Procurando algo específico?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O lobo do homem


Existe uma corrente de pensamento bastante radical que é mais ou menos assim:

O homem, no fundo, é mal. Por trás de todas as camadas sociais que colocamos sobre nós, escondemos animais tão selvagens quanto qualquer outro que divide o planeta conosco. Somos essencialmente egoístas, territorialistas e agressivos, e mataríamos nossos vizinhos não fosse a lei que nos impede de fazê-lo. O homem não tem nenhuma inclinação natural para altruísmo, cooperação ou paz, a lei do mais forte se aplicaria a nós da mesma forma crua com que se aplica ao resto dos seres.

O pensamento do homem egoísta leva em conta o instinto de sobrevivência, e assume que nenhum comportamento será maior ou mais forte que ele. O que não é verdade, não é preciso procurar muito na natureza para ver que existem excessões, como a proteção da cria, por exemplo. Muitos animais já evoluíram mecanismos complexos de cooperação e altruísmo que garantem a sobrevivência da comunidade em que vivem como um todo, a natureza nem sempre funciona na base do cada um por si.

Essa visão também prega que em qualquer situação de privação, o indivíduo irá optar pela guerra e pelo conflito para eliminar seus potenciais inimigos, ao invés de fazer tréguas e ser cooperativo. Isso é um equívoco. Na natureza, suas chances de sobrevivência são sempre maiores se você anda em grupo, e isso se aplica a nós. Se você estivesse numa ilha isolada com dez pessoas, seu primeiro instinto não seria matar as dez para garantir sua sobrevivência, pois você saberia que elas poderiam ter habilidades úteis e aumentar suas chances de sobreviver através de cooperação.

Na verdade o ser humano só recorre a retaliação quando a cooperação não é possível. Seu instinto vai mandar você unir forças, mas se isso não for possível, aí sim você será impelido a proteger sua existência na base da agressão. Não é preciso ser uma criatura muito inteligente para perceber que a união faz a força.

O problema do mundo de hoje é que o sistema financeiro e social não propicia cooperação. No capitalismo, assim que eu abro uma loja, as outras lojas vizinhas se tornam, automaticamente, minhas inimigas. Se eu estou no mercado de trabalho, toda e qualquer outra pessoa é minha concorrente. Logo, porque seríamos cooperativos quando ajudar o outro significa prejudicar a si mesmo? Como ser cooperativo num sistema onde o ganho de um quase sempre representa a perda de outro?No mundo de hoje, a maioria dos dos dilemas morais tem uma resposta muito simples: nós não ganhamos nada ajudando as pessoas. O excesso de população e e distanciamento emocional entre as pessoas criou esse defeito na nossa interação com os outros seres humanos, e apenas aqueles por quem nutrimos empatia podem contar com nossa ajuda.

Não acho que sejamos assim tão maus, o lobo do homem de Hobbes só sobrevive por causa de um formato falho de se montar uma sociedade. No dia em que bem estar for mais importante qeu status, em que sabedoria for mais importante que poder e que empatia for mais forte que orgulho aí sim veremos o dia em que as pessoas olharão umas para as outras e não verão concorrentes ou inimigos...

...verão a si mesmas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário