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domingo, 11 de julho de 2010

Metáfora IV


Pular de para-quedas é um daqueles esportes radicais que a pessoa diz que se sente "viva" devido as descargas de adrenalina que recebe quando pratica. Várias pessoas praticam este esporte por vários motivos diferentes, mas todas tem uma visão parecida de que, mesmo que tenha lá seus riscos, eles compensam o prazer de pular.

Isso é para os que não tem medo de altura.

Para quem tem medo de altura pular de para-quedas não é uma atividade nem um pouco prazerosa, muito pelo contrário, é extremamente traumática e agoniante. Você pode falar para a pessoa sobre todos os prazeres de se pular, da adrenalina, da vista no avião e da sensação do vento no rosto durante a queda, mas isso não vai anular o medo, isso não vai fazer a pessoa desconsiderar seu desconforto pelo simples fato de que...

...o medo é maior que a pessoa.

Não é uma questão de opção, não é porque falta vontade ou disposição na pessoa, pouquíssimas pessoas no mundo tem força de vontade o suficiente para superar seus medos, e geralmente isso acontece em situações de extremo risco ou quando as pessoas tem um motivador externo anormalmente forte.

Caso contrário, medo não é algo que você simplesmente ignora, como uma pedra no sapato. São como correntes de aço que te prendem. A pessoa pode até concordar em pular num primeiro momento, pois ela pensa racionalmente que pode ser algo bom, e que pode valer a pena. Ela pode até entrar no avião e observá-lo ganhar altitude. Mas no momento do salto, a pessoa vai começar a congelar. No momento em que a pessoa estiver frente a frente com a imensidão do céu, suas mãos vão se prender na porta e ela estará totalmente paralisada. Incapaz de fazer qualquer coisa.

Não será nem um pouco divertido se a pessoa for empurrada. O susto, o medo, o desconforto, a sensação de ter entrado numa situação que não se pode mais sair é absolutamente aterradora. Geralemente, o amante do esporte que empurrou o medroso sente que fez um favor a ele, sente que fez uma boa ação ao incentivá-lo, que assim um pouco do medo dele foi dissipado por ele perceber que na verdade pular é algo simples.

Mas não é bem assim que funciona na cabeça do acrofóbico. Grande parte do prazer de pular será anulado pelo medo e ao invés de dissipar a fobia, ela é fortalecida com a sensação de desespero, impotência e insegurança. Da próxima vez, pular será ainda mais difícil, pois fobia é uma coisa acumulativa, ela se fortalece com o tempo.

E o esportista fica boquiaberto, sem entender como pode uma pessoa ter tanto medo, como é possível ter tanta dificuldade para fazer algo tão simples, como uma pessoa é capaz de sentir tanta coisa negativa durante um processo relativamente curto?

Mas o esportista nunca vai entender, afinal ele vê aquilo como um esporte, o emocional não o atinge, ele nunca poderá se colocar no lugar do acrofóbico pelo simples fato de que ele nunca sentirá o medo que uma pessoa com fobia sente. E isso leva á uma pressão social, afinal se tantas pessoas pulam de para-quedas, porque essas poucas tem medo? Se é uma coisa banal, simples e prazerosa, com poucos riscos, por que a fobia? Essa incompreensão se reflete no acrofóbico e o faz pensar: "Deve haver algo de errado comigo, afinal pular é algo que qualquer um deveria fazer sem problemas"

Esse pensamento é o primeiro de muitos outros negativos, logo o acrofóbico vai começar a desenvolver um complexo de inferioridade pois seu ego não encontrará respaldo nessa atividade. Sua auto-imgaem vai ser danificada pela sua inabilidade em fazer aquilo que todos fazem e ele se sentirá inevitavelmente inferior.

Alguns se dedicam a outros esportes menos perigosos, outros mentem, criando histórias falsas de que são bons saltadores, mas o para-quedismo sempre vai ser o pesadelo desse tipo de pessoa.

E é aí que eu te pergunto...

A acrofobia é culpa do acrofóbico?
Sua inabilidade é sempre resultado de falta de força de vontade?
Ele tem que ser empurrado para dentro de um avião para "enfrentar seus medos"?
Quando um esportista o empurra na hora do salto, ele está fazendo um favor?

E o mais importante...

VOCÊ o empurraria?

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