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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Metáfora III


Vi que os ventos da mudança sopraram contra as minhas frágeis expectativas, desmanchando-as como um leve delicado castelo de cartas, antes mesmo que terceiros pudessem apreciar sua beleza. Ironicamente, suas bases não foram construídas por mim, apenas continuei edificando o que já estava lá.

Então, devido a adversidades além de meu alcance, tudo aquilo que as expectativas haviam trazido já não me era mais conveniente. Eram etéreas e vazias, como fantasmas. Não iriam se realizar apenas atormentar-me. Pelo menos foi o que pensei.

Sufocados em seu próprio berço pelo seu próprio pai, os sentimentos faleceram no anonimato, marcando a data de minha libertação. Abria as asas do desapego com uma mistura de pesar com ressentimento, que logo depois cedeu seu lugar ao alívio: foi quando a suposta mãe destes sentimentos foi comunicada tanto de seu nascimento quanto de sua morte.

Não sei se foi esse comunicado que desencadeou os eventos que o sucederam, mas sei que durante este mesmo período de libertação, os ventos da mudança decidiram alterar seu curso novamente. Apesar de saber quando, não sabia como havia acontecido, mas desta vez a mudança não me parecia tão desfavorável.

E foi então que, como uma brilhante e gloriosa fênix, eis que a paixão ressurge em todo o seu calor. Queimando todas as amarras de razão e justificativas lógicas anteriormente estabelecidas para contê-la. Alimentada por agentes préviamente inexistentes, essa fênix queima tudo que a toca, inclusive a si mesma. Fico pasmo observando minha certeza e minha segurança desfalecerem perante meus olhos com tal rapidez. As cinzas que demarcavam seu túmulo agora se espalham pelo ar e poluem minha visão do todo.

Quando presumi que estava completamente imune a tudo aquilo que pensei refrear, percebo três coisas imensamente importantes...

Uma é que por mais que anseie tal coisa, não posso abater meus sentimentos. Estes devem perecer por morte natural, causada por falta de forças e fome. Devem definhar com o tempo até serem ofuscados por outro maior ou esquecidos. Meu crime foi punido com o retorno do fantasma que representa meus medos e inseguranças, implacável na sua única função de assombrar-me. O grande dilema é que, o fantasma e a fênix são a mesma entidade.

A outra é que a razão de seu renascimento reside na minha própria ingenuidade. A mão que ceifa a vida de minha criação tem de ser uma e apenas uma: a de sua co-criadora. Nem cinzas restarão de sua aniquilação caso o seu fim seja ditado por ela. Será um movimento fulminante e único, uma morte rápida e definitiva.

E a terceira é que, assim como ela traz a morte definitiva do grande pássaro, ela pode trazer-lhe a vida. A fênix deixaria de ser um fantasma, suas chamas parariam de queimar suas próprias penas e sua longevidade se extenderia indeterminadamente. Ela seria livre para voar fora dos limites de minha consciência, e se alimentar fora dos limites de meu coração.

Este pássaro ígneo e fantasmagórico transcendeu todas as minhas tolas tentativas de conter seu poder e parece desafiar-me com seu fogo, combatendo minha razão ao extremo. Como sei que não posso subjulgá-lo, seu renascimento marcou o limiar de uma nova e intensa batalha. A aniquilação das expectiativas tem agora uma contagem regressiva para acontecer. Apenas a velocidade e a intensidade de sua morte ainda não estão definidos, estes dependem de minha escolha:

Se eu optar por inércia e inação, o silêncio será um assassino silencioso e cruel, agindo como um forte veneno, intoxicando lentamente até o momento da desilusão causada por terceiros. Gerando remorso, ódio e rancor.

Se for ação, palavras e gestos serão os golpes arrasadores que evidenciarão o fracasso do canto da fénix. Gerando vergonha, humilhação e frustração.

Mas o fracasso não é, nem nunca foi o único resultado possível de alguém que escolhe agir, e é em sua alternativa que mora a dualidade do meu presente, uma alternativa puramente hipotética, assim como todas as previsões da vida, uma idéia que soa pretensiosa e tendenciosa, mas que não parece deixar de me fascinar.
A idéia de que haja outra fênix do lado de lá...

3 comentários:

  1. *.* Eee eu qe sempre me fascinei por FêniX ( as 2^^ )

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  2. *.* Eee eu qe sempre me fascinei por FêniX ( as 2^^ ) Nao posso deixar de dizer o quaaanto gostei do texto.

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