que ser duro, resistente e inflexível é a solução para nossos problemas. Achamos que se formos firmes o suficiente, bateremos de frente com os problemas e eles se quebrarão perante nossa força de vontade inabalável. Pensamos que se nos recusarmos a sair da nossa posição, desviaremos nossos problemas do nosso caminho pelo simples fato de que dois corpos não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo.

Isso se chama resistência.

Porém, ser resistente não significa que você se recuperará facilmente caso sua força de vontade seja quebrada. Não garante que você aprenderá com seus erros e não voltará a repeti-los. Quanto mais duro é o material, mais difícil será de repará-lo. Poucas são as forças que derrubam o resistente, mas depois que ele é derrubado, recuperar-se não é fácil.

E é por isso que na vida deve-se cultivar a resiliência.

Ela não define o tanto de pressão que você aguenta, mas sim a sua capacidade de voltar ao seu estado normal depois de ser atingido. Sua capacidade de recuperação após os momentos de crise, o quão facilmente você junta os cacos e os cola de novo depois que algo o quebra.

Pense bem, ninguém é invencível, ninguém é imortal, todos estamos suscetíveis a sofrimento, logo por mais resistentes que sejamos, nunca estaremos acima de todas as adversidades da vida. Logo, não é a resistência que vai diminuir nosso sofrimento, e sim a resiliência. Tanto os fortes quanto os fracos irão sofrer um dia, mas por quanto tempo irão sofrer? Isso é a resiliência quem vai dizer.

O bambu é tão resistente quanto a maioria das árvores que crescem na china com ele, a única diferença é que ele tem a capacidade de facilmente voltar a se erguer depois de dobrar.

Os momentos de dificuldade nos testam, mas as lições trazidas com eles vem na hora que estamos limpando a bagunça, que estamos calculando as perdas da batalha travada, no momento em que estamos nos recuperando. Enquanto estamos sob fogo inimigo, sob a pressão do medo, da dúvida e da dor, pouco podemos ver á nossa frente, poucos são os julgamentos confiáveis que fazemos na turbulência da adversidade.

Resistência é importante, mas resiliência é imprescindível, afinal, como já dizia o sábio:

"A dor é inevitável, o sofrimento é opcional"

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O jogo


O termo PUA é uma abreviação de "Pick Up Artist", gíria americana antiga que hoje está relacionada com o ato de "pegar/ficar" com outras pessoas através do uso de técnicas de sedução. Nas últimas décadas, o conhecimento na área de psicologia, combinado com extensas observações dos chamados "sedutólogos" produziu muitos livros, video-aulas, palestras e até reality shows basedos em vender um novo produto:

A habilidade de pegar mulher.

Da mesma maneira que cosméticos são o segundo maior mercado do mundo apenas porque a grande maioria das mulheres que caminha sobre a terra não se sente bonita sem eles, a habilidade de seduzir mulheres é um "produto" rentável porque quase todos os homens heterossexuais do mundo consideram isso uma demonstração direta e objetiva de seu valor e poder.

Por causa disso, o movimento não demorou a se propagar, comunidades de PUA's começaram a surgir em todo mundo e homens liam livros e mais livros para desvendar os segredos dessa técnitca secreta que os faria virarem casanovas super cobiçados. Homens aparentemente bem-sucedidos e populares revelavam seus segredos e enriqueciam com a necessidade masculina de ser "o caçador."

Quase toda a metodologia da sedução tem um respaldo científico, claro. Muitas das técnicas empregadas pelos PUA's usam desde hipnose e programação neurolinguística até coisas simples como psicologia reversa. Muito do conhecimento que eles produziram é extremamente útil e realmente há livros que todos os homens deveriam ler.

Porém, aprender a falar "Hi, how are you" e "My name is Fulano" não faz de você um falante de inglês. Assim como tocar uma música do legião urbana no violão não faz de você um músico e saber dois passos de forró não faz de você um dançarino.

O conhecimento que os sedutólogos produziram não vai necessáriamente criar homens confiantes e seguros. O conjunto de técnicas pode até ter sua eficácia, mas o que vai transformar o homem é o auto-aprimoramento, e este, na minha opinião, não começa em bares ou boates. Ego é um balão sem nó, é fácil enchê-lo com um sopro, mas ele vai esvaziar na mesma velocidade pelo mesmo buraco que foi enchido. Aqueles que depositam na sedução a esperança de serem felizes se esquecem que sedução é um jogo, e num jogo, por mais que você seja bom, você um dia vai perder.

Acredito sim que há homens extraordinários escondidos atrás de uma muralha de insegurança, pessoas incríveis que simplesmente não sabem vender o próprio produto e não podem contar com a iniciativa feminina. Acredito que muitos homens valorosos precisam apenas daquele empurrãozinho para serem notados. Porém, esses homens frequentemente cometem o erro de acreditar muito nas técnicas...

...e eles precisam em primeiro lugar acreditar em si mesmos.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Maldição


Enquanto o trabalho do cientista é responder perguntas, o do filósofo é fazê-las. O acúmulo de conhecimento começa com questionamento, o primeiro passo para descobrir é justamente ter a curiosidade de perguntar, sendo assim, podemos inferir que á princípio, a centelha filosófica é algo bo mpor trazer conhecimento.

Mas conhecimento e felicidade nem sempre caminham juntas na estrada da vida. O filósofo tem consigo a centelha que lhe fará aguçar sua mente, mas não seu coração. Sua maldição é perguntar demais, e a vida nem sempre responde prontamente aos nossos dilemas. Levamos meses, as vees anos para responder perguntas aparentemente simples. A vontade de evitar o sofrimento e buscar a felicidade se torna praticamente uma investigação científica de comparação de resultados, tantas são as perguntas feitas acerca do processo.

Assim como na luz todo o objeto projeta uma sombra, na mente do filósofo todo o pensamento, acontecimento, ação e sentimento projeta uma pergunta: por quê? Sua ânsia por entender o mundo e a si mesmo o leva á caminhos obscuros por onde poucos se aventuram, por vezes ele descobre coisas úteis, mas são longos os períodos de aflição trazidos pelas respostas para as quais ele não estava preparado. São agoniantes os momentos em que ele simplesmente tem que encarar o fato de que teoria sem prática não leva a nada, que ter respondido muitas perguntas e pensado sobre muito assuntos, simplesmente não o imuniza de certas situações.

É como uma criança que pergunta "por quê" indefinidamente. Vai chegar um momento que ela simplesmente não vai entender a resposta, ou um momento em que a resposta já não é mais relevante. O ciclo de perguntas encontra seu fim ao mesmo em que a utilidade delas desaparece. A coleta de informações cessa e o filósofo fica com um enorme quebra cabeças, tentando combinar as peças de diferentes modos, dando voltas nos conceitos que ele mesmo já formou, tentando buscar uma resposta que responda todas as perguntas, tentando simplificar o que ele complicou, tentando achar aquela regra geral que explique tudo.

Para cada enigma resolvido, surgem mais dois. Para cada solução, nascem mais dois problemas. É sua paixão e sua perdição, o objeto de seu fascínio e de sua dor, é o processo que o faz ser o que é, mas também é o processo que o atormenta, e sempre atormentará enquanto ele tiver um coração humano e estiver suscetível á emoções.

O processo de filosofar.

"Nenhum homem deveria estudar filosofia antes dos 40 anos"

Dilemas da paixo XIII


Sentimentos são viajantes do tempo. Apesar da vida se viver, teoricamente, no presente, muitas vezes nos vemos sendo fortemente influenciados por sentimentos que tem origem naquilo que já foi, ou naquilo que será. Nosso passado e nosso presente por vezes nos abençoam com alegrias que não estão ali, e as vezes nos amaldiçoam com agonias também inexistem no momento que vivemos.

As longas garras dos sentimentos parecem sempre conseguir nos alcançar, no passado através de traumas, experiências e lembranças, e no futuro através de sonhos, expectativas e receios. É claro que essa influência não é uniforme, algumas pessoas são mais propícias a receberem a visita dos sentimentos do futuro, outras, do passado. E algumas outras ainda parecem não se deixar levar por eles, vivem um dia de cada vez e não são muito influenciadas nem pelos sonhos nem por pesadelos.

Qual seria a que mais nos aproxima da felicidade?

Ignorar passado e futuro nos imuniza até certo ponto, não tememos perguntas como "e se?". Ver apenas o momento presente simplifica muitos dos nossos cálculos de custo benefício simplesmente porque as variáveis a serem calculadas são poucas, o dia de hoje é um dia curto. Ver cada situação como única s singular nos faz poder aproveitá-las melhor, e evita a perda de oportunidades. Porém há uma desvantagem nisso, a probabilidade de cair em ciclos viciosos aumenta se você não presta atenção no passado ou aprende a enxergar situações a longo prazo, cometer o mesmo erro repetidas vezes é infinitamente mais fácil para pessoas de memória emocional de curto prazo, pois quer queiram quer não, quem ensina é a dor. Se esta não se perpetuar em nós, sofreremos indefinidamente pelas mesmas coisas, sem poder evoluir.

Por outro lado, a postura daquele que se apega á futuro e passado está sempre evitando os infortúnios pelos quais ele já passou, pois sua boa memória o alertará do perigo eminente. Ele também poderá contar com uma alegria adicional quando perceber que seu sonho se aproxima, pois assim que uma situação que parece levar até seu objetivo se apresenta, a alegria do presente se soma com a alegria do futuro, fazendo o desfrutar de uam amostra da incrível sensação que é ter um sonho realizado. Entretanto, os sonhos desse tipo de pessoa são frágeis e podem estar sob ameaça á qualquer sinal de infortúnio. Qualquer coisa que "pareça" uma desgraça, ou pele menos lembra uma, será descartada no medo de perder aquilo que ainda nem se tem. O novo caminho é evitado apenas por "parecer" levar para um lugar diferente do que aquele que se deseja chegar.

O dilema então é: experimentar, desconsiderando riscos? Ou retroceder, desperdiçando possíveis oportunidades? Observar as situações através daquilo que elas podem vir a ser ou aquilo que elas são?Longo prazo ou curto prazo? Utilizar o passado como guia ou presumir que cada pessoa e cada situação é diferente?

Qual das duas posturas é mais adequada para garantir nossa felicidade? E se há uma terceira entre as duas, onde ela se encontra e como praticá-la?

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Mimadas


Para cada mulher que queimou um sutiã em protesto, mil homens saíram ás ruas reinvindicando melhores condições de trabalho em minas, gráficas e fazendas. Para cada mulher que apanha em casa, centenas de homens são espancados e violentados em prisões e favelas no mundo todo. Para cada mulher que não tem dinheiro para dar o leitinho das crianças, cem homens mendigam nas ruas para se alimentar.

O sofrimento feminino é um mito, um fantasma que assombra o homem moderno e o coloca em uma falsa posição de opressor, onde todas as suas conquistas e avanços em prol da humanidade são simplesmente ignorados. Temos que nos lembrar de todos os homens que morreram caçando comida no período pré-histórico, de todos os homens que deram suas vidas para defender idéias novas e perigosas em tempos de opressão e ignorância. De todos os homens que passaram anos trancados em laboratórios para inovar tecnologias que fazem nossas vidas infinitamente mais fáceis. As feministas simplesmente cospem na imagem de todos esses homens e, usando as tecnollogias inventadas por eles, linhas de raciocínio inventadas por eles e assumindo cargos em grandes empresas fundadas por eles, dizem que o tempo de opressão passou e agora é hora delas tomarem as rédeas das próprias vidas e, se possível, das nossas também.

O vitimismo feminino simplesmente assume que durante toda a história da humanidade a grande maioria dos homens "escolheu" deixar as mulheres em casa e sair para caçar, trabalhar e morrer em guerras. Parte do absurdo pressuposto de que todas as mulheres que estavam dentro de casa eram infelizes e estavam loucas para sair e trabalhar pesado em minas de carvão e ir para a guerra também. Hora, me poupe.

O mundo de hoje foi moldado em cima do sangue e suor de milhões de homens que contribuíram, uns mais e outros menos, para nossa evolução. Homens e mulheres caminharam juntos nessa evolução, cada um fazendo sua parte, mas hoje a insatisfaão de umgrupo relativamente pequeno de mulheres se transformou num movimento de proporções globais que já não é mais o que deveria ser: uma luta por igualdade.

Votar é suficiete? Não. Ter montanhas de leis e políticas públicas favoritistas e algumas vezes inconstitucionais é suficiente? Não. Ser o sexo com a maior expectativa de vida e menor índice de acidente no trabalho é suficiente? Não.

A verdade é que nunca será suficiente. O choro feminino por atenção tomou proporções de movimento social e pensamento filosófico. resmungar virou linha de pensamento, virou "personalidade" e as reclamações vão ficando mais sofisticadas a medida que nossa sociedade vai, como sempre, se sofisticando.

Por que os países onde o feminismo é mais forte concentram o maior número de mulheres infelizes? Por que é que quanto mais bem sucedida uma mulher for em sua carreira, menor as suas chances de se casar? Por que será que das pessoas que largam o emprego ou tiram licença por motivo de stress ou saúde, a maioria é mulher? A igualdade está custando caro ás mulheres, e isso não é culpa dos homens.

Eu ainda acho que uma pessoa que quer ser bem-sucedida na carreira que goste, ter tempo para todos os hobbies com os quais se identifica, desenvolver todos os talentos que acha interessante e ainda se dedicar á família tem que estar preparada para lidar com todo o stress que essa visão utóica implica. Ao invés de colocar a culpa dos insucessos e das infelicidades no modo como a sociedade opera, pois afinal, uma coisa que todo o adulto aprende com o tempo é que resmungar não resolve problemas, e feminismo hoje é basicamente isso: resmungar.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Metáfora XVIII



Se um estagiário que ganha 500 reais e acabou de abrir a conta pedir um empréstimo de, digamos: 100.000 reais, é provável que o gerente ria da cara dele e nem o leve á sério. Porém, se um concursado que ganha 13.000 por mês e tem conta á dez anos fizer a mesma coisa, aí a história é outra. Qual é a diferença entre os dois? Porque um tem crédito e o outro não?

Bem, o banco (assim como todo mundo nesse planeta) não quer perder dinheiro, logo, porque ele emprestaria 100.000 para um jovem que tem exatamente o perfil de uma pessoa que não vai poder pagar? O risco que o banco corre é muito grande, logo, é melhor reunir as informações sobre o cliente e, a partir delas, estipular um crédito. Se o estagiário pedisse um valor em torno de 200 reais, isso seria perfeitamente aceitável.

O crédito do cliente e estipulado pelo tempo que ele tem a conta, o tanto que ele ganha e, principalmente, sua estabilidade financeira. Uma certa média entre estas três variáveis é feita para se determinar quanto o banco está disposto á emprestar para aquele cliente.

Agora imagine um banco que funciona quase deste jeito, com duas diferenças:

1. A variável de maior peso na avaliação do seu crédito não é o tanto que você ganha ou seu tempo de conta, mas sim sua estabilidade financeira, ou seja, o que mais vai pesar é o tamanho do comprometimento que você mostra em pagar suas dívidas, não a capacidade em fazê-lo.

2. A taxa de juros é zero. O banco não vai cobrar um centavo a mais de você, ele vai ter dar uma quantia e esperar exatamente o mesmo de volta, nem mais nem menos. O banco não tem a menor intenção de lucrar em cima de você, ele te empresta 1.000 e não se importa se você vai pagar em 100 vezes de 10, contanto que você não atrase nenhuma parcela.

Agora imagine que você a pouco tempo abriu uma conta nesse banco e depositou uma quantia significativa de dinheiro. Apenas um dia depois, o banco lhe diz que seu crédito é X, onde X é um valor pelo menos 100 vezes maior que o seu depósito. Você chega a se perguntar como é possível ter crédito aprovado com tanta facilidade e até se pergunta se aquilo não é um golpe. Mas o que o novo correntista se esquece é que esse banco não avalia só correntistas próprios, ele observa os potenciais clientes muito antes destes paterem ás suas portas. Afinal, a variável de maior peso para a avaliação de crédito é: "Esse cliente é confiável?" e não "esse cliente é rico?".

O banco já havia observado o modo como você trata suas dívidas e o seu grau de comprometimento com suas obrigações, ele já havia observado coisas minúsculas que diziam muito sobre você, como por exemplo seus planos de longo prazo, no que você gasta seu dinheiro e em quanto tempo ele acaba, emfim, o banco já traçou seu perfil antes de abrir sua conta. Ou seja, se ele disse que você tem um crédito muito alto á juro zero e com prazos flexíveis, confie.

Você deve ter sido bem avaliado.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Segunda Aurora


Apesar da escuridão
Dos lugares que já vi
Com o brilho dos teus olhos
Encontrei o que perdi

Uma nítida lembrança
Aos poucos floresceu
E se tornou um sentimento
Que acho que sempre foi seu

Menti milhares de vezes
Para tentar acobertar
A paixão que eu sabia
Que não podia controlar

Mas olhando teus olhos verdes
Não pude me conter
Eram muitas as coisas lindas
Que eu pensava de você

As amarras da prudência
Foram, de novo, embora
Pois o calor do teu beijo
Trouxe minha segunda aurora
De novos horizontes
De novas sensações
E do amor que se semeia
Dentre os nossos corações

Herói


Não acho que nenhuma pessoa qu etenha o cérebro operando normalmente esta completamente isenta de sentir emoções. Ansiedade, paixão, felicidade, medo e tantas outras que parecem ser onipresentes na nossa vida sempre estarão lá, não adianta muito fingir que elas não estão.

Quando era pequeno, achava que os heróis eram heróis porque não tinham medo de nada, achava que o que fazia um homem de valor era a morte de todo e qualquer sentimento que o prejudicasse. Um homem forte não sabia o que era dúvida, medo, insegurança ou hesitação. O homem independente não conheceria as palavras apego ou carência. Eu pensei que me igualaria a esses homens no dia em que exterminasse de algum modo os sentimentos que me faziam humano.

Mas com o tempo fui percebendo que não. Que não ter medo não indicava força alguma. Uma pessoa que não tem medo de gatos e se aproxima de um não merece nenhuma medalha por fazê-lo, por que ela teria mérit em fazer algo que para ela é normal? Hora, se os heróis eram homens desprovidos das emoções que todos temos aos montes, eles não merecem nosso respeito, pois afinal eles não precisam despeender um pingo de força de vontade para serem heróicos.

E foi aí que vi que não era a ausência do medo, mas sim o jeito com o qual eles o enfrentavam.

Meus heróis tinham medo sim. Eles tinham dúvidas sim. Mas eles sabiam como lidar com elas. Eles sabiam que seus medos não podiam ser maiores que suas convicções, eles sabiam que muitas vezes eles se sentiam fracos e temerosos, mas tinham de se mostrar fortes para passar força para aqueles que acreditavam neles, incluindo eles mesmos.

Muito recentemente fui consultado por uma pessoa sobre o que fazer perante uma certa situação emocionalmente conflituosa. Observei toda a insegurança que a pessoa demonstrava ao me descrever sua situação e o poder que as dúvidas exerciam sobre ela. Observei o medo de errar, o medo de escolher errado e se arrepender. Vi que a única diferença entre eu e aquela pessoa naquele momento era que eu havia aprendido a lidar com aquele medo em específico e ela não.

Eu sabia que eu sentia as mesmas coisas, tinha os mesmos impulsos de me deixar paralizar e gritar por ajuda, tinha a mesma pré-disposição de pensar negativamente acerca do resultado das minhas decisões, mas eu apenas havia aprendido a lidar com isso, aprendi fazer apesar de temer. Aprendi que mesmo que eu duvidasse das minhas capacidades, tinha de testá-las, percebi que mesmo que tivesse medo das respostas, eu TINHA de fazer as perguntas. E os momentos em que mais me orgulhei de mim mesmo foram aqueles em que minha força de vontade de alcançar algo foi maior que o medo de fracassar. Em que a victoria inspirava mais que o medo.

O herói conquista seu medo por meio de uma combinação de insistência e resistência. Através do auto-conhecimento, ele sabe se defender dos seus próprios inimigos, mas isso não quer dizer que eles não estão lá. Ele aprende a colocar sua força de vontade, sua ética e suas convicções acima dos sentimentos que o prejudicam, mas isso não quer dizer que ele não os sente. Fingir a inexistência dos seus inimigos é o primeiro passo para ser apunhalado por eles pelas costas, o herói os conhece tão bem quanto conhece seus aliados, e é por isso que ele luta batalhas de maneira tão gloriosa.

Saiba quem são os heróis ao seu redor, você pode aprender muito com eles. E o mais importante, saiba que tipo de heroísmo você já realizou, e prepare-se para os próximos.

"Um tolo não conhece medo, um herói não mostra medo."

domingo, 11 de dezembro de 2011

Metáfora XVII


No mundo de hoje, apesar de reclamarmos de políticos corruptos e donos de empresa gananciosos, nós temos também uma certa dose de egoísmo de vez em quando. E nas relações sociais hoje, há vezes em que o conceito do que é certo e o que é errado não coincide com aquilo que é vantajoso e o que é desvantajoso. Existem pequenas situações em que o custo benefício aponta para o imoral e nós, presumindo que nossas ações não serão muito destrutivas, o fazemos mesmo assim.

Mas há pouquíssimas pessoas que, por fatores de criação ou experiência pessoal, seguem princípios de maneira um pouco mais rígida que o resto do mundo. Pessoas que não comprariam DVD's piratas, nunca baixariam uma música ilegalmente, nunca usariam falhas nas leis e normas a seu favor e nunca prejudicariam os outros em benefício próprio. Essas pessoas são raras, justamente porque hoje, na sociedade em que vivemos, decidir não comprar produtos piratas, por exemplo, significa gastar muito mais dinheiro com originais. Essa pessoa não está sendo premiada ou reconhecida por ser ética e comprar originais, ninguém está dando mérito ou validação social á ela por causa disso, portanto, olhando de um ponto de vista prático, é uma postura que só trás desvantagem, certo?

O bom cidadão seria então um trouxa que tem mais trabalho que os outros em seguir leis e gasta mais dinheiro porque não se aproveita de situações vantajosas. Ele é visto como um perdedor que segue regras inúteis e cultiva valores mortos, que não trarão reconhecimento para ele.

Mas isso é o que a maioria das pessoas costuma pensar, não todas. Pois bom cidadão reconhece bom cidadão. As pessoas que cultivam certas virtudes sabem as encontrar nos outros. Além do mais, o cidadão comum nunca saberá a tranquilidade, paz de espírito e consciência limpa da qual o bom cidadão desfruta. O orgulho que ele tem de seguir seus princípios, a alegria que ele tem de olhar para sua coleção de DVD's e saber que são todos originais, de olhar para seu dinheiro e saber foi tudo honestamente ganho, de olhar para sua posição social e saber que nenhuma regra foi violada para que ele chegasse até lá.

O bom cidadão sabe que custa caro ser honesto, sabe que dá trabalho não tirar vantagem de ninguém, ele sabe que escolheu o caminho difícil, e é por isso mesmo que ele tem tanto orgulho de ser como é, porque sua felicidade jaz justamente no esforço adicional que ele despeende para ser o incorruptível entre os corruptos, o fiel entre os traidores, o honesto entre os dissimulados...

o farol em meio a escuridão.

Contos do bardo (parte II - capítulo VII)


Já sentindo o vento do litoral aumentar e esfriar sua face, o bardo tirou o pingente do pescoço, ele brilhava fracamente, mas pulsava como um coração. Ele poderia dar as costas, poderia ir embora naquele momento e recomeçar a caminhar no litoral. Mas havia feito uma promessa para si mesmo. Aquela promessa antiga que ele sempre honraria dali para frente para ter certeza de que não haveriam mais arrependimentos.

Apenas o som dos seus próprios passos no mármores brancos se somavam ao som das ondas quebrando, não havia ninguém ali, ele olhou para a estátua da princesa com o vestido no centro da praça e disse a si mesmo:

-Se há um momento, é agora. - Ele caminhou na direção da perfeita escultura que olhava para o norte com as mãos unidas na frente do peito. - Norte... é sempre para onde caminho...

Ao se apriximar da princesa de pedra o pingente pulsou mais forte, o bardo não tinha mais dúvidas, tinha de testar sua magia ali. Não queria se arrepender novamente. Olhou para a face dela, invadido por nostalgia e curiosidade, fechou os dedos em volta do pingente mágico e esticou o braço apontando-o para ela, então disse as palavras mágicas:

-Vide avis ignius.

O que aconteceu em seguida superou todas as suas expectativas, os altos estalos da pedra rachando acompanharam o aumento do brilho de seu artefato, e quando a escultura já estava completamente rachada e o pingente brilhando tanto que forçavao bardo a cerrar os olhos, a explosão aconteceu.

Ele foi arremessado para trás pela energia quente que emanou da explosão e ficou desorientado por um minuto, não estava mais segurando o seu pingente e percebeu que estava de costas no mármore frio da praça, porém sentindo como se estivesse á dois metros de uma enorme fogueira, tamanho era o calor que ele sentia á sua frente. O bardo se levantou, limpou as roupas e viu os pequenos pedaços de pedra no chão, esfregou os olhos e viu seu pingente flutuando á dois metros do chão irradiando uma luz alaranjada, e logo na frente dele, estava a princesa.

- Ela estava dentro da estátua esse tempo todo... - Sussurrou ele, sem acreditar no que via.

Caminhou lentamente em direção a ela, e vice-versa. O vento continuava batendo, porém as ondas recuaram. Tempos atrás, fora aquilo que ele vira no farol. Fora aquele brilho, e apesar de o farol ter ruído, o que agora tomava seu lugar era fascinante. E ele entendia perfeitamente o porque da mudança.

Mal sabia ele que a explosão, além de recuar as marés, também limpara o céu. Mil estrelas observaram os dois jovens naquela noite.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Contos do bardo (parte II - capítulo VI)


O vento estava soprando forte, mas isso era natural, afinal ali era o litoral. A praça redonda feita de mármore branco ficava na areia, de modo que a maré alta invadia o liso piso onde agora o bardo se encontrava. Os bancos de madeira agora estavam vazios, era apenas ele e a estátua da princesa no centro da praça, nenhuma das pessoas que estava ali quando ele chegara permanecera depois do crepúsculo, á noite, litorais não eram lugares muito amigáveis nessa época do ano.

Ele já não estava sentado, cansara de ficar sentado. Estava de joelhos, vendo as ondas quebrarem nos pequenos degraus de pedra que davam acesso á praça. Era a maré alta, estava chegando. Pouquíssimos dias se passaram desde que ele parara ali para descansar, mas vira muitas pessoas e conversara bastante naqueles bancos. Pescadores, vendedores, matriarcas e até seus companheiros de viagens haviam passado tardes inteiras ali naqueles bancos. Na verdade, ele conversara tanto que se esquecera de que lugar era aquele, a praça fora construída exatamente no ponto onde antes havia O Farol, que lhe guiara por doze luas através de metade daquelas planícies.

Ele tirou o pingente mágico de dentro da blusa e observou seu fraco brilho por um instante, sua fênix morta jazia aprisionada ali, reunindo forças para voar de novo, para brilhar de novo. A estátua também estava ali, erradiando o mesmo calor fraco que o pingente. Ele se levantou e olhou para o mar agitado, sentiu um certo desconforto invadí-lo. Não gostava de mares agitados, nunca gostara. O calor de seu colar chegava a esquentar seu peito levemente, mas o que o intrigava não era isso, era que o colar só havia voltado a brilhar quando ele voltara para a praça. Há um tempo atrás, nas sua jornada, poderia jurar que não veria aquele brilho alaranjado por pelo menos seis luas, mas lá estava ele, pressentindo algo que estava por vir, ou lembrando de algo que já havia sido.

Quando a maré alta chegar, esta praça será inundada... por quê ela foi construída aqui? Será que o povo dessa vila não aprendeu nada com a queda do Farol? Ou será que esta era a intenção? Será que a pessoa que ordenou a construção, tanto do farol quanto da praça estava propositalmente fazendo monumentos temporários, para serem destruídos na lua alta? Se assim fosse, ele seria o primeiro a ter que deixar o lugar.

-Quantos viajantes desavisado olharam este lugar e nutriram esperanças de fazer dele um lar? Quantos outros viajantes não tiveram a minha capacidade de observação e morreram afogados na maré alta?

Mas suas lápides não estavam ali para provar nada. E naquelas planícies, dúvida era pior que certeza. Ele levou a mão ao cabo da adaga, ainda manchada de sangue coagulado de sua própria ave, apenas para se sentir seguro. Suspirou e o ar úmido do mar invadiu suas narinas numa sensação de nostalgia e medo. Que tipo de tirano construía tão perto do litoral? Será que era alguém tão obcecado pelo litoral que não conseguia ficar longe dele?

- De qualquer maneira, meus dias aqui estão contados. - Sem mapa e sem rumo, o bardo olhou para o céu, buscando sua única referência de orientação, as estrelas. Mas elas estavam encobertas pela tempestade, a maldita tempestade. Se houvesse magia dentro daquela estátua, se fosse ela quem estivesse fazendo seu pingente vibrar, ele poderia tentar fazer magia e se salvar. Mas isso era muito otimismo, e otimismo era um privilégio dos poderosos, donos de terras, cavalos e reinos. Ele era só um bardo, armado com uma pequena adaga e enfraquecido por uma viagem longa.

Não, não era hora de ser otimista, era hora de pintar o pior dos quadros, e o pior dos quadros era sempre o mesmo: morte.

- Como eu odeio tempestades... - Disse ele para si mesmo enquanto se aproximava da estátua anormalmente bem esculpida da jovem que nunca vira. - Como eu odeio...

Transformação


Muitas vezes olho para meus problemas e não sei ao certo se estou evoluindo e aprendendo a me aceitar como sou ou se estou fechando os olhos para uma realidade que não quero ver e me estagnando num estado de negação. Não sei ao certo se estou mostrando sabedoria ao aceitar certas coisas, ou mostrando fraqueza por não tentar mudá-las.

Difícil definir onde termina a tolerância e onde começa a fraqueza, você aceita por ser forte ou por ser fraco? Certas adversidades aparecem tantas vezes seguidas, ou perduram por um tempo tão grande que você começa a se perguntar se o destino está tentando abrir os olhos para algo que você tem que mudar ou se está tentando fazer você se acostumar com algo que não mudará, para então seguir em frente. Algumas vezes o sofrimento longo ou repetitivo parece transmitir muitas mensagens, parte de nós grita por mudança, parte de nós que simplesmente transcender e se transformar em algo novo, mas como podemos ter certeza que essa mudança é saudável, como ter certeza que só estamos mudando para agradas outros? Como podemos ter certeza de que o custo-benefício da mudança ira ser positivo?

Outra parte de nós pede calmamente para deixar tudo como está, diz para ter paciência, pois tudo se ajeitará. Diz que é assim que as coisas são e que é melhor poupar sofrimento e aceitar sua condição. Mas como saber se isso não é comodismo, como ter certeza de que essas coisas são realmente insuperáveis? Como saber se não estamos realmente a um passo de uma transformação?

O modo como vemos o mundo é uma eterna dualidade, estaremos lutando contra o imutável? Tentando nos misturar numa sociedade com a qual não concordamos e agradar pessoas de quem não gostamos?

Ou estaremos aceitando o inaceitável, parados concordando com aquilo que discordamos pelo medo de sermos diferentes?

Quando a luta vale ou não a pena?

Você nunca sabe se está na fase da negação ou na fase da aceitação, pois as coisas que você aceita e toma como certas podem muito bem ser na verdade coisas que você precisa mudar e superar, mas nega para si mesmo dizendo: é assim que sou, ou é assim que as coisas são. Nesse caso, você se condena por preguiça e fraqueza a não evoluir.

Assim como as coisas contra as quais você luta ou tenta mudar podem muito bem ser verdades que você tem que aprender a aceitar, mas você teima dizendo: eu vou mudar, ou eu vou mudar isso. Nesse caso você irá despender esforço e stress inútil por tempo indeterminado, pois está lutando uma batalha perdida.

Estaremos tentando mover uma pedra que não pode ser movida? Ou estaremos desistindo de movê-la por superestimar seu peso? E se estamos no meio termo, onde algumas verdades estão lá e outras estão cá, quais são elas? Quais são as partes de você que você tem que aceitar e quais as que você tem que mudar? E o mais importante, esse julgamento foi feito por você, ou pela maneira que as pessoas te observavam?

Somos metamorfoses ambulantes sim, mas há três perguntas que toda pessoa deveria fazer a si mesma:

Como estou me transformando?
Por que estou me transformando?

E a mais importante:

NO QUÊ eu estou me transformando?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O lobo do homem


Existe uma corrente de pensamento bastante radical que é mais ou menos assim:

O homem, no fundo, é mal. Por trás de todas as camadas sociais que colocamos sobre nós, escondemos animais tão selvagens quanto qualquer outro que divide o planeta conosco. Somos essencialmente egoístas, territorialistas e agressivos, e mataríamos nossos vizinhos não fosse a lei que nos impede de fazê-lo. O homem não tem nenhuma inclinação natural para altruísmo, cooperação ou paz, a lei do mais forte se aplicaria a nós da mesma forma crua com que se aplica ao resto dos seres.

O pensamento do homem egoísta leva em conta o instinto de sobrevivência, e assume que nenhum comportamento será maior ou mais forte que ele. O que não é verdade, não é preciso procurar muito na natureza para ver que existem excessões, como a proteção da cria, por exemplo. Muitos animais já evoluíram mecanismos complexos de cooperação e altruísmo que garantem a sobrevivência da comunidade em que vivem como um todo, a natureza nem sempre funciona na base do cada um por si.

Essa visão também prega que em qualquer situação de privação, o indivíduo irá optar pela guerra e pelo conflito para eliminar seus potenciais inimigos, ao invés de fazer tréguas e ser cooperativo. Isso é um equívoco. Na natureza, suas chances de sobrevivência são sempre maiores se você anda em grupo, e isso se aplica a nós. Se você estivesse numa ilha isolada com dez pessoas, seu primeiro instinto não seria matar as dez para garantir sua sobrevivência, pois você saberia que elas poderiam ter habilidades úteis e aumentar suas chances de sobreviver através de cooperação.

Na verdade o ser humano só recorre a retaliação quando a cooperação não é possível. Seu instinto vai mandar você unir forças, mas se isso não for possível, aí sim você será impelido a proteger sua existência na base da agressão. Não é preciso ser uma criatura muito inteligente para perceber que a união faz a força.

O problema do mundo de hoje é que o sistema financeiro e social não propicia cooperação. No capitalismo, assim que eu abro uma loja, as outras lojas vizinhas se tornam, automaticamente, minhas inimigas. Se eu estou no mercado de trabalho, toda e qualquer outra pessoa é minha concorrente. Logo, porque seríamos cooperativos quando ajudar o outro significa prejudicar a si mesmo? Como ser cooperativo num sistema onde o ganho de um quase sempre representa a perda de outro?No mundo de hoje, a maioria dos dos dilemas morais tem uma resposta muito simples: nós não ganhamos nada ajudando as pessoas. O excesso de população e e distanciamento emocional entre as pessoas criou esse defeito na nossa interação com os outros seres humanos, e apenas aqueles por quem nutrimos empatia podem contar com nossa ajuda.

Não acho que sejamos assim tão maus, o lobo do homem de Hobbes só sobrevive por causa de um formato falho de se montar uma sociedade. No dia em que bem estar for mais importante qeu status, em que sabedoria for mais importante que poder e que empatia for mais forte que orgulho aí sim veremos o dia em que as pessoas olharão umas para as outras e não verão concorrentes ou inimigos...

...verão a si mesmas.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O bem e o mal



Um certo filósofo europeu da idade média acreditava que existia um princípio ontológico do bem, mas não do mal. Ou seja, o mal, por si, não existe, ele é apenas a ausência de algo natural, que seria o bem.

Por exemplo, se eu pego uma folha e faço um buraco no meio dela, eu estou retirando uma parte da folha que estava lá e deixando um espaço vazio, a folha É, mas o buraco NÃO É (ontológicamente). Por definição, o buraco não é nada senão a ausência da folha naquele espaço, o buraco em si não existe, o que existe é um pedaço de folha que não está onde deveria estar. O buraco não existiria sem uma folha em primeiro lugar, logo a minha idéia de buraco depende da idéia de que havia algo no lugar onde agora está o buraco, ele não pode existir sozinho, algo teve que vir antes dele e se ausentar para criar um estado não-natural de ser.

Ou seja, o mal em si não existe. Defeitos e falhas não existem, o que existe é a ausência da virtude. E, extendendo esta filosofia para um campo mais amplo, sofrimento também não passa da ausência de um estado natural de bem-estar.

Esta visão foi muito disseminada e até hoje inspira livros de auto-ajuda e palestras motivacionais pelo mundo, porque ela acaba fazendo você chegar numa conclusão um tanto quanto otimista do mundo: as pessoas foram feitas para serem boas. Não existem pessoas más, existem pessoas que não tiveram educação ou oportinidades, logo, como você poderia culpar e julgar os outros se a maldade neles, ou por eles cometida não passa de um "acidente de percurso"? Como você poderia apontar os defeitos alheios sabendo que eles são resultado da falta do cultivo de uma virtude na sua criação?

Fica difícil ficar indignado com uma pessoa durante muito tempo se você pensa desse jeito, sentir empatia pelos outros é muito mais fácil quando você sabe que, no fundo, a pessoa não teve muito controle sobre o que ela viria a ser. E isso nos leva á outra conclusão: hora, se a maldade não é nada se não a ausência do bem, para erradicar a maldade, devemos disseminar o bem. Não deixar as folhas com buracos. Não deixar crianças sem educação e homens sem oportunidade, certo?

Os ingredientes são fáceis, mas a receita é complicada. Porém, mesmo que essa não seja a resposta definitiva para curar o mundo, ainda é, de uma certa forma, bom pensar que tudo no mundo foi feito...

...para que você fosse feliz.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Complicada


Relação complicada essa nossa.

Algumas vezes estamos em sintonia tão grande que nos tornamos um só. Este é o momento em que estamos mais fortes e podemos fazer frente a toda e qualquer adversidade. Nada pode nos abalar, nossas virtudes se somam de uma forma tão poderosa que da a impressão de que nós dois formamos uma terceira pessoa.

Mas há também momentos em que estamos tão diferentes um do outro que nem parece que somos tão próximos, cada um vai para uma direção, cada um segue uma filosofia. Nessas horas, a verdade nunca tem um lado só, os problemas nunca parecem de simples solução.

Há brigas, claro. Certas vezes odiamos um ao outro, certas vezes juramos nos aniquilar por acreditarmos que um era prejudicial a existência do outro. Esses momentos são sofridos, porque no fundo sabemos que temos que aceitar o convívio, temos que aceitar um ao outro.

E também ha os raros momentos de alegria, em que nos amamos. Em que olhamos um para o outro e vemos todas as qualidades que temos e o quão perfeitamente elas se complementam. Muitas vezes acredito que esses momentos quase sempre concidem com as épocas em que há uma terceira pessoa para nos conciliar.

Mas em geral temos uma relação meio complicada...

Eu e eu mesmo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Faça você mesmo!


Uma pessoa que eu não vejo a muito tempo se aproxima e diz: "Nossa, você tá sumido, sábado saiu e nem me chamou, que palha! Me liga pra gente se ver!"
Eu tenho vontade de responder (sarcasticamente): "Ah é, realmente, porque você tem me ligado esse tempo todo e eu aqui ignorando essas ligações, realmente sou muito palha. Recusei o seu convite para sair no sábado também! Pode deixar, vou corresponder ás suas intermináveis demonstrações de consideração á altura daqui pra frente!"

Todo mundo quer ser mimado, todo mundo gosta de ser o centro das atenções e de se sentir indispensável para os outros. Todo mundo gosta de ser lembrado. Mas eu fico profundamente perplexo com pessoas que querem isso tudo sem mover um dedo. Pessoas que não me ligam, e pedem que eu ligue para elas, pessoas que não me convidam para sair, e reclamam que eu não as convido, pessoas que reclamam por não receber aquilo que não dão.

A pessoa assume, seguindo não sei qual lógica, que eu tenho a obrigação de lembrar delas, de fazer elas se sentirem especiais e de demonstrar consideração, que eu deveria relembrá-las do quão especiais e legais elas são pelo simples fato delas precisarem dessas coisas. A variável mais importante da equação é ignorada não sei como: "o quanto você esta demonstrando?"

Quando tenho vontade de ver alguém, de conversar com alguém, de passar o tempo com alguém, eu ligo, eu mando mensagem, eu entro em contato. E não tô falando de "agente tem que se ver um dia..." Isso e nada é a mesma coisa. Estou falando de "sexta vou no bar X no horário Y quer ir também?" Tome a atitude, marque o local e o horário, convide quando houver um evento, aí sim nós conversamos.

E mesmo se você estiver fazendo tudo isso e não for correspondido, não fique cobrando, a pessoa está tentando te dizer da maneira educada que não está muito afim de te ver, ou simplesmente não se importa muito com você. Aceite, nem todo mundo te ama, descubra quem quer mesmo te ver e quem não quer com atitude, não fique sentado esperando as ligações e chegarem, só para depois reclamar de quem não demonstrou aquilo que você queria que demonstrassem.

Siga a regra do 2 para 1. Marque 1 vez, se a pessoa desmarcou, espere um tempo e marque de novo. Se ela desmarcou uma segunda vez, desista. Uma pessoa que não consegue demonstrar consideração para você 1 vez para cada 2 vezes que você o faz não merece sua atenção. Se algo exepcional realmente impediu que a pessoa te ligasse ou reservasse um tempo para você na agenda dela, não se preocupe, a pessoa vai fazer questão de deixar claro que isso estava além do poder dela através de ATITUDE: "poxa, vou ter que desmarcar com você de novo, mil desculpas, mas olha, dia X na hora Y agente vai sair e fazer tal coisa! Você tem minha palavra!"

Duas demonstrações seguidas de consideração rejeitadas ou ignoradas sem uma oferta de imediata de compensação são a maneira da pessoa dizer: você é uma opção, não uma prioridade. Aprenda a ler essas coisas para não chorar pelos cantos nem ficar cobrando de pessoas que não estão dispostas a dar. E o mais importante, deixe o orgulho e o medo de lado e FAÇA! Quanto mais você deixar a iniciativa nas mãos das pessoas menos poder sobre sua própria felicidade você tem. Tome as rédeas da sua vida e aproxime-se VOCÊ das pessoas que você quer ter por perto.

Afinal como você já bem sabe, se você quer alguma coisa bem feita...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

I want to go to the Green Park


Although it was not raining, the day was cold and the clouds were obstructing the sunrays. But that had always been his favorite weather. The little boy was sitting on the back seat of his father's car, looking through the window with blue eyes and a mind full of thoughts that were not exactly suitable for his age. He did not even remember the destination of the car, probably because he didn't really care about it.

The little philosopher was observing the trees and the light poles passing by, seeing the city he knew so well when suddenly, he saw it. He saw the Green Park. The child was amazed by the bright lights of the enormous rides that rose inside the fences. The dazzling combination of colors caught his eyes and the boy leaned forward, touching the glass with his nose. In that moment, the world just stopped spinning, he could not hear nor see anything else, mesmerised by the fascinating structure of the park, the little boy could just think of one thing: "I want to go to the green park".

His thought was so strong that he even whispered those words, blurring the window in front of his mouth with the hot air that came out as he spoke. The car kept on moving and the Green Park was left behind, as it became farther and smaller, the feelings dwelling inside the boy grew stronger, but they were too many: disappointment, for he knew they were not visiting the Park on that day. Hopefulness, for he believed that he would go there someday. And even a certain dosage of fear, because he was still too young to be brave enough to go on the largest rides, like the thrilling roller coaster at the center of the Park.

As the dreamland went out of sight, he still kept his face close to the window, twisting his neck as if this could make him see it again. Only a few seconds later he got away from the glass and returned to his position on the back seat, looking at his own knees, bewildered by the vision. His father took a quick glance at his offspring and noticed the strange silence, so he asked: "What is wrong, my son?" The little boy took a while to realize he had been asked a question, so full of thoughts his mind was. He stared at his father for a brief moment and then answered: "Nothing."
He had never been a very good liar, but his father did not seem preoccupied, for he did not ask again.

But the mind of the the child had now a clear image imprinted on it. The lights of the Green Park were dancing in his thoughts... "I want to go to the Green Park" The little philosopher said again to himself, still not realizing how loud he was pronouncing his wish. He looked again to the street, but there were only gray buildings and trees, the same tedious vision he was used to have of the city. Little did he know that from that day on he would dream and daydream about the Green Park and its fascinating rides, he would make several drawings and write countless poems just imagining how fun and unforgettable it would be to spend a day there.

But, as you know, conceiving dreams is just a philosopher's specialty. So the image he created of that park that day was so clear and full of detail that sometimes, he would be swept off his feet just by thinking of it. Of course he would eventually see the Green Park again, each and every time he put his eyes upon the magical place, the effect would be almost the same, he would get speechless for a moment, his mouth would open and but no sound would come out. No sound, except one. A small sentence that would be whispered many times for many years, that would be heard by many friends and known by many people. A small sentence that could perfectly translate all the feelings that the vision of the Park aroused on him:

"I want to go to the Green Park."