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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Hollywood, uma análise


O mundo muda, e rápido. Já não vivemos mais numa época em que casamentos eram arranjados com pretensões políticas e sociais, já não acreditamos mais em príncipes e princesas, já não atribuímos mais valores as mesmas coisas. Mas então, no que acreditamos? Com o que sonhamos? Nossa pré-disposição para seguir modelos continua forte como sempre, mas a questão é: quais são estes modelos? O que está lá no fundo da cabeça das pessoas como: o relacionamento perfeito? A vida perfeita?

Bem, se você quer analisar o modo de pensar de um povo observe o que ele produz culturalmente, vamos pegar o exemplo de mais fácil análise que existe: filmes, e de comédia romântica.

A esmagadora maioria dos filmes de comédia romântica que você viu termina em casamento (não necessáriamente com os protagonistas se casando, mas em um casamento). Isso já nos diz uma coisa: a visão hollywoodiana de relacionamento propõe uma inversão da realidade, onde os conflitos, mal-entendidos e brigas acontecem durante o namoro e o processo de conquista, e acabam quando você encontra aquela pessoa e casa. Não preciso enfatizar muito o fato de que na vida real é exatamente o oposto, namorar é relativamente fácil, os primeiros meses de um relacionamento são banhados em dopamina. Casamentos hoje em dia costumam acontecer justamente quando o efeito deste pózinho mágico acaba, e é justamente nesse período que você será testado. Pense bem, todas gostosas situações inusitadas, processo de conquista e coincidências maravilhosas que recheiam os filmes de comédia romântica são exageros cômicos de situações FORA DA ROTINA. É como se o universo conspirasse para que o casal passasse pelo maior número de emoções possível antes de ficar junto definitivamente, dando a sensação de que namoro é uma louca montanha russa de altos e baixos e casamento é o período da paz. Não se engane, é exatamente o oposto.

Dentro dessa visão distorcida, nós temos outro problema de valores: a falta de disposição para auto aperfeiçoamento. Em Hollywood, a sua melhor qualidade não é fidelidade, paciência ou maturidade. Para eles sua melhor qualidade é a sua espontaneidade, ou seja, falar e fazer o que lhe vem a mente sem as máscaras sociais que estão lá justamente porque as pessoas as botaram lá. Ela é mais valiosa que qualquer outra virtude ou qualidade no mundo hollywoodiano (Sim, mais até do que fidelidade, como visto no fim do filme "Dizem por aí" com Jennifer Anniston, ou tato social, como visto em "Qual seu número" e "A verdade nua e crua"). Personagens que se mostram espontãneos são semrpe colocados como pessoas infinitamente mais interessantes do que qualquer outra pessoa que tenha qualquer outra qualidade, inclusive aquelas que todos nós pensamos ser imprescindíveis para se levar um relacionamento. A industria do cinema está te dizendo que aquele cara canalha, desorganizado, indisciplinado e que não tem um bom emprego, é um cara melhor que os outros pelo simples fato de que ele é ELE MESMO, e não quer impressionar ninguém, nem tem vergonha de ser o que é.

Epa, pera um pouco. Se o cara não quer impressionar ninguém, tem orgulho de agir do jeito que age, diz e faz as coisas do modo que lhe convém sem se preocupar com reprimendas socias, o que você acha que vai acontecer quando o fogo inicial da relação esfriar? Que essa pessoa irá pacientemente trabalhar na manutenção da relação em prol do bem comum? Ou será que o egoísmo inerente desse tipo de pessoa vai falar mais alto e ele vai pular fora do barco o mais rápido que puder? Eu não sei quanto á você, mas eu tenho minhas dúvidas.

Partindo deste ponto, vamos seguir em frente e chegar no mais importante deles, a escolha. Nos filmes, o casal principal sempre é forçado a ficar junto sob algum tipo de situação adversa ou peculiar e durante esse processo a empatia vai naturalmente aflorando até que eles descobrem gostar um do outro (mas isso nunca acontece com os dois ao mesmo tempo), assim que os mal entendidos acontecem, um dos dois fica puto e vira as costas para a situação. Então no final do filme, há a clássica corrida pelo amor, onde o protagonista geralmente atravessa meia cidade de bicicleta (qual seu número; o virgem de 40 anos), corre á cavalo (o melhor amigo da noiva), atravessa um lago a nado (must love dogs), ou invade um avião prestes a decolar (maldita sorte) para encontrar seu amor, confessar seus erros e viver feliz para sempre. Óbvio que Hollywood nunca opta pelo mais simples como SMS, telefonemas ou e-mails, não teria graça, ela faz questão de inclusive colocar algumas situações em que a pessoa fica tão absurdamente incomunicável que a única solução é uma corrida desesperada sob meios de transporte exóticos (que normalmente terminam em alguém se molhando, ou se sujando muito).

Isso é uma metáfora para a tão importante hora da escolha, segundo a percepção atual, assim que você souber que aquela é a pessoa certa, tem de fazer tudo, tudo, mas tudo mesmo para conseguir conquistá-la, inclusive comprar uma briga (bridget jones) ou tentar subir num carro em movimento (hitch, conselheiro amoroso). A corrida final simboliza o sacrifício que você deve estar disposto a fazer caso queira um amor eterno. E isso soa bonitinho, mas o problema é justamente a interpretação do que é "estar certo de que aquela pessoa é a certa". Nos filmes, sempre aquilo que leva o personagem á calcular o custo benefício de estar ou não com aquela pessoa é extremamente arbitrário, basta uma rápida noitada com a "pessoa errada" ou até uma breve reflexão de 15 minutos sozinho em casa para que a conclusão chegue.

Mas essa sensação que invade nossos queridos protagonistas chama-se carência, e ela vai te invadir no fim de qualquer um dos seus relacionamentos, por mais destrutivo que este seja. Toda a reflexão necessária para se chegar a conclusão de quem deve ser a pessoa á ficar do seu lado leva muito mais tempo e passa por muto mais fases do que um filme de 90 minutos poderia expor, portanto ela é resumida num breve suspiro profundo que o personagem dá se olhando no espelho logo antes de sair correndo atrás de seu verdadeiro amor. E mesmo depois de chegar a essa conclusão, você ainda pode estar errado, pois uma pequena coisa que Hollywood não costuma enfatizar é que só porque a pessoa é certa para você, não quer dizer que você seja certo para ela. A verdade é que você nunca vai ter 100% de certeza, você nunca vai poder apostar todas as suas fichas cegamente, pois a sensação que você tem ao terminar um relacionamento de longo prazo é sempre a mesma, porém, acompanhada de pensamentos diferentes. Não existe uma informação X ou uma sensação Y que seja o critério de decisão final, é tudo uma soma imensa de inúmeros fatores que são tão individuais que seria ridículo tantar expô-los aqui.

Esse é o nosso primeiro problema, perdemos totalmente a noção de que metade de um relacionamente depende de nós mesmos, e que o início de um relacionamento de longo prazo não é nem a ponta do iceberg com o qual você tem que estar preparado para lidar se quiser conviver com outra pessoa. Achamos que tudo se resume em seja você mesmo e siga seu coração. Você tem um defeito? Não se preocupe em melhorá-lo, basta achar alguém que o tolere! Ou pior ainda: você tem um defeito? Não se preocupe, assim que encontrar aquela pessoa ele será removido de você com precisão cirúrgica, bastará uma situação irônica com seu grande amor para abrir seus olhos para a maturidade. Cuidado com o que você anda pensando acerca do que é ser feliz, isso pode estar, sem querer, afetando o modo como você vive sua vida, e também...

...o modo como você molda seus sonhos.

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