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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Desabafo ás chamas


Pássaro ígneo que me aquece neste inverno que parece não ter fim. Quão orgulhoso sou de vossa chama. Por vezes desconfiei de tuas capacidades, imaginando que não seria capaz de me proteger, mas por fim me vejo enganado. A ave imortal aumenta seu poder mágico a cada vez que renasce, e eu posso dizer com segurança que já foste ceifada inúmeras vezes.

Quantas viagens já te deixei morrer? Em quantas outras eu mesmo fiz questão de te matar, para nos poupar sofrimento? E aquelas em que uma estranha que jurou nos ajudar e logo depois, lhe tirava a vida friamente?

Todas estas vezes, eu vi tua chama se apagar, vi suas belas penas se transformarem em meras cinzas, que quando levadas pelos ventos frios do inverno revelavam uma jovem e desprotegida ave, mais forte do que sua antecessora. Todas essas vezes eu chorei sua morte de joelhos, em todas estas viajens fiz questão de lhe dedicar momentos de silêncio, pelas tantas vezes em que morreste por mim.

Me pergunto se teu magnífico poder é uma bênção ou uma maldição. Uma vez que não conhecemos outra ave que se equipare á ti. Nenhuma outra chama aquece como a tua e nenhum outro brilho brilha como o teu. O excesso de fogo mágico traz uma estranha sensação de solidão, não é, minha querida amiga? Nos dá a sensação de que se o vento soprar forte o suficiente para apagar tua chama, será o fim, pois se o teu fogo, que é o maior de todos, se vê ameaçado, o que será das outras pobres aves que não morreras como você morreu, para renascer em glória com maior poder? Ás vezes temos a incômoda sensação de que só podemos contar um com o outro.

Gostaria de pedir perdão minha querida, perdão por exigir tanto, por lhe fazer me acompanhar em todas essas jornadas sabendo que tu encontraria o fim de inúmeras maneiras diferentes, todas dolorosas e lentas. Acho que esta é a maior das desvantagens em ser uam fênix, nunca se tem uma morte rápida.
Mas compreendes que se hoje tu és poderosa, foi porque lhe forjei assim, não é? Consegues enxergar que só teu fogo pode aquecer duas pessoas ao mesmo tempo, não é? Não lhe criei para vôos baixos minha querida, não lhe vi morrer para posteriormente viver empoleirada num castelo, minha cara. Não, através de ferro e fogo eu criei uma ave robusta para fazer jus ao nome que tem. Nenhuma ave minha se envergonhará de suas próprias penas, nenhuma ave minha perderá o fôlego durante um vôo, nenhuma ave minha será impedida de voar por ventos ou trancafiada numa gaiola da realeza.

Não, não... nossas viagens nunca tiveram o intuito de gerar riquezas, nossas jornadas nunca visaram acúmulo de itens preciosos, nunca fiz nada em minha vida que não fosse direta ou indiretamente, dedicado á você. Todas as lágrimas que derramei foram para lhe fazer crescer, todas as gotas de suor que produzi vieram de esforços direcionados á você, todo o sangue perdido em batalha foi para proteger você, não é a toa que você se tornou a única fênix que queima em todas as direções.

E hoje cá estamos, frente a frente com uma irônica tempestade. Os deuses aprecem olhar para nós e testar não só nossas capacidades, mas também nossa paciência para continuar viajando, lutando e vivendo. Cá estamos, protegendo um porto frágil das ondas que a chuva traz. Mas os Deuses são sábios, eles sabem que poucos poderiam fazer o que fazemos, não é, querida? Eles sabem que poucos poderiam se colocar entre uma cidade e uma tempestade. Se há alguém preparado para o trabalho, esse alguém é você, minha fiel companheira.

Vamos, abra suas asas e me faça orgulhoso mais uma vez. Faça valer as mortes que enfrentamos juntos, faça valer o fogo que arde nessas lindas penas. Levante vôo e vamos fazer o que nascemos para fazer, o que passamos nossa vidas fazendo:

Vamos voar.

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