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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Polis


Comentaram neste blog um dia que eu poderia escrever sobre política, e acho que, indo pela via filosófica, esta seria uma boa tentativa.

Aristóteles foi um filósofo bastante prático, não estava preocupado com o funcionamento metafísico do universo como os pré-socráticos ou com ideais perfeitos como platão. Ele queria usar a filosofia na prática, para melhorar as relações sociais e a política em geral. Não queria saber do "perfeito", do "modelo" ou de conceitos inalcançáveis que apenas nos lembram de como somos imperfeitos. Ele pensava sobre o que seria a melhor maneira possível, pois o impossível era perda de tempo.

Um conceito muito interessante de aristóteles era o de polis. A polis não é somente um espaço físico, ou um aglomerado de pessoas. É uma rede social interconectada não só por necessidade mas também por amizade. Ele dizia que para uma polis saudável era preciso haver amizade entre os homens e que todos deveriam se tratar com respeito e consideração como tratariam irmãos, pois assim uns sempre se preocupariam com os outros.

Disse também que uma polis não pode ser grande demais senão as pessoas aos poucos vão perdendo essa conexão umas com as outras, perdendo a noção de interdependência e criando uma ilusão de individualidade que fará com que a polis desabe e vire apenas um aglomerado de solitários que não conhecem uns aos outros nem se importam uns com os outros.

Uma descrição que se encaixa com assombrosa perfeição na atualidade, Aristóteles viveu a 2.300 anos atrás e, como um homem prático, percebeu os fatores que poderiam ruir uma sociedade.

O que aconteceu com a polis de Aristóteles?
O que aconteceu com a amizade entre homens?
O que aconteceu com o respeito e a consideração?

A resposta é: nada. O que aconteceu foi o crescimento populacional e a avanço da tecnologia.

No tempo de aristóteles as sociedades não eram do jeito que são hoje, óbvio, mas isso não quer dizer que todos se tratavam como irmãos. E sabendo disso, Aristóteles discursou sobre a necessidade de leis.

Se não temos moral e ética internamente, estas precisam ser impostas externamente á nós através de leis. Se sabemos que o homem pode matar temos que fazer uma lei (com punição) para os que matam, se sabemos que os homens estão roubando, temos que criar leis e punições para roubo. Se a natureza do homem fosse altruísta, pacífica e serena, não precisaríamos de leis, isso quer dizer que quanto mais leis um povo tem e quanto mais complexas elas forem, pior é o estado moral dessa sociedade.

Nós, aqui no Brasil, estima-se que haja cerca de dez milhões de leis. Incluindo todos os tipos de normas em todas as esferas de poder e áreas de atuação. Desde leis trabalhistas e criminais até códigos de defesa do consumidor e constituição federal.

É muita lei.

E segundo Aristóteles isso é um péssimo sinal. Se essas leis estão aí é porque precisam estar, se precisam estar é porque não temos interiormente as restrições morais que essas leis trazem, se não temos isso nossa polis deve ser um caos, uma selva, onde é cada um por si e todos tentam achar brechas nas leis e normas para vantagem pessoal. Uma polis onde, se há a probabilidade de impunidade, o risco da transgressão vale. O excesso de leis cria uma nova lei no inconsciente coletivo, a lei de "não ser pego."

Mais uma vez parecia que os Gregos assistiam Linha direta, casos de família e os escândalos de corrupção. Parecia que os filósofos políticos da época sabiam como as coisas poderiam desandar com o crescimento desenfreado da sociedade e avanço da tecnologia, parece que sabiam o resultado da falta de noção de coletividade.

É possível uma polis sem leis, que conte apenas com o bom senso de seus integrantes? A grande maioria das pessoas concorda que não, mas então, sejamos práticos como Aristóteles, se isso é impossível,

o que é possível?

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