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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Pombos e pessoas


Burrhus Frederic Skinner era um psicólogo cujos experimentos e estudos foram muito usados por várias áreas da pedagogia e psicologia. Ele tinha como objetivo compreender o comportamento humano e um dos experimentos dele acerca de comportamento operante foi mais ou menos assim:

Ele colocava pombos em pequenas gaiolas com um botão que liberava comida caso pressionado. Porém os pombos rapidamente aprendiam que teriam comida se o fizessem, logo, perdiam o interesse pelo dispositivo assim que tivessem comida o suficiente. Caso ele colocasse a comida para ser liberada em intervalos de tempo regulares, os pombos também poderiam assimilar este padrão e apenas esperar pois saberiam que a comida estaria a caminho. Então, como manipular o comportamento do pombo?

Simples, é só liberar comida em intervalos de espaço irregulares. Dê premiações aleatórias e os pombos vão associar as premiações com o que eles estavam fazendo na hora de receber comida, como virar a cabeça, voar pela gaiola ou apertar o botão. Mas você não pode dar o prêmio sempre, apenas de vez em quando, para que ele não perca o interesse nem nunca esteja totalmente satisfeito.

Alguma coisa te soa familiar? Vamos revisar o experimento e suas possíveis conclusões: se eu quero estimular um comportamento, tenho que dar recompensas por ele sem estabelecer nenhum padrão, pois assim que minha cobaia perceber o padrão, ela não se comportará da maneira que quero, logo, assim que obtiver o comportamento desejado, eu o premiarei aleatoriamente de modo a nunca deixá-lo plenamente satisfeito.

Máquinas de caça-níquel, jogos de sorte e diversos jogos de vídeo-game exploram exatamente esse princípio para manter você fazendo o que eles querem que você faça, deixar em você esse pensamento de "tudo bem, não foi dessa vez, mas pode ser na próxima." é o melhor jeito de perpetuar um comportamento ou ação. Que graça teria jogar se você sabe quando vai vencer e quando vai perder? Que graça tem uma experiência quando se percebe o padrão nela?

É através desse mecanismo de associação muitas indústrias se mantêm aquecidas, que muitas religiões se mantêm de pé, pois as pessoas se encantam pelo imprevisível, pelo desconhecido, por aquilo que não tem resposta, não tem explicação. O mistério nos seduz em todos os níveis de nosso ser, a incerteza é excitante por si só. A pergunta que já foi respondida não tem mais graça, o fato que já foi analisado e virou conhecimento já não é mais assunto que está na boca do povo, as discussões mais acaloradas se dão onde não há consenso, onde nosso conhecimento ainda não chegou, nosso interesse está naquilo sobre o qual ainda não temos conclusão.

Mas além de tudo isso, é impressionante ver o modo violento com que esse mecanismo é capaz de afetar relacionamentos. É de cair o queixo a habilidade que algumas pessoas têm de estimular o comportamento que querem dos seus parceiros, assim como é quase inacreditável a inabilidade que outras tem em fazer o mesmo. Nunca deixar o outro totalmente satisfeito, para que ele não perca o interesse, mas mantê-lo provido o suficiente para que ele não saia dali. Não deixar o outro ter certeza de nada através da abolição do padrão. Tudo isso parece maquiavélico demais para ser verdade, mas acontece todo dia. É possível que você tenha feito isso algumas vezes.

Mas acho que temos potencial para sermos muito mais do que pombos de Skinner sofisticados. Estar ciente que as outras pessoas tem sentimentos e não são meras cobaias a mercê das nossas necessidades emocionais ajuda um pouco. Humildade e indulgência também são boas ferramentas para começar. Mas outra pergunta muito importante é: qual é o comportamento que foi convenientemente programado para você?

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