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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Dois discursos

O discurso dos livros de auto ajuda geralmente é esse:

Você é especial. Você é diferente. Você tem o poder de mudar sua vida a qualquer momento que realmente desejar. Você tem potencial para ser e fazer o que quiser. Com força de vontade e acreditando em você mesmo, você pode tudo. Você é um ser maravilhoso que pode mudar a vida de muitas pessoas para melhor, inclusive a sua. Mesmo que sua realidade atual pareça limitada ou negativa, você pode transcender isso apenas com o seu pensamento positivo e abrir portas para uma vida nova, plena e feliz.

Seus sentimentos são sua bússola, guie-se por eles: ame, ria chore, pule, dance, brinque como se não houvesse amanhã, como se não houvesse ontem. Aproveite o agora, o momento. Apaixone-se! Se não der certo, bola pra frente, se der, comemore. A vida foi feita para ser vivida, arrisque, tente, viva. Não se deixe levar por medos. Supere-os e continue desfrutando tudo que a vida tem para oferecer. Carpe Diem!

Eles não ganhariam muito dinheiro se falassem assim:

O universo tem bilhões de galáxias, e as galáxias tem bilhões de estrelas e muitas dessas estrelas tem planetas girando em torno de si. E um desses planetas é a terra, que tem bilhões de habitantes. Um desses habitantes é você. Um pequeno e insignificante amontoado de carbono que vai, assim como todo mundo, morrer um dia, independente de como viva sua vida.

Você não é especial, é um ser humano como qualquer outro. Com os mesmo direitos e deveres que qualquer outra pessoa, seja ela mais ou menos talentosa que você, seja mais ou menos feliz que você. Independentemente do que você acredite, a natureza vai seguir seu curso natural, e você está sujeito as leis da física como qualquer ser no universo.

Você está muito provavelmente amarrado pelo seu ego, seu orgulho e sua necessidade de aprovação externa. Isso gera uma grande quantidades de problemas dos quais você nunca vai conseguir se livrar por completo até o fim da vida, apenas atenuá-los caso seja uma pessoa sensata.

As pessoas não estão necessariamente limitadas por sua capacidade financeira, o lugar onde nasceram ou sua educação. Mas estão limitadas por sua própria disciplina, força de vontade e disposição. Algumas pessoas tem mais, algumas pessoas tem menos, você pode ser do grupo que tem menos, e se for, nunca vai ser uma pessoa de sucesso duradouro, nem arranjar um bom casamento ou educar bem os seus filhos. Nem todo mundo no mundo tem potencial para ser uma pessoa feliz e bem sucedida, alguns nascem pra morrer na praia, e você pode ser um deles.

Na sociedade de hoje, que é utilitária, não ha espaço para pessoas 100% egoístas ou 100% altruístas. Os egoístas tem que pensar nos outros de vez enquando, nem que seja por interesse pessoal (dar um pouco só para receber depois). E os altruístas tem que pensar um pouquinho em si mesmos, por uma simples questão de sobrevivência. Não existe a utopia de pensar só no outro de fazer o bem sem olhar a quem. Quem pensa só nos outros é explorado, quem pensa só em si mesmo é odiado.

Você é um pouco egoísta, e isso é bom, significa que você vai sobreviver, pois a vida é uma selva. Ninguém além de seus pais querem seu bem incondicionalmente. Se você não der um pouco do que as pessoas querem (atenção, consideração, carinho, lealdade), elas te abandonarão, e isso é natural, mantem a via de mão dupla nos relacionamentos. Todas as pessoas querem algo de você: umas querem coisas simples como sua amizade, sua consideração e seu respeito. Outras querem sua fidelidade, seu apego, seus sentimentos de paixão e carinho, outros querem seu dinheiro, outros não querem nada, esses são os mais confiáveis. Mas são muito raros. Se tiver sorte pode até encontrar um na sua vida interia.

O processo de aprendizado se dá da mesma maneira com todos os animais, inclusive com o homem. Quando você é criança, você cai, aprende a andar e depois evita novas quedas. Você se queima e aprende que não deve por a mão no fogo. Isso é experiência vivida.

Mas há algumas coisas que não precisam ser vivenciadas, você não precisa experimentar todo tipo de drogas para saber que elas fazem mal. Isso é experiência transmitida.

Independente do tipo de aprendizado, por experiência transmitida ou vivida, eles servem para prevenir danos. Pense antes de agir, antes de falar, antes de se apaixonar. Evite danos desnecessários ao seu estado emocional e ao seu corpo. Medos são dispositivos que milhares de anos de evolução nos deram para que pudessemos nos prevenir contra danos desnecessários, para que púdessemos sobreviver.

Seja cauteloso e use seu passado como referência para prevenção de danos, até bebês aprendem a não botar a mão no fogo diversas vezes. Se quiser sair ileso, ou pouco machucado da batalha que é a vida, seja cético.

É claro que entre a realidade e a utopia: temos um equilíbrio.

Não sou adepto de viver a vida no segundo discurso, muito menos no primeiro. Só tenho 20 anos e não tem como eu dar um único veredicto sobre o que é a vida e como ela deve ser vivida. Mas sei que se dentro da vida encontramos equilíbrio como a resposta para tudo o que ela proporciona, acredito que a própria vida, filosoficamente falando, seja regida por algum tipo de equilíbrio.

Do equilíbrio, eu não sei.

Mas sei que estes são os extremos.

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