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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Esperança


O algoz que se encarregou de eliminar sonhos e sentimentos ocupa suas calejadas mãos com seu serviço sujo noite e dia. Uma enorme fila de tudo aquilo com o qual sonhei e tudo aquilo que construi esta perante meus olhos. Uma fila para a morrer nas mãos do carrasco que é a solidão, eliminando a sangue frio um por um. Alguns com expressões vazias nos rostos, outros chorando, mas todos parados, aguardando seu destino. Ninguém tenta correr, ninguém tenta escapar do destino pois sabem que é inútil. As garras do carrasco alcançam longe e a morte de desertores é muito mais violenta. É mais fácil aceitar de cabeça baixa, não se debater muito nas garras da morte para não sofrer torturas adicionais. A longa fila parece não ter fim e a cada dia, seus integrantes dão um passo lento e arrastado em direção ao carrasco. Mas por mais longa que seja a fila, ela não é infinita, há um fim para esse desfile de rostos desolados e lagrimas frias. Lá no fim, com uma aparência limpa e serena esta ela, radiante em sua ingenuidade (ou confiança não sei bem). Ao contrário de seus companheiros que morrerão primeiro, ela não tem roupas sujas e marcas de guerra. Não esta maculada com as cicatrizes do conflito que trouxe todos eles para o corredor da morte. Ela tem um leve sorriso no rosto e olha para frente como se um horizonte lindo a esperasse, a cada decapitação, ela sequer pisca, continua chegando mais e mais perto do homem que esta ali para lhe tirar a vida. Fico me perguntando se sua serenidade e confiança serão recompensados no fim , pois com o passar do tempo todos morrerão, todos. Eventualmente, será a vez dela. A ultima que morre.

O curioso é que ela é a única capaz de reviver todos os seus predecessores. Se algo interromper a lâmina do carrasco antes de sua execuão, ela, sozinha, pode trazer de volta a vida todos aqueles que o tempo está ceifando. Eles voltarão com cicatrizes, claro. Mas voltarão mais fortes. Toda fé dos condenados está nela, não há mais ninguém que posse lhes dar força nesse momento sombrio. A aurora de uma nova era será anunciada na hora em que chegar a vez dela de ter a cabeça decepada. Pois nesse dia, nesse momento, saberemos se ela, a esperança, fará jus ao seu otimismo e perseverança, ou se lamentaremos o dia em que ela, a última coisa que restava, morreu.

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