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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Metáfora VI

Existem muitas técnicas orientais de luta que, para desenvolver a resistência dos ossos (Muay Thay) ou dos músculos (Judô), uitlizam exercícios extremamente dolorosos que submetem o lutador a dores extremas e levam o corpo dele ao limite para que este possa desenvolver maior força. Essas técnicas sempre funcionaram a olongo dos milhares de anos que elas existem, e continuam funcionando hoje.

Lá está o iniciante de Muay thai extremamente empolgado para aprender, sonhando em se tornar um lutador profissional um dia, sonhando em entrar para os melhores do mundo, sabe que vai ter que suar muito mas está otimista e disposto a fazê-lo. Disse que era isso que ele queria, seus amigos falaram que o treino era difícil, mas ele estava pronto.

Isso é porque ele ainda não começou o treino de verdade.

No Muay Thai, para desenvolver a resistência do osso da canela, o aprendiz tem que condicioná-la através da técnica de calejamento, na qual é preciso fragmentar o osso levemente para que novas camadas de cálcio sejam naturalmente produzidas pelo corpo em cima das danificadas, fazendo com que, a longo prazo, o lutador tenha ossos muito mais resistentes por causa das camadas de cálcio adicionais.

Aí o aprendiz pensa, tudo bem, é um sacrifício que vale apena! E vai todo feliz fazer esse negócio de fragmentar o osso.

Ele vê que terá de dar canelada (com vontade) numa tábua de madeira grossa e dura, á princípio ele hesita, aquilo deve doer muito, mas se é um passo no caminho para a evolução, tudo bem!

E ele dá as caneladas.

Em um minuto ele está vendo estrelas de tanta dor. O coitadinho realmente não fazia idéia do quanto doía, ele vê a canela roxa, até sangrando em alguns pontos e se pergunta como os profissionais aguentaram o treino. Á princípio sente uma raiva descontrolada de tudo (até da tábua), sente ódio por ter escolhido aquela arte marcial, depois percebe que sua raiva esta crescendo porque ele não tem a quem culpar se não a si mesmo. Ele começa a repensar se quer realmente aquilo, se está realmente disposto. O primeiro pensamento é: "eu não vou aguentar isso por muito tempo."

Um de seus amigos diz que desistiu, que a dor não vale a pena, que há outras habilidades para se desenvolver que não doem tanto, outro diz que é assim mesmo, que passou por isso e com o tempo ficamos mais resistentes a dor. Ele ouve um, ouve outro, mas está difícil pensar em meio a tanta dor.

Ainda de pé, com a cabeça erguida e com a postura que um homem tem que ter, o aprendiz olha para a tábua manchada com seu sangue tenta raciocinar em meio a sangue e suor. É difícil pensar no momento de dor, principalmente se o assunto sobre o qual você está pensanodo é a própria dor, é difícil refletir olhando para o seu próprio sangue!
Se ele parar, poderá evitar a dor, e realmente existem muitas outras coisas para fazer além de Muay Thai, mas será que o treino de todas é indolor? E se ele não se acostumar com a dor, o que será dele nos momentos em que ela vier? (pois ela virá, mais cedo ou mais tarde).

Se ele continuar, não sabe se vai conseguir aguentar o treino até o fim, e corre o risco de se machucar sériamente, inclusive de prejudicar seu corpo permanentemente, sua perna pode nunca mais ser a mesma, ele pode ter contusões sérias durante as lutas e, no pior dos casos, morrer. Pode perder a vida na tentativa de se tornar o melhor, na tentativa de simplesmente evoluir.
Mas ele mesmo disse que queria, quando decidiu que terinaria Muay Thai e seus amigos disseram: "Mas você sabe a desvantagem não sabe?" E ele disse: "eu sei, mas estou pronto." mas uma coisa é ouvir a frase "fragmentação do osso" e outra é dar um chute numa tábua de madeira. Você não entende uma coisa através da outra assim fácil, é preciso passar pela experiência.

A dor maior não é a da canela, é a do orgulho, ele fez a escolha, ele disse que aguentaria, agora, independente de suas indecisões, dores, dilemas e pensamentos, ele tem que continuar. Não porque quer ser o melhor, não porque quer ser campeão, agora que começou o treino ele sabe o abismo que existe entre ele e os mehores. Não vai mais treinar para ganhar campeonatos ou dar aulas, vai treinar porque ele é um homem, um homem que disse que conseguiria.

E ai dele se chorar no processo. É melhor desmaiar de dor do que chorar por causa dela, não pode mostrar que não está aguentando, ele sabe que o arrependimento momentâneo e o receio de dar mais chutes é um problema dele, ele não pode culpar a ninguém pela dificuldade do treino ou sua falta de força.
Então, em meio á uma dor indescritível, ele olha para a tábua, respira fundo, fecha os olhos e se prepara...
...para o próximo chute....

Um comentário:

  1. es pura verdade, lutamos nao para ser o melhor mas sim pra superar nossas fraquezas, as dores etc

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